“What would they really have done? What would any person do given entire power over other person? What – in particular – would inexperienced children do? Who knows what people think when they’re children and we haven’t broken them yet?”
“O que eles realmente teriam feito? O que qualquer pessoa faria se tivesse completo poder sobre outra? O que – especialmente – crianças inexperientes fariam? Quem sabe o que pensam as crianças, que ainda não foram destruídas? ”
Barbara é uma jovem de vinte anos, que é contratada para cuidar de Bobby e Cindy Adams, enquanto seus pais vão passar uma semana de férias fora de casa. Ela parece ter tudo sob controle e se dar muito bem com as crianças, até que acorda, amarrada e amordaçada na cama onde estava dormindo.
No começo, Barbara tem certeza que aquilo é uma brincadeira e só demonstra irritação, até que três amigos das crianças, que vivem na vizinhança – Diane, Paul e Johnny – aparecem e fica claro que as crianças não têm qualquer intenção de soltar Barbara e que para eles, aquilo é um jogo.
Quando os Adams Saíram de Férias se passa em um período bem curto de tempo – a semana em que os pais de Bobby e Cindy estão viajando – mas é um livro bem intenso. Começamos acompanhado Barbara, a típica adolescente americana, loira, bonita, inteligente e bem-comportada, que aceita cuidar de Bobby e Cindy. No começo, os pensamentos de Barbara giram em torno de assuntos bobinhos, que fazem sentido na vida de uma moça de vinte anos, como namorados, casamento, faculdade e amigos.
Até que ela acorda presa e amordaçada na cama onde estava dormindo na casa dos Adams. Fica claro desde o começo que foram Bobby, que tem mais ou menos dez anos e Cindy, de seis, que doparam e prenderam a babá, mas por um tempo, Barbara acredita que aquela é só uma brincadeira boba das crianças.
Quando Diane, Paul e Johnny, adolescentes da vizinhança aparecem na casa e Barbara escuta os cinco discutindo no andar de baixo, ela percebe que a situação não é tão inocente quanto ela pensou. O grupo de crianças e adolescentes planejaram prender Barbara apenas para se divertir, como eles eventualmente faziam entre eles.
Ao mesmo tempo que lemos o livro do ponto de vista de Barbara, também lemos do ponto de vista de cada uma das crianças. Então, o leitor tem a visão da vítima e dos agressores e mais que isso, logo percebe que cada uma das crianças tem um objetivo diferente ao prender a babá.
Depois que eles conseguem prender Barbara, a ideia de solta-la logo em seguida parece estupida, uma vez que ela pode contar o que aconteceu para alguém, ao mesmo tempo, as crianças sabem que eles vão ter problemas do mesmo jeito quando os pais chegarem e descobrirem o que eles fizeram. O livro então, vai se tornando mais sinistro, as crianças percebem que não podem solta-la e que além disso, que tem a babá – antes a figura de autoridade – na sua dependência.
Aos poucos o que começou como um joguinho, aparentemente inocente, vai se tornando uma maneira das crianças realizarem suas fantasias, cada vez mais sádicas e aí que cada um dos agressores começa a mostrar a sua personalidade e o real motivo pelo qual eles prenderam a babá.
Quando os Adams Saíram de Férias é livremente inspirado no caso de Sylvia Likens e tem de fato muitas semelhanças com o caso real. Likens, que foi deixada pelos pais com uma mulher, enquanto eles trabalhavam em outra cidade, foi presa em um porão, torturada, abusada sexualmente e eventualmente morta, não só pela mulher que era responsável por cuidar dela, como também pelos filhos da mulher e por outros garotos da vizinhança.
O livro, assim como o caso, é chocante e perturbador. As crianças, vão pouco a pouco se tornando predadores, que vendo que podem fazer o que quiserem com Barbara, se tornam cada vez mais cruéis.
O livro traz à tona uma questão muito interessante, que é o que cada pessoa é capaz de fazer quando tem o total e completo poder sob outra. Quando os Adams Saíram de Férias leva isso para outro nível, uma vez que usa crianças como os agressores e que essas crianças tratam o que estão fazendo com Barbara como uma experiência comum.
Barbara passa da figura de autoridade da casa, para um brinquedo, que pode ser manuseado ao bel prazer das crianças e é chocante perceber tudo que as crianças são capazes, mas mais chocante ainda é notar que algumas das coisas que eles fazem parece que são feitas sem maldade, quase como experiências mesmo. Essa impressão se intensifica porque também lemos a história do ponto de vista de cada criança, e por isso, sabemos o que e como eles pensam.
O livro tem até ideias bem modernas, se pensarmos na época em que foi escrito. Barbara é uma personagem bem típica e que normalmente é colocada como vítima e é exatamente isso que acontece aqui. No entanto, ela tem seus momentos fortes, como quando pensa como pode se livrar da sua prisão e de maneira pensada, resolve usar uma técnica diferente com cada uma das crianças. Com Johnny e Paul, que são garotos adolescentes, ela passa a apelar para a sensualidade, perguntando sobre namoradas e sendo a mais sedutora possível, para Diane, que é uma adolescente de dezessete anos, ela apela para a sororidade e com frequência repete “você também é mulher, Diane”. Essa ideia de usar o aspecto feminino para convencer Diane, soa bem moderno e bem próximo dos dias de hoje.
Quando os Adams Saíram de Férias é um livro que se passa em poucos dias, e em alguns momentos, pouca coisa acontece. O autor descreve quase todos os momentos, mesmo os que não tem muito acontecimento, acompanhamos Barbara comendo, indo no banheiro e sendo banhada. Esses momentos podem se tornar um pouco tediosos, mesmo que ao mesmo tempo que isso acontece, o leitor também acompanhe os pensamentos dos personagens, que também podem ser interessantes.
Boa parte do que sabemos de Barbara, inclusive, vem dos momentos em que ela está presa e pensando na vida. Uma vez que ela não pode ir para lugar nenhum, ela divide seu tempo entre pensar em como fugir e em conversar na sua cabeça com sua colega de quarto.
Embora tenha momentos mais parados, Quando os Adams Saíram de Férias vai se tornando mais sinistro e mais perturbador com o tempo, o que pode incomodar muitos leitores. A obra, no entanto, não é bem um livro de terror, mas sim um suspense que investiga a alma humana e o quanto ela pode ser cruel.
A leitura é rápida e simples, embora o conteúdo seja pesado, o que para quem é mais sensível, pode dificultar a leitura. No entanto, como a trama é interessante e o autor consegue deixar o leitor aflito, a vontade de ler para descobrir o que vai acontecer com Barbara, vai aumentando com o tempo.
Quando os Adams Saíram de Férias é um daqueles livros que não é publicado no Brasil a um tempo, existem algumas opções a venda em sebos, com preços não muito baixos, mas ainda razoáveis e claro, existe a opção de ler o livro em inglês, que nem sempre é viável.
Quando os Adams Saíram de Férias é um livro perturbador e assustador, e que retrata os recantos mais escuros da mente humana.
Título no Brasil: Quando os Adams Saíram de Férias
Título original: Let’s Go Play at the Adams
Autora: Mendal W. Johnson
Gênero: Suspense, Thriller, Terror
Ano de lançamento: 1974
Editora: Valancourt Books
Número de Páginas: 280
Eu li esse livro durante a adolescência. Confesso que me deixou perturbado. Lamentei o desfecho, torcia para que Bárbara se salvasse. Fiquei com um gosto amargo na boca por conta do fato de todos terem ficado impunes e por terem jogado à culpa em um inocente.
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Sim! O livro é muito chocante justamente porque nada acontece, tem umas cenas terríveis.
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