“But your book is wrong, Mrs. Strunk, says George, when it tells you that Jim is the substitute I found for a real son, a real kid brother, a real husband, a real wife. Jim wasn’t a substitute for anything. And there is no substitute for Jim, if you’ll forgive my saying so, anywhere.”
“Mas o senhor está errado, Senhor Stunk, George diz, quando diz que Jim é o substituto que eu achei para um filho de verdade, um irmão mais novo de verdade, um marido de verdade, uma esposa de verdade. Jim não era um substituto para nada. E não existe nenhum substituto para Jim, me desculpe por dizer” – Traduzido livremente por Fernanda Cavalcanti
George é um professor de inglês de meia idade, que acabou de perder seu companheiro de anos, Jim. Jim, que era alguns anos mais jovem que George, morreu de maneira repentina em um acidente de um carro.
Enquanto prossegue com a sua vida, George tenta lidar com a raiva, o luto, a solidão e com os olhares de preconceito que recebe.
A Single Man foi publicado em 1964 e faz parte das obras mais tardias de Christopher Isherwood, escritas na época em que ele já vivia nos Estados Unidos. O livro é bem diferente das suas obras escritas em Berlim, embora todo o seu trabalho tenha pontos em comuns.
O livro se passa nos Estados Unidos dos anos 60 e reflete a época em que foi escrito. O protagonista de A Single Man é George, um homem de meia idade, que tenta seguir com sua vida depois que seu companheiro de anos, Jim, morre inesperadamente. O leitor acompanha exatamente vinte e quatro horas da vida de George, mas Isherwood coloca tanta trama nesse período, que parece que seguimos toda a vida de George.
A narração, em primeira pessoa, acompanha George de maneira cronológica, então, o conhecemos quando ele acabou de acordar, e estamos com ele quando ele vai dar aula para uma turma de faculdade e mais tarde, quando ele se encontra com sua melhor amiga, Charlie.
Entre esses acontecimentos, George nos conta sobre Jim, a relação dos dois e sua morte. O que fica claro é que, como o próprio título diz, George é um homem extremamente solitário, Jim era sua única companhia e agora, que Jim morreu, ele sente que não tem mais ninguém. A Single Man soa quase como um estudo de Isherwood de como é a vida de um homem gay de meia idade.
Tem que se manter em mente, é claro, que A Single Man foi escrito nos anos 60, quando as pessoas morriam mais cedo e em uma época onde se acreditava que uma pessoa de uma certa idade que fosse solteira – ou que se tornasse solteira, como é o caso de George – era um caso perdido. O curioso do livro, no entanto, é que George não é exatamente um homem solteiro, ele é um viúvo, já que seu companheiro morreu.
Nem o próprio George se vê como um viúvo, uma vez que nos anos 60, nem se falava sobre a possibilidade de homossexuais se casarem, embora ele e Jim vivessem obviamente uma relação longa e estável. Essa pode ser uma ideia que o próprio Isherwood tinha sobre a sua própria vida.
A Single Man soa quase como o oposto dos trabalhos mais juvenis de Isherwood, como Adeus a Berlim. Se o segundo mostra uma vida noturna efervescente, uma vontade quase impossível de conter de experimentar e se divertir e uma juventude inerente, o primeiro soa depressivo e triste, como se a vida de George, um homem gay de quarenta anos, estivesse tão acabada quanto a de Jim.
Claro que todo o drama que circunda a vida de George em relação a sua idade – e que talvez circulasse os pensamentos de Isherwood na época – podem soar um pouco exagerados nos dias de hoje, onde primeiro ter quarenta anos não quer dizer ser velho e onde ser gay já não é mais visto com maus olhos. Os sentimentos de George em relação a morte de seu companheiro e o luto com o qual ele vem lidando, por outro lado, são experiências quase que universais e que não se restringem unicamente a perda de companheiros.
O mesmo pode ser dito sobre a solidão que claramente assola George, que no livro está diretamente ligada à sua perda e a sua sexualidade, mas que pode falar com qualquer pessoa, de qualquer sexualidade, em qualquer estado da sua vida.
O livro tem outros pontos extremamente interessantes, como a maneira com que Isherwood constrói toda a vizinhança onde George mora, cheia de donas de casa suburbanas, maridos ausentes e crianças com roupas impecáveis. George os observa diariamente, especialmente depois, que não tem mais ninguém. Outro ponto curioso é que a vizinhança parece saber do relacionamento de George e Jim, mas ninguém comenta sobre isso na frente do protagonista, esse tipo de arranjo aproxima a trama dos dias de hoje.
