Adoráveis Mulheres acompanha as irmãs March: Jo (Saoirse Ronan), Meg (Emma Watson), Amy (Florence Pugh) e Beth (Eliza Scanlen) durante a transição de sua adolescência para a vida adulta.
Romances, profissões, perdas e dúvidas são os assuntos que rondam as quatro irmãs em plena guerra civil americana.
Adoráveis Mulheres é baseado no livro de mesmo nome (que em algumas traduções se chama Mulherzinhas), de Louisa May Alcott.
Publicado em 1868, Adoráveis Mulheres faz hoje parte dos cânones da literatura americana, embora não tenha tanto apelo no Brasil. O livro já foi adaptado para o cinema outras cinco vezes, sendo a versão mais famosa a de 1994 e para a televisão mais quatro vezes (a versão mais recente é de 2018).
O cerne do livro não é muito diferente do filme, ele também acompanha a vida das jovens irmãs March, dando um destaque maior para Jo, no entanto, no livro, as meninas são um pouco mais novas e Beth, a mais nova das irmãs tem em torno de 10 anos.
Adoráveis Mulheres sempre foi considerado um livro feminista e ele pode mesmo ser encaixado nessa categoria se pensarmos com os olhos da época em que ele foi publicado, afinal, ele foi escrito por uma mulher em uma época onde mulheres geralmente nem sabiam escrever, ele tem como protagonistas e como principais personagens apenas mulheres, sejam as irmãs March, seja a mãe ou a tia das meninas e ele apresenta Jo, uma personagem extremamente moderna para 1868.
Jo, a segunda filha, é inteligente, decidida e almeja ser escritora, além disso, ela não tem qualquer preocupação com a vaidade e não deseja se casar, o que na época em que a história se passa era considerado um absurdo, tanto que Jo recebe todo o tipo de questionamento e preconceito durante a história.
Adoráveis Mulheres não é um livro que tenha muitas tramas relevantes, a história é toda meio bobinha, mas como sempre foi voltado para o público juvenil, esse não é exatamente um problema, mas é importante se questionar, qual a relevância de Adoráveis Mulheres nos dias de hoje?
É obvio que o livro tem seus méritos, afinal, sobreviveu a todo esse tempo e ainda é lido até hoje, ele de fato é bem moderno para a época em que foi escrito, mas a diretora Greta Gerwig toma rumos diferentes.
O filme abrange o livro inteiro, a parte em que as meninas são mais novas e a maneira com que suas vidas evoluem, por isso, as personagens aparecem com vidas diferentes, Jo tenta ganhar a vida como escritora em Nova York, Meg é uma mulher casada com dois filhos, Amy está na França com a tia (Meryl Streep), Beth é a única que permanece na casa de sua mãe (Laura Dern). Os outros personagens da trama também tomaram outros rumos, como Laurie (Timothée Chalamet), o vizinho das meninas que depois de ser recusado por Jo, também está em Paris, bebendo e se divertindo.
A história do começo do livro por sua vez, é passada ao leitor através de flashbacks, que nos mostram como que as coisas ficaram do jeito que estão.
A impressão que se tem é que Gerwig quis justamente alongar a trama das irmãs March, com a expectativa de tirar o aspecto frívolo e simples que estão presente no livro. É por essa perspectiva que a vida das irmãs se tornam mais realistas, com problemas e decepções.
Se no livro Jo é sempre muito aclamada pelas coisas que escreve, no filme, ela recebe uma dura crítica de Friedrich (Louis Garrel) que a deixa visivelmente abalada, Meg, por sua vez, precisa lidar com o fato de que seu marido (James Norton) não é rico e que ela não pode ter os mesmos gastos que suas amigas, enquanto Amy percebe que embora ela sonhe em ser uma grande pintora, talvez seu destino seja se casar mesmo e Beth ainda sofre os malefícios da doença que a atingiu quando criança.
Adoráveis Mulheres também escolhe ressaltar os aspectos feministas do livro, como a força de suas personagens femininas, mesmo em relação aos homens da narrativa, a maneira com que essas mulheres se colocam, a vontade de terem carreiras, mesmo que isso não seja uma coisa comum na época e claro, a personalidade de Jo que permanece a mesma do livro.
O filme também traz uma inovação bem interessante, a trama das irmãs March se mistura com as tramas que Jo escreve.
