Nessa autobiografia, o jornalista Alexander Münninghoff, explora a sua própria família, a ligação de seu pai com o nazismo e a separação de seus pais, que eventualmente, afetou toda a sua vida.
The Son and Heir: A Memoir (“O Filho e Herdeiro: Uma Memória”, em tradução livre) pode ser considerado uma autobiografia, mas explora muito mais a vida dos antepassados de Münninghoff do que dele próprio. A ideia mesmo é focar no seu pai, que lutou com o exército nazista e que foi renegado pelo avô de Münninghoff, justamente por isso.
Para tal, o autor mergulha fundo na história da família, e percorre a juventude de seus avôs, tanto paternos, quanto maternos, conta como eles se conheceram, e depois explora a vida de seus pais e tios e vai ligando as histórias até chegar nele mesmo.
A grande temática do livro é a relação do pai de Münninghoff com o nazismo, mas essa história não é muito explorada, mesmo porque com o tempo é possível perceber que não é como se ele concordasse com toda a política de Adolf Hitler ou como se ele fosse muito relevante dentro do partido, a impressão que se tem é que ele era um homem desinformado que comprava ideias fáceis e criminosas. Mas claro que essa também pode ser a impressão que Münninghoff quer passar, uma vez que é difícil analisar a participação do seu pai no que, possivelmente, é o ato mais cruel que a humanidade já perpetuou.
O pai do autor de fato lutou do lado dos nazistas, mas depois que se machucou e foi dispensado, voltou para casa e não se envolveu mais com o assunto. Por isso, o leitor tem a sensação de que comprou gato por lebre, já que The Son and Heir: A Memoir se vende como uma obra sobre um filho tentando entender e fazer as pazes com o passado terrível de seu pai, tudo bem que não deve ser uma sensação agradável saber que seu pai lutou do lado errado da história, mas a propaganda do livro faz ele parecer muito mais envolvido e, portanto, muito mais culpado do que ele de fato é.
Münninghoff também fala muito rapidamente sobre a participação de seu pai na guerra, e logo parte para outros assuntos que envolvem sua família, como a relação que ele tinha com seu avô paterno, que depois que o filho virou nazista, resolveu que o neto era o seu verdadeiro e único herdeiro – Münninghoff era o primeiro filho, do filho mais velho de seu avô -, sua relação com seus tios, sua relação com a mãe a maneira que seu pai mudou depois que ele voltou da guerra.
O autor relaciona o retorno da guerra com a separação dos pais, que faz com que seu pai se case de novo, e peça a guarda integral do filho e que sua mãe tente fugir da cidade com ele. O pai de Münninghoff ganha a guarda do filho e ele passa a viver com o pai e a madrasta que não consegue ter filhos e por isso, passa a trata-lo como seu filho e nunca mais vê sua mãe, até a adolescência, quando ele resolve ir procura-la.
É certo que a história da família de Münninghoff é interessante, especialmente quando ele volta bastante no tempo e analisa seus ancestrais mais distantes, assim como a criação do autor é bem estranha, mas o fato de seu pai ter lutado na guerra não é um dos temas mais interessantes de The Son and Heir: A Memoir e soa mesmo como um chamariz.
O livro apresenta uma série de outros personagens, que tem características bizarras e que fazem com que a história pareça ficção. Como uma meia-irmã paterna que vive em uma comunidade hippie e que chantageia o pai de Münninghoff por anos a fio, de quem o autor só fica sabendo depois da morte do patriarca, um amigo de seu pai que jurava que era pai dessa meia-irmã, a madrasta que soa estranhamente mais dedica a ele que seu pai e sua mãe e uma meia-irmã materna que está presa.
O autor no meio disso tudo, soa quase como uma criança abandona, afastado da mãe e exigido pelo pai, que depois lhe dá pouca atenção, lhe sobre apenas uma madrasta frustrada que sonhava em ser mãe e que projeta nele todo os seus desejos.
The Son and Heir: A Memoir naturalmente respinga na vida do próprio Münninghoff, porque é impossível contar a sua saga familiar sem falar dele, mas dá muito mais destaques da sua infância do que da sua vida adulta. Os acontecimentos da idade adulta são pontuados com acontecimentos da vida de outras pessoas, como por exemplo, quando ele comenta que seu pai faleceu logo depois que sua esposa perdeu o segundo filho dos dois e mais tarde, fala que a sogra foi uma ótima avó para o filho biológico dele e para a filha que ele e a esposa adotaram depois que ela perdeu mais um bebê. Münninghoff não dá detalhes sobre seu namoro, casamento ou sobre o nascimento de seu filho, porque ele parece não ter qualquer intenção de falar sobre sua própria vida particular, mas sim sobre a vida particular de seus antepassados.
A ideia é sim interessante e demanda muita pesquisa, assim como muita coragem, uma vez que ele mergulha em segredos de família e passa a ver pessoas que ele admirava de outra maneira, mas a obra muitas vezes é lenta e embora seja ótimo entrar em contato com essa história, as propagandas do livro parecem fazer mais alarde sobre o assunto do que é necessário. The Son and Heir: A Memoir não é exatamente um livro sobre um filho lidando com o fato de seu pai ter sido nazista, é mais um filho e neto, contando a história de seus pais e avôs e admitindo os erros dessas pessoas.
The Son and Heir: A Memoir parte de uma boa proposta e durante um tempo, prende a atenção do leitor, mas não entrega tudo que promete e deixa um pouco a desejar.
Título original: The Son and Heir: A Memoir
Autor: Alexander Münninghoff
Gênero: Não-ficção, Autobiografia, Biografia
Ano de lançamento: 2020
Editora: Amazon Crossing
Número de Páginas: 279