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Vitorianas Macabras, Várias autoras

“Se um espírito sem corpo é terrível, o que dizer de um corpo inútil e solitário. Preso aqui na terra…sem um espírito?” – A Prece – Violet Hunt

Vitorianas Macabras é uma coletânea, organizada por Marcia Heloisa, que reúne treze contos de terror, escrito por mulheres que viveram na época vitoriana.

A era vitoriana é marcada por alguns avanços tecnológicos, mas também por uma série de comportamentos conservadores, o reinado da rainha Vitoria ainda é lembrado pelo luto em que a rainha entrou depois da morte de seu marido, Albert, em 1861, o que deu a todo o período uma aura macabra.

A ideia de Vitorianas Macabras segue essa linha, no entanto, traz uma inovação, já que sempre que se fala em era vitoriana, os escritores que vem a mente são, geralmente, homens. Aqui todos os contos são escritos por mulheres.

O livro traz trezes contos, todos inseridos no gênero do terror, e as escritoras presentes na coletânea são Charlotte Riddell, Louisa Baldwin, Edith Nesbit, Violet Hunt, Amelia B. Edwards, Charlotte Brontë, Elizabeth Gaskell, Mary Braddon, Margaret Oliphant, Rhoda Broughton, H.D. Everett, Vernon Lee e May Sinclair.

Os contos escolhidos apresentam os mais variados tipos de terror e elementos diversos do gênero, A Porta Sinistra, de Charlotte Ridell, por exemplo, acompanha um jovem que deve abrir uma porta que ninguém consegue abrir, em uma casa, que aparentemente é assombrada, enquanto Mortos em Mármore, de Edith Nesbit, apresenta um jovem casal, que acabou de se mudar para uma casa que causa terror na comunidade. A Prece, de Violet Hunt, fala sobre uma mulher recém viúva que implora que o marido volte a vida, mas que logo se arrepende de seu desejo, e A Maldição da Morta, de H.D. Everett, acompanha um viúvo que deseja se casar novamente, mas que é perseguido por uma maldição.

O que é especialmente interessante em Vitorianas Macabras é justamente a maneira com que o livro mostra todos esses incríveis contos escritos por mulheres – inclusive por autoras que não são conhecidas por escreverem terror, como Charlotte Brontë – e deixa claro, primeiro que as mulheres vêm escrevendo literatura desde sempre, mesmo que nunca tenham tido o mesmo espaço dos homens, e segundo que mulheres escrevem contos de terror, um gênero que normalmente é relacionado a escritores masculinos. A variedade de temas, assuntos e elementos é outra questão muito importante aqui.

A organizadora e tradutora do livro é a doutora em Literatura Comparada na Universidade Federal Fluminense, Marcia Heloisa, que além da curadoria muito bem-feita, também escreve a introdução que nos coloca dentro do período vitoriano, explicando os costumes e hábitos da época, assim como boa parte da história da rainha Vitoria. No final, ela ainda nos apresenta uma série de textos que detalham lugares e acontecimentos da época, como os Freak Shows, as casas de ópio, os hospícios, os crimes de Jack, o estripador e as brigas entre animais que eram comuns na época. Portanto, o leitor não só entra em contato com os treze contos, como também aprende uma série de informações novas sobre o período, que muitas vezes, complementam a leitura das histórias.

A edição da DarkSide Books é sempre um show a parte, além de ser linda, com detalhes em vermelho e preto, ela também vem com ilustrações que combinam demais com o tema e fotos e pequenas biografias das mulheres que fazem parte da coletânea. Além disso, o livro ainda tem recomendações de filmes e séries que retratam o período.

É importante ressaltar que nem todos os contos foram publicados na era vitoriana, mas que todas as autoras do livro viveram esse período.

A importância de um livro como Vitorianas Macabras é gigante, uma vez que ele traz a tona autoras que não são necessariamente famosas no Brasil, mas que merecem mais divulgação, a ideia de apresentar contos – que são, em sua maioria, relativamente curtos – faz com que o leitor não só conheça o trabalho dessas mulheres, como também possa avaliar se gostou ou não e eventualmente ir atrás de mais trabalhos das autoras presentes na coletânea.

A leitura é fácil, rápida e muito interessante, mas claro que, como acontece com frequência em livros de contos, um trabalho pode agradar mais que outro. Vitorianas Macabras é um trabalho inédito, que não só divulga autoras e mulheres importantes, como também aproxima os contos delas de um público maior.

Título no Brasil: Vitorianas Macabras

Título original: Vitorianas Macabras

Autora: Várias autoras

Organizadora: Marcia Heloisa

Tradução: Marcia Heloisa

Gênero: Terror, Contos

Ano de lançamento: 2020

Editora: DarkSide Books

Número de Páginas: 384

Foto: Fernanda Cavalcanti

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