Adaptações, filmes

Filme: Books of Blood, 2020

Books of Blood é uma antologia que acompanha três histórias diferentes: na primeira, Jenna (Britt Robertson) é uma jovem que sofre de transtornos mentais, e no meio de um surto, para de tomar seus remédios e escuta sua mãe comentando que pretende interna-la, por isso, resolve fugir.

Ela acaba na casa de um casal idoso (Nicholas Campbell e Freda Foh Shen), onde conhece Gavin (Kenji Fitzgerald), outro hóspede do lugar, mas eles logo percebem que tem algo estranho acontecendo ali.

Na segunda, Mary (Anna Friel) ainda sofre pela morte de seu filho, Miles, quando conhece Simon (Rafi Gavron), um vidente que garante que consegue se comunicar com Miles. Mary suspeita da história, mas aceita participar dos experimentos.

Tudo parece dar certo e Mary acredita no que Simon lhe diz e que ela conseguiu se comunicar, os dois mais tarde, começam um relacionamento, mas logo ela descobre que Simon não é completamente verdadeiro.

Já na terceira, Bennet (Yul Vazquez) é contratado para cobrar uma quantia de um vendedor de livros (Brett Rickaby). O homem não tem o dinheiro e tenta convencer Bennet a poupa-lo falando sobre um livro misterioso, chamado O Livro de Sangue (Book of Blood), que vale milhões de dólares. Bennet fica curioso, mas não perdoa a dívida do vendedor de livros, o que não o impede de sair em busca do tal livro.

Books of Blood é levemente inspirado em algumas histórias de Livros de Sangue (Volumes I, II, III, IV, V e VI), de Clive Barker.

Books of Blood apresenta três histórias, aparentemente distintas, mas que se conectam com o tempo. A primeira delas acompanha uma jovem com distúrbios mentais, que ao fugir de uma internação, se depara com um perigo bem maior, a segunda, uma mãe desesperada, que é capaz de tudo para se comunicar com seu filho morto e a terceira, é a que tem como intenção juntar tudo e a única que menciona o Livro de Sangue.

Nos livros de Barker, a primeira história do primeiro volume é a história que apresenta o Livro de Sangue e que nos explica o que ele é e qual é sua origem. Aqui isso aparece no final, mas isso não é exatamente um problema.

O filme segue um preceito que também está presente no livro, embora de maneira menos direta, que é a ideia de que as histórias estão conectadas. Nos livros, nenhuma das histórias são ligadas, mas todas elas fazem parte do Livros de Sangue, como é explicado no primeiro conto do volume I.

Como a ideia do livro parece um pouco mais complexa e mais impalpável, o que a torna mais compreensível para quem está disposto não só a ler os seis volumes, mas também mergulhar em toda a literatura de Barker, o filme tem como intenção simplificar uma questão, que talvez precisasse de mais tempo para ser explicada com mais clareza, aqui, as histórias de fato, estão ligadas, mesmo que de maneira bem frouxas.

É importante ressaltar que nenhuma das três histórias apresentadas no longa são extremamente fieis aos contos de Barker, tanto que muitas vezes, é até difícil saber de onde exatamente veio aquela história, mas isso não é bem um problema, uma vez que as histórias estão inseridas no universo do autor e qualquer pessoa que conheça o trabalho de Barker vai reconhecer temas caros a sua obra no filme. Os Livros de Sangue são compostos por seis volumes e trinta contos, que em sua maioria, são grandes, – alguns tem mais de vinte páginas – portanto seria impossível adaptar para um único filme de longa duração.

A sensação que se tem assistindo Books of Blood é que estamos vendo três curtas diferentes e que o filme se coloca como uma antologia de terror, com temas e tramas bem diversas. Isso porque as histórias têm tramas diferentes, personagens diferentes, cenários diferentes e temas, aparentemente, diferentes.

A primeira história, que é a mais interessante, acompanha Jenna, uma jovem com distúrbios mentais, que está sempre fugindo. Ela para de tomar seus remédios e foge de casa quando descobre que sua mãe pretende interna-la, e acaba em uma pensão, comandada por um casal idoso.

Jenna logo nota que o lugar não é exatamente normal e começa a sentir que tem alguém a perseguindo, no entanto, é importante lembrar que Jenna não está medicada e que por isso, nunca podemos ter certeza de que o que ela está vendo – e nós, através do ponto de vista dela – é verdade ou apenas um delírio.

Na segunda história, Mary é uma mulher desesperada e solitária, que deseja falar com seu filho falecido. Simon, um vidente, aparece na vida de Mary, garantindo que vai conseguir colocar Mary em contato com Miles. A mulher acaba seduzida não só pelo o Simon promete, que de fato, parece acontecer, mas também pelo próprio vidente, com quem ela começa uma relação.

Com o tempo, Mary percebe que Simon não é exatamente sincero.

Na terceira história, a que mais se aproxima dos contos de Barker, um homem procura o Livro de Sangue.

Claro que além de serem inspiradas no universo de Barker, as tramas têm outros aspectos em comum, como o gênero do terror e os protagonistas que estão, em maior ou menor grau, desesperados.

Elas parecem se passar, no entanto, até em universos diferentes, uma vez que até a fotografia e o estilo de narração são diferentes em cada trama.

Embora Books of Blood seja um filme de terror, ele não é especialmente assustador e nem tem muito do gore, misturado com sexualidade, aspectos que caracterizam a obra de Barker, por isso, pode ser que o filme não agrade os fãs mais devotos. Por outro lado, talvez um filme mais cru, que fosse muito próximo do que vemos nos livros do autor, tivesse um alcance baixíssimo, uma vez que seria muito violento, como os livros são.

Fica claro que Books of Blood é um filme com boa produção e feito com cuidado, também é notável a vontade de se aproximar do trabalho de Barker, mas querer adaptar seis livros em um filme só parece uma ideia problemática desde a sua concepção, uma vez que muita coisa vai ser deixada de fora. Quando se assiste Books of Blood fica-se com a sensação que existem duas formas de adaptar a obra de Barker, com sucesso: ou através de vários filmes, que adaptam cada um, um conto ou através de uma série, onde cada episódio cobriria um conto do livro.

Books of Blood também tem boas atuações, como as de Britt Robertson e Anna Friel, mas o tempo de tela de cada personagem é pequeno e, portanto, quase ninguém ganha o destaque que merece.

O longa, no entanto, não é um desperdício, é sempre interessante que a obra de Barker – praticamente esquecida por quem não é fã do gênero – ganhe destaque e chame a atenção de mais gente, assim como adaptações, mesmo que não extremamente fieis, são sempre bem-vindas e podem trazer bons momentos.

Books of Blood tem tramas interessantes e cenas que assustam o telespectador, mas a obra original ainda se mantém mais relevante e vale mais a pena que o filme.

Título no Brasil: Books of Blood

Título original: Books of Blood

Direção: Brannon Braga

Gênero: Terror, Drama, Suspense

Nacionalidade: EUA

Ano: 2020

Duração: 1h47

Elenco: Anna Friel, Rafi Gavron, Britt Robertson, Yul Vazquez, Andy McQueen

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