Evan Hansen (Ben Platt) é um adolescente que sofre de ansiedade social e que tem muita dificuldade em se relacionar com pessoas da sua idade, ele faz tratamento com uma psicóloga, que recomenda que ele escreva cartas para si mesmo, onde relata como foi seu dia.
Uma das cartas, no entanto, acaba indo parar nas mãos de Connor Murphy (Colton Ryan), o valentão da escola, que é tão solitário quanto Evan e que reconhece o nome de sua irmã, Zoe (Kaitlyn Dever), por quem Evan tem uma queda, na carta. Connor se mata naquela noite e seus pais (Amy Adams e Danny Pino) encontram a carta de Evan e supõe que Connor escreveu um bilhete de suicídio para Evan e que os dois eram melhores amigos.
Evan não tem coragem de desmentir e então, começa a se passar por melhor amigo de Connor, inventando histórias sobre ele e se portando como uma pessoa de luto, a convivência o aproxima de Zoe, o que para Evan é mais uma vantagem. Evan também se torna automaticamente popular e começa a fazer um projeto de prevenção ao suicídio com Alana Beck (Amandla Stenberg).

Mas Evan passa a se sentir cada vez mais culpado, embora ainda goste da atenção que está recebendo e se sinta parte da família Murphy, ele começa a pensar se deve ou não contar a verdade.
Querido Evan Hansen é inspirado no musical Dear Evan Hansen.
Dear Evan Hansen estreou off-Broadway em 2016 e no mesmo ano chegou a Broadway, o musical é um sucesso e ainda está em cartaz, embora tenha mudado de elenco algumas vezes, ele foi indicado a nove Tonys Awards e levou para casa cinco deles, incluindo melhor musical e melhor ator para Ben Platt, que também interpreta Evan no filme. Apesar de ser um grande sucesso de público e de crítica, Dear Evan Hansen é um musical com uma sinopse um tanto quanto questionável.

Aqui acompanhamos Evan, um adolescente que tem muita dificuldade de se relacionar com outras pessoas, a plateia nunca fica sabendo exatamente o que ele tem, mas sabemos que ele toma remédios, que ele faz acompanhamento psicológico e que ele se esforça para tentar melhorar, é por isso, que ele escreve cartas para ele mesmo, que sempre começam com “Querido Evan Hansen”, onde ele conta as coisas boas e ruins que aconteceram no dia dele, mais ou menos como um diário. Ele imprime uma dessas cartas, que deve levar para a consulta, na escola e a carta acaba na mão de Connor Murphy, um valentão solitário da escola, que já tinha ameaçado Evan antes, mas que fica mais bravo ainda quando percebe que Evan está falando de Zoe, irmã de Connor, na carta. Connor então, se suicida e a carta de Evan, encontrada com ele, acaba se passando por uma carta de suicídio, que a família de Connor acredita ter sido escrita para Evan.
Os pais de Connor, Cynthia e Larry, procuram Evan acreditando que ele e Connor eram melhores amigos e Evan não só não desmente essa história, como ainda acrescenta mais um monte de camadas e praticamente se infiltra na família Murphy. A aproximação resulta em um namoro com Zoe.
O grande problema de Querido Evan Hansen é, na realidade, um problema que já existe no musical e que é base para toda a história: Evan é o protagonista e a plateia deveria sentir pena de sua solidão e compreender suas ações e mentiras em função disso, mas ele mais parece um vilão. Tudo bem que Evan cai de paraquedas na história de Connor e que não consiga desmentir o que os pais em luto de Connor dizem, mas ele mantém a mentira durante bastante tempo, inventa passeios que os dois fizeram juntos, forja e-mails e mais tarde, se aproxima de Zoe, de quem ele sempre gostou, usando a morte do irmão dela. Ele continua repetindo, como uma forma de justificar, que ele não tem coragem de tirar essa última esperança da família, mas na realidade, ele parece estar gostando do status que sua suposta amizade com Connor o dá, tanto na família Murphy, quanto na escola.

Assim o filme já sai de um lugar não muito confortável. No entanto, o musical, de alguma maneira, funciona, já que ele é repleto de músicas bem escritas e que no teatro, tudo é um pouco mais envolvente e, portanto, é mais fácil entrar na história, se emocionar e compreender Evan.
É óbvio que Querido Evan Hansen parte de boas intenções e tem como princípio discutir assuntos sérios e importantes, o filme tem uma série de personagens que lidam com problemas psicológicos, como depressão e ansiedade, e fala sobre pessoas que tem dificuldade em se relacionarem e que cometem ou pensam em cometer suicídio. A questão é como a trama escolhe abordar esses assuntos: Evan é um adolescente que não consegue fazer amizades, mas isso justifica a mentira que ele não só mantém como também aumenta conforme o tempo vai passando? A situação piora ainda mais quando pensamos que Evan sempre gostou de Zoe, mas os dois só começaram uma relação depois que ela passou a acreditar que Evan e Connor eram amigos.
O fato do filme também não se preocupar em deixar muito claro que o que Evan fez foi errado é outro problema, já que as atitudes dele podem passar como algo que ele fez porque é muito jovem e não pensou o suficiente sobre o assunto ou ainda algo que ele fez para que os pais de Connor se sentissem melhor, quando na realidade, a única pessoa que está ganhando com as suas mentiras é ele mesmo. Por isso, por mais que a plateia entenda que Evan é solitário e não sabe se comportar socialmente, também porque ele ainda é um adolescente, ela também se pergunta por que ele não cortou toda essa situação antes.

