“Quando um homem ascende ao poder absoluto, ele geralmente se livra daqueles que lhe são mais chegados, aqueles que conhecem seus segredos”.
Francis Xavier Kennedy, sobrinho de John, Bobby e Ted, é eleito presidente dos Estados Unidos, se apoiando no seu famoso sobrenome e em um ideal de esperança e melhora.
Quando ele se vê no cargo, no entanto, percebe que sua força política diminui cada vez mais, e quando sua única filha é assassinada durante um sequestro político, Kennedy muda completamente e se torna um homem radical, disposto a tudo para se vingar e impor suas ideias a toda a nação.
A família é um assunto comum na obra de Mario Puzo, boa parte de seus livros tem como protagonistas famílias inteiras, e é mais ou menos o que acontece em O Quarto K, embora ele faça isso de maneira diferente e use um tema diverso. Aqui acompanhamos Francis Xavier Kennedy, um membro fictício da família Kennedy, que pouco conviveu com seus tios assassinados (John e Bobby), mas que também aspirava uma carreira política.
Se valendo muito do sobrenome famoso e com ideias que soam libertarias e justas, Francis se elege presidente dos Estados Unidos, mas não demora muito para mostrar quem de fato é. Durante um bom tempo, Francis é um bom presidente, que tem grandes chances de reeleição, mas é a morte de sua filha, Theresa, que transforma Francis completamente.
Primeiro ele resolve ir em busca de vingança e quando começa a perder a popularidade em função das suas ações cada vez mais malucas, Francis, começa a se tornar cada vez mais autoritário.
A ideia de Puzo é bem interessante, O Quarto K se passa em um futuro próximo, mas como o livro foi publicado em 1990, é possível supor que esse “futuro próximo” imaginado pelo autor sejam os dias de hoje e algumas das coisas que Puzo supôs de fato são realistas, como por exemplo, o fato da vice de Francis ser uma mulher.
Diferente de livros como O Poderoso Chefão ou Mamma Lucia, onde o autor mergulha a fundo na vida de duas famílias, narrando suas origens e a vida de boa parte dos seus membros, em O Quarto K, Puzo se resume a falar da vida de Frances, sua esposa já falecida e sua filha, Theresa. Ele nem precisaria mergulhar mais a fundo, uma vez que a família de Francis é uma família famosa, de quem boa parte das pessoas já sabe muita coisa, o autor cita John e Bobby Kennedy, que não precisam ter suas vidas especuladas, já que qualquer pesquisa dá conta dessa questão.
O estilo de O Quarto K no entanto, é bem parecido com outros livros do autor. Puzo narra sua história do ponto de vista de várias pessoas, o protagonista é Francis, mas tem capítulos narrados do ponto de vista de Theresa, seu sequestrador, membros da organização que está tramando contra Francis, sua vice, pessoas da equipe dele e até de pessoas comuns, que de alguma forma se relacionam com a trama, mesmo que de maneira mínima. O leitor então, pode ter uma visão mais ampla de toda a história, e assim consegue formar a sua própria opinião sobre os fatos.
A maneira com que Puzo constrói Francis também é bem interessante. No começo do livro, ele é retratado como um idealista, que não deseja nada além de melhorar os Estados Unidos, como seus tios, ele foi eleito pelo partido democrata, por isso é considerado um liberal. As ideias de Francis, por outro lado, nem sempre batem com esses ideais, mas ele parece de fato acreditar que é um homem bom e justo, seu caráter muda quando sua filha é assassinada em um sequestro político, perpetado por um estrangeiro, ele se vê se vingando contra o país do homem, que nada teve a ver com ação do sequestrador, mais tarde, ele começa a defender uma nova espécie de poligrafo, que impediria o suspeito de mentir, mas que também vai contra os direitos humanos básicos.
O seu pedido de impeachment começa a ser articulado, Francis perde popularidade e a reeleição antes tão certa, começa a desparecer, o que faz Francis se tornar autoritário. Puzo desenvolve bem essa mudança de Francis, que no começo é um idealista, mas vai se tornando um homem triste, desesperado, autoritário e por fim, disposto a praticamente tudo para manter seu poder. O autor fala especificamente de Francis, mas a sua maneira, diz muito sobre toda e qualquer pessoa que se torna poderosa e que depois não quer perder o poder de maneira nenhuma.
Como no livro mais famoso de Puzo, O Poderoso Chefão, O Quarto K é uma obra sobre o poder, mas ele aborda outro tipo de poder, já que aqui o poder advém de uma eleição e é um poder dentro da lei, mesmo quando Francis começa a passar por cima de direitos e questões básicas.
O Quarto K começa muito bem, e rapidamente prende o leitor, mas vai perdendo a força com o tempo, justamente porque se afasta de Francis em momentos chaves e porque tem tantos personagens que é fácil se perder nas tramas e nomes. A leitura não é fluida como acontece nos livros mais famosos do autor, o que dificulta um pouco.
O Quarto K parte de um tema muito interessante e que tem grandes chances de chamar a atenção de um número grande de leitores, ele é quase um livro de ficção especulativa, já que se passa em “um futuro próximo”, mas que usa não só de elemento reais, mas de pessoas reais, o livro, no entanto, perde o ritmo no meio do caminho e vai se tornando parado e lento, não chegando nem perto das melhores obras do autor.
Título no Brasil: O Quarto K
Título original: The Fourth K
Autor: Mario Puzo
Tradução: Pinheiro de Lemos
Gênero: Thriller, Suspense
Ano de lançamento: 1990
Editora: Record
Número de Páginas: 464
Foto: Fernanda Cavalcanti