John tem quatorze anos e vive com sua mãe, seus irmãos e Gabriel, um homem que ele acredita ser seu pai. Gabriel é ministro da Igreja Pentecostal e todos esperam que John siga seus passos.
O garoto, no entanto, começa a questionar tudo que aprendeu desde cedo e enquanto compreende melhor seu pensamento, suas ideias, sua sexualidade e sua fé, ele começa a pensar que talvez ele queira tomar um caminho diferente do que esperam dele.
Go Tell It on the Mountain é o primeiro livro de James Baldwin e tem muitos aspectos autobiográficos. O livro acompanha John Grimes, um adolescente que acabou de completar quatorze anos e vive no Harlem, em Nova York, em uma família extremamente religiosa. Como seu protagonista, Baldwin também era um garoto negro, que foi criado em um lar muito religioso, e que também se viu dividido entre a sua religião, suas ideias e sua sexualidade.
O livro retrata John enquanto ele percebe que talvez, o destino que planejaram para ele, não é o que ele realmente quer. Embora ele seja religioso e se sinta constantemente culpado por cometer, o que a igreja diz, serem pecados, John nota que ele não concorda com tudo que a igreja fala. O romance também dá a entender que John é homossexual, o que também é um grande pecado dentro da igreja, embora isso nunca fique totalmente claro.
John também lida com uma situação complicada dentro de casa, ele é o filho mais velho de Gabriel Grimes – que depois descobrimos ser na verdade, o padrasto de John – o ministro da Igreja Pentecostal, que é amado por todos os fiéis. No entanto, Gabriel tem dois lados: em casa ele é violento com seus filhos e em determinado momento do livro, descobrimos que ele também manteve um caso extraconjugal, o que mais uma vez vai contra o que ele mesmo prega.
A dualidade de Gabriel, que também é uma grande hipocrisia, é mais uma das questões que se somam na mente de John, quando ele começa a se questionar sobre todos os aspectos de sua vida. Go Tell It on the Mountain é um romance amadurecimento, que retrata questões muito especificas, como as relações de raça, classe e gênero no Harlem dos anos 30, a relação de seu protagonista com a igreja e com sua religião, mas também que fala de elementos que são facilmente reconhecíveis por qualquer pessoa que já foi adolescente, como o descobrimento da sexualidade e a procura por um lugar onde exista algum sentimento de pertencimento.
Mas a obra vai um pouco mais além, uma vez que não retrata só John, mas também conta, em flashbacks, as histórias de Gabriel, Richard, o pai biológico de John, Elizabeth, a mãe de John e Florence, a irmã de Gabriel. Através das histórias de vida de todos esses personagens, é possível entender quem eles são quando suas vidas se cruzam com a de John, quase como se todos eles também formassem John e suas dúvidas e questionamentos.
Go Tell It on the Mountain é um romance que retrata personagens que, na época em que o livro foi escrito, não tinham voz e que quase nunca eram retratados em obras literárias, e os temas que ele traz à tona são muito importantes e relevantes ainda hoje, mas o livro tem muitos personagens e vai e volta no tempo com uma certa frequência, o que pode deixar a leitura um pouco confusa e atrapalhar o leitor.
Não é que o livro tenha um ritmo lento, mas as vezes é difícil acompanhar a trama e saber exatamente o que o autor está narrando, e isso deixa a leitura um pouco cansativa. Essa questão, no entanto, não diminui a obra de Baldwin.
Go Tell It on the Mountain é um romance de amadurecimento, com questões importantes e que merecem ser retratadas, mas a trama complexa pode tornar a leitura difícil, ainda que seja necessário reconhecer a habilidade de Baldwin e a relevância de sua trama.
Título original: Go Tell It on the Mountain
Autor: James Baldwin
Gênero: Clássico
Ano de lançamento: 1953
Editora: Vintage Books
Número de Páginas: 263
Foto: Fernanda Cavalcanti