Sinopse: Trata-se de uma reunião de histórias do início da carreira de Stephen King. Esta coletânea apresenta 22 contos os quais sugerem o terror psicológico. Ainda, os protagonistas se veem forçados a lidar com situações fantásticas em que o que está em jogo é a sanidade diante do inimaginável.
Fonte: https://www.amazon.com.br/Tripula%C3%A7%C3%A3o-Esqueletos-Stephen-King/dp/8539002841
Publicado em 1985, Tripulação de Esqueletos é um livro que reúne diversos contos de inicio de carreira de King, por acaso, esse livro também foi o primeiro contato que tive com o trabalho de King (eu li os primeiros contos desse livro, parei a leitura e então, li Carrie, a Estranha. Depois de um tempo, retomei a leitura de Tripulação de Esqueletos).
Diferente de Quatro Estações, que tem só quatro contos, esse livro tem 22 contos, por isso, resolvi falar dos que mais me marcaram.
O Nevoeiro: David sai com seu filho, Billy e seu vizinho para ir ao mercado mais próximo, um nevoeiro parece se aproximar e ele quer abastecer a casa. Quando eles chegam ao local, O Nevoeiro tomou conta do mercado e alguém que tentou sair, volta dizendo que tem alguma coisa estranha e perigosa dentro da nevoa. Algumas pessoas não acreditam e saem mesmo assim, mas ninguém tem certeza o que aconteceu com eles, embora as pessoas dentro do mercado, possam ouvir gritos. David e Billy resolvem ficar, junto com eles estão um diversificado tipo de pessoas que esperam que o nevoeiro passe, mas tudo piora quando o que está dentro do nevoeiro começa a se mostrar.
Como esse é o primeiro conto do livro, foi literalmente o meu primeiro contato com a obra do autor e a sensação que eu tive quando li foi a de que eu nunca tinha lido nada parecido com isso antes, tudo parecia tão absurdo, mas ao mesmo tempo, tão interessante.
Mais uma vez, King usa a velha premissa de colocar pessoas comuns dentro de situações absurdas, aqui, ele triplica esse sentimento, uma vez que a maioria das pessoas ali são estranhas e elas estão reféns de algo muito maior. É muito difícil dizer o que é mais aterrorizante nesse conto: o que está do lado de fora ou o que está do lado de dentro.
O conto tem personagens de origens e criações diferentes, que são obrigados a conviver dentro de um mercado, até o ponto em que atritos começam a surgir.
O mistério que King consegue exprimir no conto é impressionante e o leitor passa o tempo todo se questionando o que realmente está dentro do nevoeiro, da onde ele veio e porque ele veio. Também é inegável a criatividade do autor para descrever as criaturas que vivem dentro do Nevoeiro.
O Nevoeiro virou filme em 2007, pelas mãos de Frank Darabont (que dirigiu Um Sonho de Liberdade e À Espera de um Milagre) e se o conto tem seus pequenos pontos de esperança, o filme é extremamente pessimista, mas isso não altera a qualidade do produto (muito pelo contrario), em 2017, o conto foi adaptado para uma série, que não tem absolutamente nada a ver com a história original e que só durou uma temporada.
O Macaco: A premissa de O Macaco é um tanto quanto simples, mas nem por isso, menos macabra. O conto fala sobre um daqueles macaquinhos de brinquedo que batem pratos, que são muito famosos. A diferença desse macaco do conto para os outros, é que cada vez que esse bate seus pratos, uma pessoa morre.
O Macaco não é um conto longo, por isso não tem tanta construção de personagem, mas nem precisa, já que King usa uma imagem extremamente macabra: o do macaco batendo pratos.
Outra coisa que o autor faz aqui é usar um elemento do universo infantil, no caso um brinquedo, para assustar o leitor.
Sinistro e assustador, O Macaco é um conto rápido para ser lido de um fôlego só.
O Atalho da Sra. Todd: Em uma conversa com seu amigo, David, Homer, conta a história da Sra Todd, sua ex-patroa, que era obcecada por atalhos. A Sra. Todd procura atalhos com freqüência e embora ela conte a Homer sobre eles, ele não acredita.
Um dia, ele aceita ir com ela em um de seus atalhos, e o que ele vê é o suficiente para assombra-lo para o resto da vida.
Em muitos aspectos, O Atalho da Sra. Todd lembra O Nevoeiro, uma vez que os dois contos nos apresentam criaturas bizarras e sem explicações racionais, a diferença entre um conto e o outro é que nesse os personagens saem em busca de algo estranho e no final, acabam influenciados por isso e em O Nevoeiro, a coisa estranha encontra eles.
Esse conto não tem tanto suspense, mas é interessante ver a criatividade do autor para criar cenários e criaturas cada vez mais diferentes.
A Balsa: Quatro amigos (Randy, Deke, LaVerne e Rachel) resolvem nadar em um lago remoto, durante o outono, logo os quatro chegam a uma balsa e notam uma mancha de óleo na água, que parece estar atrás deles. Quando Rachel coloca a mão na mancha, ela gruda no seu braço e a puxa para si. Os três sobreviventes então, começam a pensar como eles podem sair da balsa.
