“Acreditamos todos que é impensável que o amor de nossa vida possa ser uma coisa leve, uma coisa imponderável: achamos que nosso amor é o que devia ser; que sem ele nossa vida não seria nossa vida. Convencemo-nos de que Beethoven em pessoa, triste e de cabelo revoltos, toca seu ‘Es muss sein!’ para nosso grande amor”.
A Insustentável Leveza do Ser acompanha quatro personagens: Tereza, Tomas, Sabina e Franz e suas relações, que eventualmente se misturam e refletem na vida um dos outros.
Tomas é um médico tcheco, que acredita que sexo e amor são coisas completamente separadas e que mesmo casado com Tereza, mantém uma série de relações extraconjungais. Tereza é uma mulher dependente, que se apoia em Tomas quase que o tempo todo, ela sabe dos casos do marido e se chateia, mas nunca vai embora.
Já Sabina é uma das amigas mais próximas de Tomas, e também sua confidente, ela mantém um relacionamento sexual com Tomas e eventualmente, uma relação um pouco mais séria com Franz, um professor que a idolatra.
A Insustentável Leveza do Ser é um livro marcado pela dualidade: a obra segue a história de dois casais, Tomas e Tereza e Franz e Sabina, mas Tomas e Sabina também formam um casal mesmo que não tradicional. Para além disso, existe uma óbvia semelhança entre as personalidades de Tomas e Sabina e de Franz e Tereza. Como Tomas, Sabina acredita que amor e sexo são coisas separadas e raramente se mantém fiel, ela é uma mulher livre e muito confiante, e é por isso, que ela e Tomas se dão tão bem.
Já Tereza é uma mulher dependente, que pensa que não consegue viver sem Tomas e por isso, mesmo se magoando, aceita as traições. Esse é um sentimento que podemos ver também em Franz, que se apaixona por Sabina por que vê nela uma mulher livre e a idolatra a ponto de relevar o que ela faz, mas que também se magoa com facilidade.
Esses personagens nem sempre se cruzam, Tereza e Sabina sabem da existência uma da outra, mas não se conhecem pessoalmente, e Tereza e Franz nem sabem nada um do outro, mas a vida e os atos de um, influência na vida de outro.
Falando isso, parece que A Insustentável Leveza do Ser é um livro de romance, que narra a relação desses dois casais, mesmo que esses romances não sejam nada romantizados ou idealizados, mas não é nada disso, uma vez que Kundera retrata esses casais como forma de falar sobre questões um pouco maiores do que seus relacionamentos.
Entre as histórias e falas desses personagens, o escritor coloca pensamentos existencialistas, que questionam a felicidade, o compromisso e a liberdade. A trama, aparentemente romântica, ainda que muito realista, é quase como uma desculpa para que Kundera faça, através de seus personagens, uma série de reflexões. Tomas, por exemplo, pode ter um problema com fidelidade, mas todo o seu pensamento contrário a monogamia é uma maneira de falar sobre a prisão em que ele sente na sua própria vida, e não só no seu relacionamento com Tereza.
A Insustentável Leveza do Ser é um livro marcante, que tem muita informação, embora pareça sutil, e que merece ser lido mais de uma vez para que seja possível compreender todo o conteúdo da obra. A leitura, no entanto, é rápida e fácil, porque a trama é muito interessante e muito bem escrita, mas isso não significa que é possível compreender tudo que o livro fala em uma primeira leitura.
A Insustentável Leveza do Ser prende o leitor, porque tem uma trama bem escrita, com personagens instigantes, ao mesmo tempo, que faz uma profunda reflexão sobre a vida e as prisões em que nós mesmos nos colocamos, sejam elas de qualquer espécie.
Título no Brasil: A Insustentável Leveza do Ser
Título original: Nesnesitelná lehkost bytí
Autor: Milan Kundera
Tradução: Tereza Bulhões de Carvalho
Gênero: Clássico
Ano de lançamento: 1984
Editora: Companhia de Bolso
Número de Páginas: 312
Foto: Fernanda Cavalcanti
Um comentário em “A Insustentável Leveza do Ser, Milan Kundera”