Já na faculdade em que George trabalha, onde de vez em quando, ele tem alguma interação com algum aluno, ninguém parece saber sobre a vida pessoal de George, mas o cenário ainda é bem construído e conseguimos entrever alguns alunos pelo ponto de vista de George. Depois de um tempo, fica mais que claro que Kenny, um dos alunos de George, que tem uma namorada, está interessado no professor e disposto a experimentar, mais ou menos como os personagens de Adeus a Berlim. Se George é retratado como um homem cansado, que se sente sozinho, mas que já não quer mais tentar, Kenny é o seu exato oposto: ele é jovem, bonito, atraente, curioso e mais do que disposto a se envolver.
A Single Man também apresenta Charlie, a melhor amiga de George, que é uma das únicas pessoas com quem o protagonista parece ainda manter conversas profundas e verdadeiras, com todos os outros personagens, ele parece sempre estar fingindo. A relação de George e Charlie é muito interessante e soa realista, por outro lado, ela cai em um estereótipo meio chato comumente atribuído a mulheres heterossexuais que tem amigos gays: a ideia de que ela está, obrigatoriamente, interessada no amigo gay, mesmo sabendo que ele é gay.
Charlie está obviamente interessada em George e o livro dá a entender que ela sempre esteve. Essa é uma ideia que parece ser recorrente na obra de Isherwood – ela aparece também na personagem Sally Bowles, de Adeus Berlim e ganha tons bem mais explícitos em Cabaret – que pode refletir uma experiência própria do autor, uma vez que Sally Bowles foi inspirada em uma mulher real, mas que nos dias de hoje, onde já usamos e abusamos do arquétipo da fag hag (um termo inglês para definir mulheres que andam sempre acompanhadas de amigos gays), pode soar repetitivo e até meio preconceituoso.
Charlie é no entanto, uma personagem bem interessante. Ela guarda muitas semelhanças com Sally Bowles – as duas são extravagantes e divertidas, embora sejam solitárias e tristes – mas ela é tão solitária quanto George, uma vez que é divorciada e que foi abandonada pelo filho, que agora é adulto e vive sua própria vida. George e Charlie se escoram um no outro, embora ele muitas vezes, mostre que na verdade, atura Charlie e não gosta dela de fato, por razões diferentes, mas a solidão é uma característica que mantém os dois juntos.
Charlie está apaixonada por George e mantém fantasias de que um dia, ele aceite viver com ela, enquanto George, que muitas vezes nem parece gostar tanto da amiga assim, só tem Charlie, agora que Jim se foi.
A Single Man é um livro curto (186 páginas), bem escrito e com ritmo, o que torna a leitura fácil e prazerosa. É fácil se ver em George, porque todo mundo tem momentos de solidão e de tristeza e é isso que acompanhamos na obra de Isherwood.
A Single Man usa de um personagem bem especifico para falar de questões universais, ao mesmo tempo que talvez transmita ideias que estavam circulando na cabeça de seu autor e explana os Estados Unidos dos anos 60 de maneira realista e verdadeira.
Título original: A Single Man
Autor: Christopher Isherwood
Gênero: Drama, LGBTQIA+
Ano de lançamento: 1964
Editora: Farrar Straus Girou
Número de Páginas: 186
Foto: Fernanda Cavalcanti
Eu li esse livro é amo. Um dos melhores na minha lista.
Gostei demais da resenha.
Parabéns!
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Oi, Evelyn! Fico muito feliz que você tenha gostado da resenha! Eu gosto muito dos livros do Christopher Isherwood e amei esse! Você já leu outros livros dele?
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Eu comprei no sebo, junto de outros, mas amei a escrita, a história e as várias camadas que ela contém. Preciso ler outros, sim.
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Você indica outro?
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Eu gosto muito do Christopher and His Kind, que é uma autobiografia dele, que retrata a época que ele morou em Berlim, antes da segunda guerra. O Adeus a Berlim, que inspirou Cabaret, também é muito bom! Os dois tem resenha aqui no blog
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Obrigada!
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Fernanda, esses dias li um estudo histórico sobre esse escritor. Dá uma olhada. Pode ser que você goste de saber mais sobre ele. https://www.jornadaeh.historia.ufrj.br/wp-content/uploads/2017/07/15-Tatiana-Rodrigues-Gama-Russo.pdf
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Vou ler! Muito obrigada!
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