O longa tem ainda outros problemas, como por exemplo, a pouca adaptação que aconteceu entre o teatro e o cinema, embora Querido Evan Hansen tenha um cenário cinematográfico, que usa de vários lugares, ele ainda é um filme muito teatral, seja na maneira com que as músicas aparecem em cena, seja nas atuações de boa parte do elenco, que é exagerada e típica do teatro, onde a audiência vê de longe e precisa saber o que está acontecendo. O fato dele também ser um filme longo parece ser um problema da adaptação, já que mais uma vez é muito mais fácil se cansar assistindo um filme musical do que assistindo uma peça musical, onde a plateia está bem mais envolvida.
Outra questão é a escalação de Ben Platt, que causou polêmica desde o começo. Platt interpretou Evan Hansen na montagem original da Broadway, de 2016 a 2017, ele inclusive ganhou o Tony Award de melhor ator em um musical, em 2017, mas atualmente Platt tem vinte e oito anos e Evan tem dezessete. Atores adultos costumam interpretar personagens adolescentes com uma certa frequência e não existe nenhum problema nisso, a produção se torna, inclusive mais fácil, já que adultos podem trabalhar mais tempo e podem fazer cenas mais explicitas de sexo, o grande problema aqui é que Platt parece ter a sua idade, em momento nenhum ele parece ser um adolescente de dezessete anos e sim, um homem adulto de trinta anos, que é o que ele de fato é, a sensação fica ainda maior quando o assistimos ao lado dos outros atores que interpretam adolescentes, e que também são adultos, mas que parecem mais novos, como Kaitlyn Dever, que tem vinte e quatro anos, e Amandla Stenberg, que tem vinte e três. Quando Platt interpretou Evan no teatro, ele tinha vinte e três anos e no teatro, onde a plateia não o vê tão de perto, sua idade ou a idade que ele aparenta ter não são tão relevantes assim, mas no cinema, é muito difícil disfarçar.
Os números musicais de Querido Evan Hansen também não parecem completamente adaptados, tirando Sincerely, Me, onde Evan imagina e-mails que ele e Connor teriam trocado, e que se apresenta como um dueto, onde acompanhamos os dois jovens fazendo uma série de coisas, boa parte das músicas são apresentadas com os personagens conversando ou pensando alto, sem muitas coreografias e com uma montagem pouca inspirada, o que mais uma vez é um problema, já que essa técnica funciona no teatro, mas nem tanto assim no cinema. A pouca variedade de números musicais e em certa medida, até de ritmo das músicas, torna o filme um pouco cansativo, quase como se acompanhássemos uma única cena musical, grande demais.

Platt é de fato, muito talentoso, ele canta muito bem e atua bem, embora não esteja tão bem em Querido Evan Hansen, mas ele não parece ser um adolescente e a escolha dele para o papel de protagonista soa errada, o que somado ao fato do pai de Platt, Marc Platt, ser um dos produtores do filme – e do musical – dão a todo esse evento uma aura que não precisaria ter se tivessem escalado um ator com a aparência de dezessete anos.
Claro que o musical tem coisas boas, as músicas, por exemplo, são um dos pontos fortes do filme e provavelmente um dos motivos da peça ter feito tanto sucesso e ser tão querida. Waving Through a Window é linda e resume muito bem a personalidade de Evan, Sincerely, Me é uma música divertida, ainda que macabra, e a única que tem um ritmo um pouco diferente do resto da trilha sonora. Embora as músicas sejam relativamente parecidas e com ritmos bem próximos, a trilha sonora é boa e faz com que o telespectador fique com ela na cabeça por um tempo.

Querido Evan Hansen ainda tem boas atuações, como a de Kaitlyn Dever e Amandla Stenberg, Amy Adams e Julianne Moore, por outro lado, soam meio desperdiçadas em um filme que está claramente mais interessado em focar nos sentimentos dos jovens. Platt não está ruim, sua performance vocal é ótima, mas seus maneirismos são muito teatrais e ficam exagerados em cenas que o acompanham de perto e quase o tempo todo em close up.
No entanto, Querido Evan Hansen pode ser uma boa diversão, mesmo que tenha seus problemas e que não seja exatamente um filme muito informativo em relação ao suicídio, a depressão e a ansiedade social. Na pior das hipóteses, o longa vai despertar a curiosidade do grande público em relação ao musical, que parece ser um pouco melhor que sua adaptação.
Título no Brasil: Querido Evan Hansen
Título original: Dear Evan Hansen
Direção: Stephen Chbosky
Gênero: Comédia, Musical, Drama
Nacionalidade: Estados Unidos
Ano: 2021
Duração: 2h 17min
Elenco: Ben Platt, Julianne Moore, Kaitlyn Dever, Amy Adams, Danny Pino