“O pensamento-crime não acarreta a morte: o pensamento-crime é a morte”.
O ano é 1984, e Winston Smith vive na Pista No. 1 – a antiga Inglaterra – sob o regime totalitário do Grande Irmão, uma figura que ninguém sabe dizer se é real ou não, mas que não pode ser contrariada. Winston trabalha no Ministério da Verdade, que tem como função falsificar documentos antigos para que pareça que tudo que o partido diz é verdade e embora aceite as ordens do Grande Irmão, não está completamente satisfeito.
Quando ele se apaixona por Julia, sua colega de trabalho e se coloca em uma relação romântica e sexual, o que é proibido pelo partido, ele começa a se questionar cada vez mais e a se revoltar contra o regime, o que claro, pode lhe trazer problemas.
Publicado em 1949, 1984 se passa em um futuro distópico, onde boa parte do mundo é território da Oceania, e vive sob um regime totalitário, onde é proibido pensar por si mesmo e onde todo mundo é observado o tempo todo por uma figura mítica chamada O Grande Irmão, por isso, ninguém consegue fazer nada que seja considerado errado. Winston, o protagonista, é um homem comum, que não se lembra de como era a vida antes da revolução que instaurou o regime e que se questiona pouco sobre o que vê ou quão diferente a vida pode ser, ele inclusive, trabalha no Ministério da Verdade, que tem como função modificar e deturpar notícias para fortalecer o partido.
Um dia, no entanto, Winston começa a se questionar e quando ele se envolve com Julia, uma de suas colegas de trabalho, ele começa a desejar a liberdade e uma vida que seja mais do que trabalhar e ser observado pelo partido. As relações sexuais por prazer são proibidas na Pista No. 1, por isso, os dois são obrigados a manterem um caso secreto. Embora Julia seja o pivô da mudança de pensamento de Winston, ela não é por si só uma revolucionaria, ela é uma mulher bem moderna, que gosta de sexo e que está disposta a ser presa ou morta para conseguir o que quer. Claro que quando pensamos que 1984 foi escrito nos anos 40, Julia soa extremamente revolucionaria, mas as questões do partido e uma possível revolução ou quebra do sistema, não a afetam ou incomodam.
Muita gente acredita que 1984 é uma crítica direta ao socialismo, mas isso não é inteiramente verdade. O livro é uma crítica as ditaduras totalitárias de qualquer espectro político e segundo o próprio Orwell, a obra retrata as perversões que já foram cometidas tanto pelo comunismo, quanto pelo fascismo, a trama se passa na Inglaterra para demonstrar que ideias totalitárias podem surgir em qualquer lugar do mundo. Stalin, Churchill e Hitler foram inspirações para a criação de Grande Irmão, o que mais uma vez reforça a ideia de que 1984 é uma crítica a todo e qualquer tipo de ditadura.
E é exatamente essa a impressão que o leitor tem: embora Winston viva nesse mundo sem nenhuma liberdade e nem perceba isso, 1984 é uma grande crítica, já que o leitor sabe desse o começo que o protagonista só não percebe o que está acontecendo porque, como todos, está completamente convencido pelo partido e não conhece nada melhor. Quando Winston começa a perceber o quanto o sistema que ele vive é injusto e perigoso, ele vai ficando cada vez mais horrorizado, e claro, se colocando cada vez mais em perigo. O que começa com uma relação sexual clandestina, vai se tornando um verdadeiro sentimento de revolta e questionamento, que vai levar Winston a desejar sair dos domínios do Grande Irmão.
Outra coisa interessante do livro é que embora a data escolhida por Orwell já tenha passado a muito tempo, ele ainda é uma obra muito atual. O autor aliais, escreveu 1984 com a intenção de alertar o mundo sobre o que poderia acontecer caso se desse asas a politicas muitos extremas. Portanto é muito fácil achar paralelos entre o que acontece no livro e coisas que assistimos diariamente, o próprio trabalho de Winston, que consiste de modificar informações passadas para favorecer o partido, lembram as fakes News de hoje e o revisionismo histórico, que é praticado com bastante frequência no Brasil atualmente.
1984 é um livro muito político, boa parte da sua trama gira em torno de política e também é ela que movimenta a história e as ações dos personagens, no meio do livro, lemos até argumentos políticos que o próprio Winston lê e isso pode irritar e incomodar algumas pessoas, mas ele não é de maneira nenhuma um livro chato. Embora ele fale de um país especifico, vivendo sobre uma ditadura especifica, com regras especificas, quando ele faz isso, ele fala automaticamente da política do mundo, em maior ou menor medida e de acontecimentos muito próximos da realidade, que eventualmente já aconteceram, ou podem acontecer. O livro é quase uma aula sobre o assunto, mas ele não faz isso de maneira didática ou chata, mas sim, empolgante e ainda assim, assustadora.
A leitura não é leve, mesmo porque tem ideias fortes e cenas muito pesadas, mas ela é prazerosa e se torna rápida justamente em função disso. Além disso, 1984 faz o leitor não só entender questões que dizem respeito ao mundo atual, mas também pensar sobre essas questões e mesmo as teorias políticas que estão presentes no livro, são muito interessantes e são um aprendizado.
1984 retrata um ano que já passou, mas continua atual e ressoa em todas as décadas desde de sua primeira publicação, embora ele conte uma história fictícia, ele é extremamente realista e fala com o mundo sobre o mundo.
Título no Brasil: 1984
Título Original: Nineteen Eighty-Four
Autor: George Orwell
Tradução: Heloisa Jahn, Alexandre Hubner
Gênero: Clássico, Ficção Científica, Distopia
Ano de lançamento: 1949
Editora: Companhia das Letras
Número de Páginas: 416
Foto: Fernanda Cavalcanti
Um comentário em “1984, George Orwell”