“Por que escrevemos? Irrompe um coro.
Porque não podemos simplesmente viver” – Um Sonho não é um Sonho
Devoção é, na realidade, um compilado de três textos curtos de Patti Smith. No primeiro, Como a Mente Funciona, Smith nos conta sobre uma viagem que fez para Paris. No segundo, Devoção acompanhamos um conto sobre uma jovem patinadora, que deseja saber mais sobre suas origens e que também está em Paris.
Já no último, Um Sonho não é um Sonho, Smith relata sua visita a casa do escritor Albert Camus, quando ele já tinha morrido, quando teve contato com o manuscrito de O primeiro homem, trabalho inacabado de Camus.
Devoção é um livro bem curto e quando se pensa que ele na verdade, é divido em três textos, essa sensação aumenta. A grande questão é que a escolha dos textos para fazerem parte dessa coletânea parecem um pouco arbitrarias e até meio aleatórias. Podemos até entender a junção de Como a Mente Funciona e Um Sonho não é um Sonho, já que os dois são textos não ficcionais e que de certa maneira, falam sobre escrever e sobre arte de uma forma geral, mas Devoção cai meio de paraquedas, afinal, ele é um texto ficcional, que não fala sobre escrever e nem tem nenhum personagem que é escritor.
O leitor fica meio confuso, e não sabe muito bem quando Smith está falando dela mesma, e quando está descrevendo algum personagem, o que dá uma desestimulada na leitura. Quando a pessoa já conhece Só Garotos, o livro autobiográfico de Smith sobre sua relação com Robert Mapplethorpe, a tendência é logo pensar que Devoção também é um trabalho não ficcional e autobiográfico, o que causa ainda mais confusão.
Os textos embora sejam muito bem escritos, não são especialmente empolgantes. Eles parecem de uma maneira geral, perdidos.
Também é importante ressaltar que o livro não é um manual de como se escreve e que ele também não dá dicas de como escrever melhor ou de como ter inspiração. Esse não é o intuito de Devoção, tudo que Smith fala é extremamente pessoal e os textos são mais digressões da autora sobre a arte de escrever. Devoção não fala nada sobre a técnica, é tudo poesia e inspiração.
Para quem já leu Só Garotos, Devoção é um pouco decepcionante. Só Garotos tem uma leitura dinâmica e uma escrita maravilhosa, acompanhado de uma história incrível, que faz com que o leitor não queira largar o livro e que consegue deixar qualquer pessoa emocionada, Devoção no entanto, não suscita tantos sentimentos. A escrita de Smith é boa, mas os assuntos não são tão emocionantes e nem tão interessantes, por mais que existam passagens bonitas onde ela declara seu amor pela escrita e pelas artes.
Eu li o livro na edição da Tag Livros – que não pode ser comprada se você não for assinante do clube – mas tem uma edição do mesmo livro da Companhia das Letras, que eu acredito que tem o mesmo conteúdo. A edição da Tag Livros vem com os três textos – Como a Mente Funciona, Devoção e Um Sonho não é um Sonho – e alguns fotos tiradas pela própria Smith, com legendas que ela mesmo fez.
É impossível negar o talento de Smith, ela é uma grande escritora e artista e nem a qualidade do trabalho que foi feito no livro, as fotos ajudam a criar essa sensação de Devoção a arte que o título evoca e sobre a qual Smith que falar.
A leitura também é relativamente fácil, o livro é curto e a leitura flui bastante, só não é especialmente prazerosa.
Devoção passa a sua mensagem e mostra que Patti Smith é talentosa e tem muitas habilidades, mas não é o melhor trabalho da autora e não empolga o leitor tanto assim.
Título no Brasil: Devoção
Título original: Devotion
Autora: Patti Smith
Tradução: Caetano W. Galindo
Gênero: Não ficção, Contos
Ano de lançamento: 2017
Editora: Companhia das Letras
Número de Páginas: 144
Foto: Fernanda Cavalcanti