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Vermelho, Branco e Sangue Azul, Casey McQuiston

“- Quem foi que decidiu que a política precisa ser sobre mentir, se esconder e ser algo que você não é?”.

Alex Claremont-Diaz é o filho da primeira presidenta dos Estados Unidos, Ellen Claremont, e forma junto com sua irmã, June e com a neta do vice-presidente, Nora, um grupo de jovens que sempre atraem a atenção da imprensa e que servem como uma jogada de marketing para a provável reeleição de Ellen.

Alex, no entanto, detesta o príncipe Henry, da Inglaterra, que chama tanta atenção quanto ele. Depois que os dois brigam no casamento do irmão de Henry, Phillip e destroem o bolo, causando um reboliço, a casa branca e a família real resolvem que os dois precisam fingir que são melhores amigos, para que a rivalidade entre os dois não prejudique nenhum dos lados.

O que no começo é um suplicio para Alex, vai aos poucos se tornando suportável, já que ele conhece Henry melhor e os dois se tornam amigos, até que Henry beija Alex e os dois embarcam em um romance quase na mesma época que começa a campanha para o segundo mandato de Ellen, colocando em risco a eleição e os direitos e deveres de nascença de Henry.

Vermelho, Branco e Sangue Azul parte de uma premissa bem interessante e de certa maneira diferente, é quase como se acompanhássemos uma versão LGBTQIA+ de um conto de fadas moderno, onde um garoto conhece um príncipe e os dois se apaixonam. Mas aqui o garoto em questão não é um garoto comum e sim, o filho da presidenta dos Estados Unidos.

Não sabemos em momento algum em que época o livro se passa, embora ele apresente uma série de referências aos dias atuais, mas é importante dizer que os personagens do livro são totalmente fictícios e que a autora não cita nenhum político ou membro da família real que realmente exista. A ideia, inclusive, parece ser imaginar uma realidade alternativa, que até pode se passar nos dias de hoje, mas não reflete a realidade.

Vermelho, Branco e Sangue Azul é um romance, no sentido mais clássico da palavra. O livro tem alguns assuntos sérios, mas ele é, na maior parte do tempo, bem água com açúcar e até aí, tudo bem, a ideia é essa mesma e quem mergulha na leitura já espera encontrar esse tipo de livro. A obra usa de vários clichês, como os inimigos que se apaixonam, e uma relação proibida.

Mas a verdade é que existe pouco desenvolvimento da relação de Alex e Henry no livro, no começo os dois se odeiam e brigam o tempo todo, então rapidamente viram amigos e quase na próxima página já estão apaixonados, a partir daí, Vermelho, Branco e Sangue Azul já não tem mais para onde ir, já que o que o leitor esperava já aconteceu. O livro então, se dedica a retratar algumas cenas de sexo, até um pouco explicitas, mas que se baseiam mais em sex talks, do que no próprio ato em si e que muitas vezes, soam como pornografia barata. Mais uma vez, não existe nenhum problema em um livro que se baseia em seus momentos românticos e nas suas cenas de sexo, mas é que aqui é tudo pouco desenvolvido e, portanto, pouco realista.

Talvez o problema de Vermelho, Branco e Sangue Azul seja o fato de o livro ser escrito por uma mulher bissexual, que embora faça parte da comunidade LGBTQIA+, não sabe exatamente como é a vivência de homens gays e bissexuais e que por isso, o livro soe como uma história escrita especificamente para o público feminino, mas não tanto para o público LGBTQIA+ masculino, embora os protagonistas sejam um homem gay e um homem bissexual. Ninguém dúvida das boas intenções de McQuiston, afinal, Vermelho, Branco e Sangue Azul tem bastante representatividade de todos os tipos, tenta retratar uma boa parcela da sociedade nas suas páginas – Henry é gay, Alex e Nora são bissexuais e a obra tem vários personagens latinos – e apresenta uma mulher como presidente dos Estados Unidos, mas quando ela trata de alguns temas mais sérios, como homofobia e a dificuldade de se assumir, o livro não parece muito realista.

Para além disso, o livro também tenta se embrenhar em questões políticas, que recebem muito menos atenção do que o romance, mas que também não estão aqui só como pano de fundo. Vermelho, Branco e Sangue Azul fala sobre a campanha de Ellen e sobre outros acontecimentos que podem influenciar sua reeleição, mas não se preocupa muito em se aprofundar ou explicar essa parte da trama.

Claro que o livro tem pontos interessantes, como os personagens diversos, que representam minorias, embora pareça que a autora os colocou ali justamente para isso, mas enfim, já é um começo, e o fato de Alex não saber que é bissexual até começar seu relacionamento com Henry e os leitores acompanharem seu processo de descoberta. O romance também tem seus momentos bonitinhos e é possível torcer por Alex e Henry, mas de uma maneira geral, Vermelho, Branco e Sangue Azul é um livro muito bobinho e até meio decepcionante, já que promete muito, mas entrega muito pouco.

Também é importante ter em mente que Vermelho, Branco e Sangue Azul é um livro voltado para o público adolescente e que por isso, ele pode não funcionar tão bem com faixas etárias que não são essas. Além disso, a ideia do livro é apresentar um romance água com açúcar, bobinho, com algumas cenas de sexo, e não ser um livro profundo que fale sobre relações LGBTQIA+ ou sobre política americana.

Claro que é importante produzir literatura LGBTQIA+ de todos os gêneros, inclusive, romances, onde as coisas são fantasiosas, mas nem por isso é preciso produzir um livro onde pouca coisa acontece e que perde a graça logo que o casal principal começa seu romance.

A leitura de Vermelho, Branco e Sangue Azul começa interessante e é fácil se prender a ela, mas com o tempo, justamente porque a relação entre Henry e Alex é o ponto alto do livro e isso acontece logo no começo, a obra se torna parada e um pouco chata, o leitor passa a se perguntar o que mais pode acontecer, uma vez que os protagonistas não só já se apaixonaram, como também já estão namorando em segredo.

Vermelho, Branco e Sangue Azul é uma leitura leve e tem seus momentos fofinhos, o que claro pode agradar alguns leitores, mas sua trama é um pouco cansativa e o romance não é tão empolgante assim, fazendo com que o livro seja só mais um entre vários, apesar de sua premissa relativamente criativa.

Título no Brasil: Vermelho, Branco e Sangue Azul

Título original: Red, White & Royal Blue

Autora: Casey McQuiston

Tradução: Guilherme Miranda

Gênero: Romance, LGBTQIA+, Contemporâneo, Young Adult

Ano de lançamento: 2019

Editora: Seguinte

Número de Páginas: 392

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