Na continuação de Alice no País das Maravilhas, Alice (Mia Wasikowska) retorna ao país das maravilhas, aonde descobre que o Chapeleiro Maluco (Johnny Depp) corre risco de morte e que precisa da sua ajuda para desvendar alguns detalhes do seu passado.
O primeiro ponto que deve ser dito sobre Alice Através do Espelho é que o filme não tem absolutamente nada a ver com o livro de mesmo nome, e esse é um problema que remonta ao primeiro filme. No filme anterior, Alice já estava visitando o País das Maravilhas pela segunda vez e muitas das cenas que apareciam lá são cenas de Alice Através do Espelho e não de Alice no País das Maravilhas, enquanto outras cenas não estão em nenhum dos livros, portanto se você procura uma adaptação fiel dos livros de Lewis Carroll, os dois filmes, o de Tim Burton e o de James Bobin, não são uma boa escolha.
Isso por si só, não seria um problema, filmes são diferentes de livros por diversos motivos e quando se fala de uma história tão famosa e icônica quanto Alice no País das Maravilhas (e Alice Através do Espelho) é natural que se façam mudanças e inovações, se não seria tudo muito repetitivo.
O problema maior de Alice Através do Espelho é a trama que foi criada em cima dos personagens de Carroll. Alice, por exemplo, que já era uma adolescente no primeiro filme, é uma mulher adulta nesse segundo, que também é capitã de um navio, ela volta para casa depois de muito tempo no mar e descobre que sua mãe não tem mais dinheiro e que provavelmente vai ter que vender o navio aonde Alice trabalha. Alice então, viaja para o País das Maravilhas.
Lá, ela encontra um Chapeleiro Maluco, que até onde se sabe é uma figura que não envelhece, afinal, o tempo passa de maneira diferente no País das Maravilhas, morrendo. Alice procura o Tempo (Sacha Baron Cohen) para voltar no passado e desvendar segredos do Chapeleiro envolvendo sua família, ao longo do caminho, Alice também descobre coisas do passado da Rainha Vermelha (Helena Bonham Carter) e da Rainha Branca (Anne Hathaway).
A Alice dos livros é uma criança de na máximo, 9 anos, inclusive no segundo livro, que ela está mais velha, mas continua criança. Ela ser adulta não é um erro grave dos roteiristas, mas ela ser capitã de um navio, parece meio absurdo, ainda mais quando o filme se passa em uma época em que mulheres sequer podiam aprender a ler, que dirá passar meses no mar, comandando uma frota de marinheiros. Tudo bem, Alice Através do Espelho é um filme de fantasia, mas a ideia é fazer uma comparação entre o mundo real, aonde Alice precisa viver a realidade e o País das Maravilhas, aonde tudo é fantástico e maravilhoso.
O filme também parece respeitar a história dos chapeleiros, assim como fazer uma refêrencia a inspiração de Carroll para criar o Chapeleiro Maluco. Na era vitoriana, os chapeleiros usavam mercúrio na confecção dos chapéus, e faziam isso em lugares fechados, sem muita circulação de ar, o que causava neles uma centena de sintomas, como tremores, perda de coordenação, desordem na fala, irritabilidade, visão distorcida e ansiedade. Também foi por esse motivo que surgiu a expressão “Mad as hatter”(maluco como um chapeleiro, em tradução livre), que foi a inspiração de Carroll para a criação do personagem (que no idioma original atende pelo nome de Mad Hatter).
Para fazer jus a toda essa história, a família do Chapeleiro é uma família de chapeleiros, seu pai (Rhys Ifans) era responsável por fazer os chapéus da família real e é ai que o destino do Chapeleiro se une ao destino das duas rainhas e que nós, telespectadores, começamos a acompanhar como as duas irmãs pararam de se falar.
Os passados de todos os personagens são extremamente criativos, e não são, necessariamente errados, uma vez que nos livros não temos nenhuma informação relativa a isso, mas todos também parecem extremamente absurdos e completamente difusos dos personagens que os inspiraram. Talvez a ideia da produção fosse fazer um filme que explicasse a origem dos personagens que aparecem no filme original, o que não seria ruim, mas para isso, nem precisava de Alice.
Claro que o filme tem suas qualidades, ele é uma grande produção e por isso, conta com muitos efeitos e cenários elaborados, o que pode deixar o telespectador embasbacado, o País das Maravilhas realmente parece incrível e qualquer pessoa gostaria de fazer uma visitinha. Os figurinos também funcionam bem, embora não sejam bonitos e nem façam uma ligação direta com o primeiro filme ou com a ideia que se faz de Alice no País das Maravilhas.
Também é difícil avaliar as atuações, uma vez que grande parte do elenco aparece envolto em mais efeitos especiais e só parece perdido nesse enorme mar de computação. Todo mundo parece mediano e razoável e ninguém chama atenção. Anne Hathaway persiste na sua personagem cheia de trejeitos que já não funcionava no primeiro filme, e Johnny Depp repete pela milésima vez o mesmo personagem.
O filme também não funciona muito bem como um live action da Disney e embora ele tente se enquadrar na lista cada vez maior de live actions, do estúdio, ele parece feito em uma época em que ainda não se pensava muito sobre isso e tem características de uma versão bem diferente, tanto dos livros, quanto do desenho de 1951, que é relativamente fiel e bem superior aos filmes.
Alice Através do Espelho pode ser interpretado como uma versão do clássico de Lewis Carroll, assim como seu antecessor, no entanto, não é um bom filme e deixa o telespectador, mesmo aquele que não conhece muito sobre a obra original, frustrado.
Título no Brasil: Alice Através do Espelho
Título original: Alice Through the Looking Glass
Diretor: James Bobin
Gênero: Fantasia, Comédia
Nacionalidade: EUA
Ano: 2016
Duração: 1h50
Elenco: Mia Wasikowska, Johnny Depp, Helena Bonham Carter, Sacha Baron Cohen, Anne Hathaway