Sabino (Paulo Porto) é um rico industrial, com a vida perfeita: tem o casamento ideal e já casou três das suas quatro filhas. A mais nova e sua favorita, Glorinha (Adriana Prieto) está prestes a casar, quando o ginecologista da família informa a Sabino que viu o noivo, beijando o seu assistente.
Sabino começa a repensar tudo e Glorinha começa a contar ao telespectador as suas memórias.
O Casamento é inspirado no livro de mesmo nome de Nelson Rodrigues.
O Casamento começa seguindo mais ou menos o mesmo fluxo do livro de Nelson Rodrigues. Sabino é o protagonista que está feliz em casar sua filha favorita, a vida dele parece ser perfeita, mas quando ele descobre que seu futuro genro foi visto beijando outro homem, a coisa começa a desandar.
O telespectador então, começa a acompanhar as memórias de Glorinha, repletas de sexo e violência. Mas o filme se desvia um pouco da trama de Nelson.
Quando o longa começa a focar nas memórias de Glorinha, tudo começa a ficar um pouco surreal e no final, perde o sentido.
A ideia por trás do romance de Nelson é falar sobre a hipocrisia que ronda as famílias burguesas: Sabino, por exemplo, se descreve como “um homem de bem” e se choca com a descoberta do beijo gay do futuro genro, mas guarda segredos piores e criminosos. A descoberta do beijo, faz com que os segredos dos personagens comecem a aparecer um a um, e é a partir daí que a trama se movimenta.
O filme de Jabor, no entanto, não se preocupa tanto com isso. Ele mal fala dos segredos de Sabino, eles aparecem no filme, mas de maneira ligeira e podem passar despercebidos ao telespectador menos atento. O longa prefere dar o protagonismo a Glorinha e as suas memórias, que são chocantes e merecem destaque, mas que sozinhas não se sustentam.
Se O Casamento mal fala dos segredos que os personagens guardam, ele também discute muito por cima a hipocrisia e a moral, como o romance que deu origem ao filme faz e isso é um problema, já que essa é a essência e o tema da obra de Nelson.
Fica claro que o diretor queria explorar a linguagem cinematográfica, porque acompanhamos cenas filmadas de ângulos diferentes e em determinado momento, o filme parece perder o fio da meada e para de retratar a história presente no livro. Claro que isso por si só, não é um problema. O Casamento é uma adaptação e tem o direito de se fazer diferente da obra original, assim como Jabor tem o direito de fazer um projeto mais artístico, que se preocupa bastante com a técnica, mas o filme não é uma boa adaptação.
Não é que O Casamento seja um filme péssimo, ele tem bons momentos, e parte de boas ideias, mas parece que se perde no meio do caminho e perde a atenção do telespectador com facilidade.
O filme também tem boas atuações, como as de André Valli e Camila Amado. A produção do filme, por outro lado, não chama muito a atenção, tudo é bem simples, bem comum nos filmes da década de 70, mas isso não é um problema e não atrapalha o longa.
O Casamento tem uma ideia bem clara, que é apresentar um filme com tons artísticos e experimentais, que se foca bastante em explorar a linguagem cinematográfica. A trama de Nelson Rodrigues serve apenas como um impulso para isso. O filme certamente vai agradar quem gosta desse tipo de filme, mas decepcionar quem espera ver uma obra fiel ao livro.
Embora funcione como um longa que explora bastante a linguagem e que usa e abusa disso, não é exatamente uma boa adaptação e pode deixar o telespectador cansado e entediado.
Título no Brasil: O Casamento
Título original: O Casamento
Direção: Arnaldo Jabor
Gênero: Drama
Nacionalidade: Brasil
Ano: 1975
Duração: 1h 36min
Elenco: Adriana Prieto, Paulo Porto, Camila Amado, Érico Vidal, Mara Rúbia