Regina (voz de Gina Gershon) amaldiçoa sete príncipes, que se tornam pequenos duendes verdes. Para quebrar a maldição, cada um deles precisa beijar a moça mais bonita do mundo.
Enquanto isso, ela tenta a todo custo se manter jovem para sempre, mas é passada para trás por sua enteada, Branca de Neve (voz de Chloë Grace Moretz), que calça os sapatos vermelhos, que Regina cobiça, e que transformam Branca de Neve na moça mais bonita do mundo.
Quando ela se encontra com os príncipes – agora transformados em duendes – todos eles tentam a todo custo seduzir a moça, para que suas maldições acabem, mas Branca de Neve começa a se apaixonar por um deles, Merlin (voz de Sam Claflin). Enquanto isso, Branca de Neve precisa fugir de sua madrasta e encontrar seu pai (Nolan North) a muito tempo desaparecido.

Sapatinho Vermelho e os Sete Anões é ligeiramente inspirado em Branca de Neve e os Sete Anões, mas tem influência de uma série de outras histórias.
A aparência é uma questão que geralmente tem muita importância em contos de fadas, isso porque essas histórias se pautam em arquétipos e disseminam a ideia de que o que é bonito é necessariamente bom e o que é feio é obrigatoriamente mal.
No entanto, os contos de fadas são histórias antigas, que ainda carregam temas interessantes, mas que podem e devem ser adaptados para os dias de hoje. Ressaltar a ideia de que a beleza física de alguém é tudo que importa em um filme de 2019, parece um erro, que faz com que esse filme – que é voltado para o público infantil – se torne muito problemático.

Sapatinho Vermelho e os Sete Anões tem uma série de personagens extremamente obcecados com a sua aparência e com a aparência dos outros e essa é uma ideia que permeia boa parte do filme. Os príncipes, que foram transformados em duendes, estão desesperados para voltarem a ser príncipes e, portanto, bonitos e Regina faz tudo que é possível para ser jovem para sempre.
A questão mais problemática, no entanto, é a maneira que a aparência de Branca de Neve é retratada. Branca de Neve é uma garota gordinha, que quando veste os sapatos vermelhos se torna magra e a partir daí, é considerada “a moça mais bonita do mundo”. Quando ela conhece os príncipes, ela percebe que eles só lhe dão atenção porque agora ela é magra e, portanto, bonita aos olhos deles, mais tarde, quando ela começa a se apaixonar por Merlin, ela nota que talvez ele não esteja apaixonado por ela e sim, pela figura magra que ela vira quando calça seus sapatos.
A ideia do filme não é passar a ideia de que ser magro é ser bonito, na verdade, é bem o oposto. Quando eles colocam Branca de Neve só recebendo atenção quando fica magra – quando ela está na sua forma real, ela nem é reconhecida pelos príncipes -, mas mantém a personalidade dela exatamente a mesma nas suas duas formas, Sapatinho Vermelho e os Sete Anões tenta passar a mensagem de que sua aparência não é importante e que devemos ser bonitos por dentro, mas a maneira com que isso é colocado no filme cai muito mal.

Fica bem difícil comprar a mensagem do filme quando os príncipes estão obviamente obcecados com a aparência de Branca de Neve e não com sua personalidade, e quando Merlin, que aqui é o mocinho, fala com todas as letras que ele prefere Branca de Neve magra do que gorda.
Branca de Neve até se mostra diferente dos outros personagens, ela diz que gostava de ser como era (ela se refere a si mesma como “forte” e não como “gorda” ou “grande”, o que é interessante) e deixa claro que ela se apaixonou por Merlin pelo que ele é, mesmo sendo pequeno e verde e não pelo príncipe que ele deseja ser, mas a mensagem que o filme passa é bem diferente da que ele aparentemente, queria transmitir e soa datada e até absurda para os dias de hoje.
Outra questão que atrapalha Sapatinho Vermelho e os Sete Anões é a quantidade de história que são colocadas no seu roteiro. Oficialmente, o filme é uma adaptação de Branca de Neve e os Sete Anões, mas o longa usa de uma série de contos de fadas e histórias que nem contos de fadas são.

