“O pais estava pegando fogo, não havia mais meios termos: quem não estava contra – então estava a favor”
Noites Tropicais é uma crônica sobre a música nacional entre os anos 1958 a 1992, narrada por Nelson Motta, famoso critico musical.
De certa maneira, Noites Tropicais soa quase como uma autobiografia de Nelson Motta, uma vez que o livro cobre toda a sua vida, até o momento em que foi escrito e que em muitos momentos, entra em aspectos da vida pessoal do autor.
O livro começa falando da adolescência de Nelson, que foi quando ele descobriu e se apaixonou pela música e a partir daí segue o rumo da vida do autor, enquanto ele continua em busca dessa paixão, e se mistura nesse meio e conhece uma série de músicos. A diferença aqui é que os músicos citados são nomes muito importantes da música brasileira, como Chico Buarque e Elis Regina.
Noites Tropicais entra em outras questões da vida pessoal de Nelson, fala de seu relacionamento amoroso com Elis Regina e mais tarde, de seu casamento com Marília Pêra, mas não pode ser considerado uma autobiografia no sentido mais clássico da palavra, porque não fala unicamente da vida de seu ator e foca mais nas experiências que ele teve com a música e eventualmente, com outras artes. A sensação que se tem é que Nelson simplesmente não consegue separar sua vida da música.
Para além da vida pessoal do autor, o livro também fala sobre momentos importantes da música brasileira, como os festivais na década de 60, a bossa nova, a MPB, a Jovem Guarda e o Tropicalismo. Noites Tropicais é uma espécie de livro de história da música nacional e esse parece um feito relativamente inovador, uma vez que pouco se fala sobre o assunto.
Noites Tropicais cobre muitos anos e por isso, passa por muitos gêneros, estilos e momentos, o livro tem muito conteúdo, que é explicado de maneira clara e instigante. Em certos momentos, ele sai do espectro da música e fala sobre a ditadura militar, que censurava músicas e perseguia artistas e naturalmente ultrapassava questões políticas.
Os capítulos do livro são curtos e rápidos de ler, quase como se fossem pequenas anedotas, onde Nelson, narrando sempre em primeira pessoa, explica e conta o que aconteceu, de maneira rápida e pratica, mas também muito clara. Ele é bem aberto e parece não esconder muitos detalhes, mesmo que eles possam ser embaraçosos. O leitor sente que está em uma conversa com o autor.
Isso torna a leitura muito prazerosa e muito rápida, Nelson não dá muitas datas e nem dias exatos, o que tira o tom de autobiografia oficial e dá essa ideia de um livro que conta suas experiências, mas que foi escrito basicamente de memória e aumenta ainda mais essa sensação de que estamos ouvindo ele contar sobre suas aventuras e desventuras. Noites Tropicais tem, no entanto, algumas falas um pouco machistas e que não cairiam tão bem nos dias de hoje, mas pode-se dar um desconto em relação a isso, uma vez que o livro foi publicado em 2000, quando várias dessas questões ainda não tinham tanta força.
Noites Tropicais não só é uma bela aula de história da música brasileira – e automaticamente de história e política do Brasil -, como também é uma leitura divertida e prazerosa, que vai agradar não só os fãs de música, mas também qualquer pessoa que se interesse por uma vida movimentada como a de Nelson. Ao final da leitura, tudo que desejamos é que o autor escreva uma nova versão, onde possa analisar a música depois de 1992.
Título no Brasil: Noites Tropicais
Título original: Noites Tropicais
Autor: Nelson Motta
Gênero: Música, Não Ficção, História
Ano de lançamento: 2000
Editora: Objetiva
Número de Páginas: 466
Foto: Fernanda Cavalcanti