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Santa Evita, Tomás Eloy Martinez

“Todo relato é, por definição, infiel. A realidade, como já disse, não pode ser contada nem repetida. A única coisa que se pode fazer com a realidade é inventa-la de novo”.

Eva Perón, primeira dama da Argentina, morreu em 1952 e seu marido, Juan Domingo Perón, ordenou que seu corpo fosse embalsamado e exposto para o povo, enquanto esperava um mausoléu que estava sendo construído.

Em 1955, a Argentina sofreu um golpe militar, Perón foi deposto e fugiu do país, deixando o corpo de Evita para traz. Os restos mortais da ex-primeira dama então, se tornaram um problema e a partir daí, eles ficaram desaparecidos por dezessete anos.

Em Santa Evita, Tomás Eloy Martínez, imagina o que aconteceu com o corpo da primeira dama mais famosa da Argentina durante o tempo em que esteve desaparecido.

Santa Evita, na realidade começa quando Eva Perón ainda está viva, mas já está doente. A primeira dama logo nota que não tem muito tempo de vida e em meio as dores do câncer no útero que a matava, ela pede que seu corpo não seja manipulado por ninguém além de sua mãe.

Depois disso, o livro segue um rumo relativamente lógico, Eva morre e Perón determina que o corpo seja embalsamado. Santa Evita então, vai para outros caminhos, um tempo passa e os militares já estão no poder, Perón é foragido, mais Evita continua na Argentina e seu corpo passa por uma série de aventuras e absurdos.

O corpo da primeira dama passa um tempo em posse de um general ligeiramente perturbado, depois fica um tempo em um cinema e serve até de boneca para uma criança que não sabe que aquela é, na realidade, uma mulher real morta.

É certo que essa trama é muito interessante e embora pareça a criação de uma cabeça maluca é uma história real, o corpo de Evita passou dezessete anos desaparecido e existem uma série de boatos que circundam essa história macabra. Em Santa Evita, Martinez explora todos esses boatos, inclusive os que dizem que foram fabricados copias do corpo de Evita para enganar a população argentina, que a via como uma heroína.

Só por isso, o material é muito vasto, mas o livro é confuso. A trama vai e volta no tempo, intercalando o que acontece com o corpo de Evita, e a vida de Evita antes de se tornar primeira dama. Embora as cenas focadas no corpo sejam muito bem descritas e relativamente claras, não temos muitas informações pregressas da vida de Evita.

Óbvio que essa não é uma questão de primeira necessidade, o livro se propõe a falar sobre o corpo da primeira dama e não da vida dela, mas para quem não sabe nada ou sabe pouco sobre ela, sobre a política da Argentina ou sobre o governo de Perón, é um pouco mais complicado entender tudo que acontece. O grande problema parece ser o fato de que o autor supõe que qualquer pessoa que leia o livro, já saiba algumas coisas sobre o assunto, o que não sempre é o caso.

Outra questão que atrapalha a leitura é que não fica muito claro se esse é um livro de ficção que se inspira em fatos reais ou se é um livro que fala única e exclusivamente de fatos reais. Algumas das coisas que aparecem no livro, como o fato do corpo ficar desaparecido por dezessete anos, podem ser checadas na internet, o que aconteceu com o corpo durante esse tempo, por outro lado, aparentemente não é uma certeza, o que dá a entender que algumas das situações do livro foram inspiradas nos boatos, mas tiradas da imaginação do autor.

O livro é escrito como um romance, com diálogos e descrições, por isso, não soa como um livro jornalístico, fruto de uma pesquisa realista, mas em alguns momentos, fica a impressão de que quem está vivendo tudo aquilo é o autor. Claro que Santa Evita pode ser um livro jornalístico, escrito em forma de romance, mas essa é uma questão que nunca é inteiramente esclarecida durante a leitura.

O leitor termina a leitura sem saber se tem informações reais sobre Evita ou não.

Além disso, a leitura é parada e lenta e o livro acaba se tornando chato. As idas e vindas no tempo e a dificuldade em entender o que é e o que não é real no livro, deixa essa sensação ainda maior.

O que se tem que ter em mente quando se lê Santa Evita é que o livro não é uma biografia de Eva Perón, embora ele fale de alguns aspectos da vida (e da morte) da primeira dama, ele fala pouquíssimo sobre a importância política de Evita no governo de Perón e sequer fala sobre esse governo. Tudo isso deixa o livro bem especifico, quase focado em um nicho de pessoas que se interessa muito por Eva Perón e claro, faz com que o livro tenha muito mais apelo na Argentina, onde até hoje, ela é um grande nome, do que em outros lugares do mundo.

Santa Evita parte de uma premissa muito interessante e tem a vantagem de contar uma história real, mas a impressão que se tem é que tudo isso se perde e acaba se tornando chato e confuso.

Título no Brasil: Santa Evita

Título original: Santa Evita

Autor: Tomás Eloy Martinez

Tradução: Sérgio Molina

 Gênero: História, Ficção Histórica

Ano de lançamento: 1997

Editora: Companhia das Letras

Número de Páginas: 344

Foto: Fernanda Cavalcanti

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