Os sapatinhos vermelhos da protagonista podem fazer uma referência a um conto de fadas não tão conhecido de Hans Christian Andersen (Os Sapatinhos Vermelhos), mas lembram muito os famosos calçados de Dorothy Gale, de O Mágico de Oz. O filme também cita uma série de outros contos de fadas, de uma maneira divertida, que funciona.
Além disso, Sapatinho Vermelho e os Sete Anões usa bastante das lendas Arthurianas. Entre os sete príncipes, que agora são duendes, estão Merlin e Arthur (voz de Simon Kassianides). Merlin é um mago e Arthur sonha em retirar a Excalibur da pedra.
Em sua origem, os contos de fadas eram como lendas urbanas, contadas de pessoa para pessoa, que depois de um tempo foram escritas e publicadas, o que quer dizer que existem muitas versões dessas tramas. O mesmo acontece com as lendas Arthurianas, que não tem uma “versão oficial”.

Por isso é impossível cobrar fidelidade de qualquer produto que derive dessas histórias e de qualquer maneira, é sempre interessante que possamos ter acesso a novas interpretações e versões, que provem que essas tramas são, de fato universais, mas no caso de Sapatinho Vermelho e os Sete Anões tudo parece bagunçado, como se os roteiristas tivessem apenas escolhido aspectos aleatórias de cada uma das histórias e jogado no filme sem pensar muito sobre isso.
Filmes que adaptam contos de fadas são relativamente comuns e é sempre bom assistir uma nova versão de histórias que tem tanto conteúdo e tantas interpretações, no entanto, Sapatinho Vermelho e os Sete Anões não se sai muito bem.
O primeiro problema é a ideia de que ser bonita está diretamente ligado a ser magra, que é desmentida ao logo da história, mas demora demais para mostrar a que veio e não passa a mensagem, que é bem pensada, mas terrivelmente mal executada. Lembrando que o filme é voltado para o público infantil, que compra mensagens muito mais rápido do que um adulto, que pode parar e pensar com mais habilidade sobre o que está vendo na tela.

O segundo problema é a trama do filme em si. Além de misturar elementos de várias histórias, sem muita organização ou lógica, a história não é muito amarrada e parece falhar em vários momentos, como por exemplo, quando descobrimos que os príncipes só têm a aparência de duendes quando ninguém está olhando para eles, então, se Branca de Neve fecha os olhos, eles se tornam os príncipes. Tudo bem que contos de fadas tem tramas fantásticas, que as vezes beiram o absurdo, mas que fazem sentido dentro daquele universo. A trama que o filme usa, no entanto, parece só uma forma de mostrar os personagens como príncipes na maior parte do tempo.
Fica claro que a ideia de Sapatinho Vermelho e os Sete Anões é a de se aproximar dos filmes da franquia Shrek, que também usam o universo dos contos de fadas para contar uma história que brinca com os arquétipos do gênero, uma vez que Sapatinho Vermelho e os Sete Anões também faz piadas – que até funcionam – com outros contos de fadas, mistura histórias e tem até um personagem muito parecido com o Príncipe Encantado de Shrek, mas o longa não mergulha tão a fundo nesse humor irônico e fica ali no meio termo entre um filme infantil bobinho e um filme infantil, que pode também agradar os adultos.

A animação em si não chama atenção especialmente, mas cumpre o seu papel, os desenhos são bonitinhos e certamente vão chamar a atenção das crianças, mas diferente de muitos filmes animados atuais, não é realista.
Sapatinho Vermelho e os Sete Anões tem um elenco de dubladores famosos que se saem bem, como Chloë Grace Moretz, Sam Claflin e Gina Gershon, mas que não são o suficiente para salvar uma animação que até tem boas intenções, mas nenhuma habilidade para passar elas para a tela.
Título no Brasil: Sapatinho Vermelho e os Sete Anões
Título original: Red Shoes and the Seven Dwarfs
Direção: Hong Sung-Ho
Gênero: Animação, família
Nacionalidade: Coréia Do Sul
Ano: 2019
Duração: 1h 31min
Elenco: Chloë Grace Moretz, Sam Claflin, Patrick Warburton, Gina Gershon, Ava Kolker
Meu Deus… nada a ver?? Parece que não assistiu o filme antes de escrever isso. E vale ressaltar, os príncipes ficam como anões na maior parte do tempo do filme, só temos alguns vislumbres deles na forma de príncipes. A ideia deles ficarem em sua forma normal apenas quando não tem ninguém olhando, é de que a beleza de que eles tanto se orgulham e querem mostrar só poderá ser vista por eles mesmos.
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Oi, Ley, eu entendi a tentativa de metáfora, em relação a beleza interior, mas ela não funciona na tela, assim como boa parte das ideias que o filme traz a tona. Mas cinema é também uma questão de gosto e cada um tem direito a sua interpretação 😉
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