Em a Balsa também vemos pessoas presas em situações que saem do seu controle, nesse caso, uma brincadeira normal de jovens, que acaba, de uma certa maneira, penalizada. Além disso, os quatro amigos estão em um lugar totalmente aberto, mas mesmo assim se tornam refém da mancha e não tem para onde fugirem.
O conto tem sim seus exageros e momentos um pouco desnecessários, mas é interessante e assustador na medida certa.
A Balsa foi adaptado para o cinema como um curta para o filme Creepshow 2, de 1987.
Sobrevivente: Richard Pine está fazendo um cruzeiro, com uma enorme quantidade de heroína na mala. Ele é impedido de chegar ao seu destino, quando o navio afunda e Richard consegue escapar e ficar em uma ilha. Sozinho, sem comida, sem recursos, mas com muita droga, Richard tenta sobreviver na ilha, mas ele quebra o tornozelo enquanto acena para um avião que está passando e percebendo que ele não teria como curar isso, ele amputa seu próprio pé e logo depois, ele percebe que essa é a sua chance de se alimentar.
Sobrevivente é escrito de maneira epistolar em primeira pessoa, através de um diário que Richard está escrevendo, o leitor se vê literalmente na pele de Richard, conforme lê pelo o que ele passa. Também acompanhamos a loucura que está pouco a pouco se instaurando na mente de Richard, seja pela solidão, seja pela droga.
É obvio que um conto que fala de auto canibalismo só pode ser um conto pesado, então, eu recomendo para quem tem estomago forte, já que a amputação do pé, é só o começo da história de Richard.
Sobrevivente foi transformado em um curta em 2011 e em um longa em 2012.
Vovó: George, um menino de 11 anos, é deixado sozinho em casa com sua avó, uma mulher obesa e praticamente moribunda, ele então, começa a pensar sobre todos os fatos estranhos que rondam a vida da avó, como o fato dela ter sido expulsa da igreja que freqüentava e de ter perdido seu emprego como professora, por ter livros “obscuros” e que muitas vezes sua vó gritava palavras estranhas durante a noite, que afetavam outras pessoas. O menino conclui que sua avó é uma bruxa, porém quando ele sobe no quarto dela, ele encontra a avó sem respirar. O que pode acontecer com um menino sozinho em casa com uma avó, possivelmente bruxa, e recentemente morta?
Aqui King usa de um elemento que geralmente está associado a coisas boas: a relação entre avós e netos, que são sempre lembradas pelos segundos com muito carinho, mas isso não é o que acontece com George, que nunca teve uma relação muito boa com a avó e que além de tudo, já a conheceu como uma mulher doente.
A idéia de colocar o perigo dentro da casa do protagonista é extremamente interessante, ainda mais se o perigo está disfarçado como uma senhorinha que parece completamente inofensiva. King também acena para um dos mais famosos arquétipos femininos (e feministas) da literatura: as bruxas.
Claro que Vovó é uma história de terror, mas também pode ser interpretada como uma história de luto em relação a perda de uma avó, afinal, encontrar a sua avó morta, quando você está sozinho em casa parece realmente assustador. Só por curiosidade, isso de fato aconteceu com King, que quando era criança, chegou na casa da avó materna e encontrou ela morta em sua poltrona.
Em 1986, Vovó virou um episodio no programa Além da Imaginação e mais tarde, em 2014, foi transformado em um longa metragem chamado Pacto Maligno, que foca muito mais na possível seita da avó do que na relação dela com George.
Os contos de Tripulação de Esqueletos são, em sua maioria, bem diferentes entre si, embora eles tenham em comum elementos de terror. O terror nesse livro, muitas vezes está escondido e muitos dos contos podem se enquadrar no terror psicológico, que é mais agoniante que o terror explicito. No caso dos contos que eu usei como exemplo aqui, nunca saberemos exatamente tudo o que está dentro do nevoeiro, embora King nos deixe ver algumas das criaturas e pela visão delas, possamos imaginar o que mais que poderia estar lá. Séria melhor que ele nos descrevesse tudo? Não, pois assim ele sanaria todas as dúvidas que plantou enquanto líamos o conto.
Além disso, é possível ver que a maioria dos contos falam de pessoas que são reféns de situações e coisas que elas não pediram para si próprias: As pessoas presas no mercado, Homer passando pelo atalho da Sra. Todd, os quatro amigos na balsa, Richard na ilha e George com a avó doente.
Embora nenhuma dessas pessoas tenham se colocado na situação de livre e espontânea vontade, elas não tem muita escapatória a não ser encararem o perigo que está a frente delas.
Nesse texto eu falei de apenas seis contos do livro, Tripulação de Esqueletos tem 22 contos, para todos os gostos e estilos, então, certamente um deles vai te agradar, mesmo que você não seja um grande fã de terror.
Tripulação de Esqueletos é um livro que é quase um presente para os fãs de King, com contos diversos, que passam do terror psicológico ao gore e que tem a potencialidade de agradar quase todos os gostos.
Capa comum: 854 páginas
Editora: Ponto de Leitura; Edição: De Bolso (3 de janeiro de 2011)
Idioma: Português
ISBN-10: 8539002841
ISBN-13: 978-8539002849
Dimensões do produto: 16,8 x 12 x 4,6 cm
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