Em We Have Your Daughter: The Unsolved Murder of JonBenét Ramsey Twenty Years Later, a jornalista Paula Woodward fala sobre o caso, as pistas, as suspeitas e revela novas informações, que nunca foram divulgadas antes.
JonBenét Ramsey era uma mini miss premiada, que vivia em Boulder, no colorado, quando foi assassinada dentro da sua própria casa, no dia 25 de dezembro de 1996. JonBenét tinha apenas seis anos de idade e era relativamente conhecida no meio dos concursos infantis.
Ela ficou ainda mais conhecida depois do seu assassinato brutal, que até hoje não foi resolvido. Todas as situações que envolvem o caso são bem estranhas e é por isso, que ele até hoje é comentado. A participação da menina em concursos infantis, onde muitas vezes ela se apresentava usando roupas e maquiagens que a faziam parecer uma mulher adulta, aparentemente eram uma diversão para JonBenét, mas podem ter atraído o tipo errado de pessoas, o que gerou uma série de questionamentos sobre o comportamento dos pais de JonBenét.
Para além disso, a cena do crime em si e como ele chegou ao conhecimento da policia fizeram com que John e Patsy Ramsey – os pais de JonBenét – se tornassem os principais suspeitos do caso, embora nada tenha sido provado.
O caso de JonBenét Ramsey começou quando, no dia 25 de dezembro de 1996, Patsy acordou e encontrou um bilhete de resgate na escada da casa. O seqüestrador escreveu uma carta de três páginas, onde alegava ter seqüestrado JonBenét e pedia que os pais da menina pagassem a exata quantia que John Ramsey tinha recebido de bônus natalino. O bilhete ainda avisava que decapitaria JonBenét e negaria a família o seu corpo, caso eles tentassem entrar em contato com a polícia.
Patsy, no entanto, não levou essa questão tão a sério e após checar o quarto da filha e constatar que JonBenét de fato não estava lá e acordar o marido, ligou para a polícia. A polícia logo chegou à casa dos Ramseys, que aquela altura já estava cheia de amigos do casal e ficou esperando uma ligação dos seqüestradores, que nunca aconteceu. Para distrair John Ramsey, um dos policiais pediu que ele, junto com um amigo, fizesse uma busca na casa para ver se eles encontravam algo suspeito.
John desceu rapidamente ao porão da casa, onde alguns minutos depois, ele encontrou o corpo da filha, já morta. JonBenét estava com os braços amarrados acima da cabeça e tinha um garrote no pescoço.
A investigação do caso já começou atrapalhada, uma vez que a principio era um seqüestro. Tudo foi ficando cada vez pior, já que a cena do crime foi danificada elos familiares e pelos amigos que foram chamados pelos Ramseys. O corpo de JonBenét não só foi movido de lugar, como também foi mexido pelos pais e por outras pessoas.
O caso nunca foi resolvido e existem uma série de teorias que circundam ele e que tentam explicar o que pode ter acontecido na noite de natal de 1996. Existem, no entanto, duas teorias que são as mais populares: a de que os pais, ou um dos pais ou ainda o irmão mais velho de JonBenét, Burke, teriam matado a menina, muito provavelmente por acidente e simularam um crime com motivações sexuais e que um intruso de fato teria entrado na casa e matado a menina.
Woodward, a autora do livro, acredita veementemente na teoria do intruso. A teoria do intruso é relativamente comum e muitas pessoas, entre elas pessoas envolvidas diretamente na investigação e detetives amadores de internet, acreditam nela. Uma vez que o caso nunca foi resolvido e que tem essa aura de mistério mesmo depois de vinte e quatro anos sem resolução, todas as teorias são validas e são ainda possíveis, mas o grande problema do livro é que Woodward deixa claro logo na introdução que ela é amiga dos Ramseys e isso é um problema.
A teoria do intruso vai diretamente contra a teoria de que foram os pais e se a escritora do livro admite desde o principio que ela é próxima de alguns dos suspeitos do caso, o leitor já entra na leitura com desconfiança. Em função disso, We Have Your Daughter: The Unsolved Murder of JonBenét Ramsey Twenty Years Later soa como uma defesa, quase apaixonada, dos Ramseys.
Woodward passa o livro todo refutando todas as teorias que apontam para os pais da menina. Algumas das informações sobre o caso que são extremamente conhecidas aqui são desmentidas, como por exemplo, em relação a última refeição de JonBenét. A autopsia da menina descobriu que ela tinha abacaxi não digerido no organismo e que essa foi provavelmente a última coisa que JonBenét comeu. A família Ramsey tinha ido a uma festa de natal na casa de amigos na noite do dia 24, e a polícia descobriu que não foi servido abacaxi na festa e Patsy disse que a filha adormeceu no carro, na volta para a casa, e que foi colocada direto na cama e não comeu mais nada.