Desde o começo, nos são dadas pequenas pistas de que de alguma maneira, as duas coisas estão conectadas, mas com o tempo o longa vai se tornado cada vez mais metalinguístico, ao ponto dos comentários do editor de Jo influenciarem no filme.
É nesse aspecto que o roteiro de Gerwig fica mais criativo e ousado, através das mudanças que o editor exige que Jo faça na sua história, como que a mocinha se case no final, que a diretora consegue questionar ainda mais a posição e automaticamente, os diretos das mulheres.
Jo deseja se manter fiel aos seus ideais, e assim como na vida, acredita que nenhuma das suas personagens precisa se casar, mas em muitos momentos, a voz do editor, um homem que detém o poder de publicar o seu livro, é a que prevalece, como no mundo real.
É impossível negar que Adoráveis Mulheres é uma grande e cuidadosa produção, e isso fica bem claro durante o filme.
O longa se passa nos anos 1800 e os figurinos, maquiagens e cabelos são todos muito característicos e realistas. Eles também se adequam a personalidade de cada uma das irmãs, Jo, que é menos vaidosa usa roupas mais escuras e mais desarrumadas, enquanto Meg, que se importa mais com a aparência e é considerada a mais bonita das irmãs é sempre vista com roupas claras e que valorizam seu rosto.
Também é bom lembrar que como o filme se passa em uma época onde o único poder de voz que as mulheres tinham era a moda, as vestimentas das personagens são muito importantes, até mais do que normalmente já são em um filme. As irmãs March, por exemplo, são pobres e por isso, seus vestidos não são chiques ou novos, uma questão que é inclusive tratada em uma das cenas do filme.
Como o filme vai e volta no tempo, ele também usa de artifícios que modificam a aparência das personagens para parecerem mais novas ou mais velhas, como por exemplo, Meg, que está sempre de cabelo solto no começo, mas que prende os cabelos em um coque quando já é uma mulher casada, ou Amy, que nos primeiros anos tem uma franja, mas que depois abandona o corte de cabelo.
Adoráveis Mulheres tem um elenco grande e estrelar, composto por Saoirse Ronan, Emma Watson, Florence Pugh, Eliza Scanlen, Timothée Chalamet, Laura Dern, Louis Garrel e Meryl Streep. É natural que nem todos eles tenham o mesmo tempo de tela, Eliza Scanlen, que interpreta a irmã mais nova quase não aparece e serve mais ou menos como uma escada que une as outras irmãs durante momentos específicos do filme. Jo, Meg e Amy são as personagens que mais aparecem, talvez porque tenham mais histórias para serem contadas e mesmo essas histórias surgem e se resolvem de maneira rápida, o que é compreensível em um filme com tantos personagens.
Meryl Streep aparece em poucas cenas, mas em momentos divertidos, o que deixa a sua personagem relativamente marcante, já Garrel é facilmente esquecido no meio de tanta gente. Chalamet, por outro lado, interpreta um personagem marcante, querido na obra original e se sai muito bem no seu papel.
O filme também tenta deixar a trama um pouco mais realista e mais séria, uma vez que o livro, que é voltado para o público juvenil, tem personagens um pouco planas, por isso Gerwig exagera em alguns aspectos, como uma possível rivalidade entre Jo e Amy, que é insinuada no livro, mas não é muito explorada e os aspectos feministas da trama. Além disso, as tramas das vidas de cada uma das irmãs, tomam alguns passos à frente do que é mostrado no livro.
Adoráveis Mulheres tem tudo para atrair um grande público ao cinema: um elenco estrelar, composto de diversas estrelas de filmes famosos entre os jovens, uma trama clássica, que sempre volta a moda, aspectos feministas e uma boa produção. O longa de Gerwig é uma tentativa de modernizar um clássico da literatura americana e se sai relativamente bem, embora ainda tenha um pouco daquele ar frívolo e bobinho do livro.
Título no Brasil: Adoráveis Mulheres
Título original: Little Women
Diretor: Greta Gerwig
Gênero: Romance, drama
Nacionalidade: EUA
Ano: 2019
Duração: 2h 15min
Elenco: Saoirse Ronan, Emma Watson, Florence Pugh, Eliza Scanlen, Laura Dern