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A Última Palavra, Hanif Kureishi

“As palavras eram a ponte para a realidade; sem elas só existia caos”.

Harry é um jovem escritor contratado para escrever a biografia de Mamoon Azam, um famoso autor indiano radicado na Inglaterra, de quem ele é um grande fã. Harry pretende retratar a vida de Mamoon com fidelidade e respeito, mas a editora deseja uma biografia recheada de sexo, adultério e polêmicas.

Harry é convidado a passar um tempo na casa de Mamoon para que possa entrevistá-lo e se aproximar da rotina do escritor. Harry então, tenta saber mais sobre Mamoon, que dificulta seu trabalho o máximo possível, enquanto Mamoon tenta criar uma nova versão da sua vida para melhorar sua imagem.

A Última Palavra é, em muitos sentidos, uma grande sátira ao mundo literário e a sua história se passa nesse universo, os dois personagens principais do livro são escritores: Harry, um jovem romancista, que ainda não conseguiu emplacar, e que teme ter que se tornar professor de escritora criativa caso a biografia de Mamoon não dê certo e Mamoon, um escritor muito famoso e muito adorado, mas que aos sessenta anos já não tem muito apelo entre o público jovem. A escrita da biografia de Mamoon então, na teoria, é boa para os dois, já que Harry vai passar a ser levado a sério dentro da comunidade literária e Mamoon vai voltar a vender seus livros.

Harry então passa a viver na casa de Mamoon e tenta a todo custo entrevistá-lo, mas acaba servindo de ombro amigo para Liana, a esposa frustrada de Mamoon, enquanto Mamoon foge das perguntas mais reveladoras. Harry começa a ficar cada vez mais bravo com a relação que tem com Mamoon e se vê pressionado pela editora que deseja um livro picante.

Eventualmente ele consegue penetrar na mente do escritor e descobrir alguma coisa, assim como chega até a entrevistar Liana e a ex-amante de Mamoon e tem acesso aos diários da primeira esposa do escritor.

O que Harry percebe, no entanto, é que Mamoon pode ser um gênio literário, mas não é uma pessoa muito boa, ele tem um histórico de abandonar mulheres e manter relações extraconjugais, que levam suas parceiras a depressão.

A Última Palavra parece querer falar justamente sobre isso: a decepção de um fã com seu ídolo, quando entra em contato com a pessoa que ele é para além de sua obra e de uma certa maneira, da cultura do cancelamento. A pergunta que permanece na cabeça de Harry enquanto ele descobre mais sobre a vida de Mamoon é “eu posso ignorar a vida particular dele e os pecados que ele cometeu só porque sua obra é genial?”. O tema do livro fala muito com a atualidade, uma vez que somos, quase que constantemente, expostos a caso de homens geniais, que cometeram atrocidades nas suas vidas pessoais e que durante muito tempo foram consideráveis intocáveis, justamente porque suas obras são, supostamente, geniais, como acontece por exemplo com Woody Allen e Roman Polanski.

Quando o livro saiu, em 2013, a semelhança entre a vida de Mamoon e do escritor V. S. Naipaul chamou a atenção e muita gente concluiu que Mamoon era um alterego de Naipaul, Kureishi nunca confirmou. Embora A Última Palavra trate de temas importantes e atuas, ele parece querer trabalhar muito mais na comédia, tudo na trama do livro é bem surreal e ele mistura momentos sérios, referências literárias e passagens sexuais que soam até grosseiras e muito próximas da pornografia barata.

Essa sensação parece ainda maior quando percebemos que por mais que Harry julgue Mamoon, ele não é muito diferente de seu ídolo e seu comportamento começa a piorar quanto mais tempo ele passa com Mamoon, ele também mantém um caso com uma das empregadas de Mamoon, mesmo tendo uma relação estável em Londres.  

Além disso, muitos dos personagens de A Última Palavra parecem ser propositalmente estereotipados, como Liana, a esposa insatisfeita, que gasta demais e Alice, a namorada de Harry, que só pensa em moda e é, aparentemente, fútil.

A Última Palavra é um livro divertido, mesmo que seus personagens sejam, de certa maneira, problemáticos e que seja muito fácil sentir raiva deles, inclusive do protagonista, no entanto, ele não é especialmente incrível e sua trama é facilmente esquecível. É um bom livro, que entretém, mas que dificilmente vai ficar na memória do leitor por muito tempo.

A leitura, no entanto, é rápida, e como ele é engraçado e curto, também é fácil.

A Última Palavra é uma grande sátira, que é sim, divertida em vários momentos, mas que deixa um pouco a desejar e não entrega tudo que promete.

Título no Brasil: A Última Palavra

Título original: The Last Word

Autor: Hanif Kureishi

Tradução: Rubens Figueiredo

Gênero: Contemporâneo

Ano de lançamento: 2013

Editora: Companhia das Letras

Número de Páginas: 312

Foto: Fernanda Cavalcanti

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