Na cozinha da família, a polícia encontrou uma tigela com abacaxi, que tinha impressões digitais de Patsy e Burke, mas a mãe disse não ter dado alimentado nem JonBenét, nem Burke e que provavelmente a menina foi alimentada pelo seu assassino. No entanto, é um fato que JonBenét comeu abacaxi antes de morrer, mas Woodward alega que não era só abacaxi que tinha no organismo da menina e sim uma série de frutas, que ela supõe terem sido ingeridas por JonBenét em um coquetel sem álcool na festa, mas os donos da festa, na época, testemunharam dizendo que não foi servido abacaxi na festa.
A teoria de Woodward então, supõe que alguém entrou na casa enquanto os Ramseys estavam na festa – a casa dos Ramseys tinha alarme de segurança, mas eles não costumavam ligar, tinha uma janela quebrada, e ninguém nunca soube dar certeza se todas as portas da casa estavam trancadas, então a entrada do intruso não é completamente impossível – esperou a família voltar escondido, e depois que todos estavam dormindo, entrou no quarto de JonBenét coagiu a menina a sair da cama e descer com ele até o porão, a molestou e a assassinou.
Depois disso, pegou um bloco de papel que já estava dentro da casa, uma caneta que também pertencia da família, se sentou e escreveu um pedido de resgate, mesmo que aquela altura a vitima já estivesse morta.
A teoria do intruso não é impossível, os Ramseys eram ricos e certamente poderiam atrair a atenção de ladrões e seqüestradores, John Ramsey tinha um negócio bem sucedido, que poderia atrair inveja – o bilhete, inclusive, fala que os homens que estão com JonBenét não gostam de seu pai – e JonBenét provavelmente atraia muitas atenções nos concursos em que participava, no entanto, ela é um pouco difícil de acreditar.
Alguém que pretende seqüestrar alguém não deixa para escrever o bilhete de resgate dentro da casa, no meio da noite, correndo o risco de ser pego por alguém da família e nem o faz com materiais que estavam dentro da casa, e muito menos, mata a sua moeda de troca no local. Alguém que pretende molestar uma criança de seis anos, muito provavelmente não vai se dar ao trabalho de invadir uma casa, molestar e matar a vitima, dentro da casa e muito possivelmente não escreve um bilhete. Um intruso, que assassinou JonBenét, durante um jogo sexual ou depois de a ter molestado, não precisaria despistar seu crime fazendo tudo parecer um seqüestro, uma vez que ele não era uma pessoa conhecida da família.
O livro JonBenet: Inside the Ramsey Murder Investigation, de Steve Thomas, também parte de uma opinião formada – Thomas, que fez parte da equipe de investigação, acredita que Patsy matou sua filha em um ataque de raiva e depois simulou a cena do crime e escreveu o bilhete de seqüestro para despistar e que John a acobertou – mas Thomas não é amigo da família e nem tem nada a ganhar dando sua opinião no livro. Claro que sua opinião pode estar completamente errada – e a de Woodward totalmente certa – mas ele parte de um lugar bem mais neutro.
O que acontece com We Have Your Daughter: The Unsolved Murder of JonBenét Ramsey Twenty Years Later é que ele soa como uma defesa dos Ramseys, digna de um advogado e isso tira um pouco da credibilidade do livro e do que Woodward defende. Depois de um tempo, parece meio sem sentido continuar lendo, se já sabemos que a autora vai defender cada um dos argumentos que aparecerem e isso acaba ficando chato.
We Have Your Daughter: The Unsolved Murder of JonBenét Ramsey Twenty Years Later pode ser uma boa opção para quem tem muito interesse no caso e quer mergulhar a fundo na vida da família Ramsey, já que o livro é cheio de fotos e desenhos que não estão presentes em nenhum outro lugar. Como possível fonte de informação, a obra, no entanto, não acrescenta muita coisa.
Embora prometa uma investigação inovadora e pistas novas e surpreendentes, We Have Your Daughter: The Unsolved Murder of JonBenét Ramsey Twenty Years Later acaba se tornando um livro tendencioso, onde o leitor não consegue confiar completamente na sua narradora.
Título original: We Have Your Daughter: The Unsolved Murder of JonBenét Ramsey Twenty Years Later
Autora: Paula Woodward
Gênero: Crime Real, Suspense, Não Ficção
Ano de lançamento: 2016
Editora: Prospecta Press
Número de Páginas: 528