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A Guerra Suja, Mario Puzo

“Homem algum consegue controlar-se se dor afetado nos pontos certos. Nem um só”

Depois do final da segunda guerra mundial, Walter Mosca, um americano que lutou na guerra e agora vive nos Estados Unidos, resolve voltar para Berlim na tentativa de retomar a vida que tinha por lá.

Quando ele chega na Alemanha, ele percebe que embora o país não esteja mais na guerra, a paisagem ainda é desoladora e as pessoas parecem ainda mais perdidas que Mosca.

A Guerra Suja é o primeiro livro de Mario Puzo, mas só se tornou um bestseller depois do sucesso de O Poderoso Chefão, o trabalho mais famoso do autor. É muito difícil, portanto, não relacionar Puzo a sua obra mais conhecida e mais ainda aos seus livros que abordam a máfia. A Guerra Suja, no entanto, é muito diferente desses outros livros.

A trama do livro se passa assim que acaba a segunda guerra mundial e a princípio, acompanhamos Walter Mosca, um soldado, que lutou na guerra e que criou uma nova vida na Alemanha, que incluía uma namorada, Hella, que inclusive, estava grávida quando ele saiu de Berlim e alguns amigos. Mosca já retornou aos Estados Unidos, mas não consegue esquecer Berlim, ou o que ele passou por lá. Sem pensar muito, Mosca deixa para trás sua família e uma noiva, e volta para a Alemanha, pensando em viver lá e procurar Hella e seu filho, que a essa altura já nasceu.

Mosca encontra Berlim ainda destruída, e as pessoas, ainda com menos esperanças que ele. A guerra acabou, mas o trauma é permanente, seus amigos já não se comportam da mesma maneira e o bebê que Hella esperava nasceu prematuro e morreu logo depois. Mesmo assim, todos eles tentam retomar o tempo de guerra e viver como se nada tivesse acontecido. Obviamente isso não é viável.

O assunto abordado em A Guerra Suja é bem interessante, a guerra é uma questão importante no livro, mas Puzo parece querer analisar o que a guerra causa as pessoas e não tem um personagem de A Guerra Suja que não está traumatizado ou perturbado. O protagonista Mosca deseja voltar para Berlim, porque ainda se lembra vividamente do que viu e sentiu enquanto lutava na guerra, Hella está deprimida com a perda do filho e acredita que Mosca nunca mais vai voltar, Leo, um judeu sobrevivente, luta para entender a maldade humana, enquanto encara obsessivamente os números que tem marcados para sempre no braço, ele já não confia mais em nenhum amigo, o livro tem ainda outros personagens que também apresentam comportamentos estranhos, depressivos e problemáticos, como o médico desesperado que vende morfina estragada para Mosca.

Nesse sentido, os personagens são muito bem escritos, porque embora tenhamos um protagonista e alguém que na teoria é uma mocinha, todos os personagens têm defeitos muito marcantes e tomam atitudes questionáveis durante o livro. Mosca, que é o protagonista, está longe de ser bonzinho, ele é, inclusive, bem problemático, já que trata mal sua mãe, e sua noiva americana e nem sempre é muito legal com Hella, que parece ser a pessoa com quem ele mais se importa. Puzo não é conhecido por escrever heróis – os personagens de O Poderoso Chefão, por mais glamourizados que sejam, são criminosos -, mas Mosca é um personagem bem perturbado, que dificilmente vai agradar alguém. Faz sentido que ele assim o seja, já que ele passou por uma guerra e luta com isso diariamente. A trama e os personagens de A Guerra Suja são muito realistas.

Outra característica de A Guerra Suja é o excesso de personagens, como também é comum nas obras de Puzo, e que o leitor acompanha boa parte deles, o livro não é narrado só do ponto de vista de Mosca, mas também de Leo, Hella e de outros personagens que aparecem ao longo da história. Se por um lado isso é bem interessante, já que temos acesso a vidas e pensamentos distintos e, portanto, podemos visualizar a trama de forma mais abrangente, por outro, é fácil confundir os personagens, especialmente os que aparecem menos e não são tão importantes.

A Guerra Suja no entanto, tem um problema, a trama é meio perdida e é difícil entender para onde ela vai ou qual é o propósito da história, a ideia de Puzo parece ser narrar o dia a dia desses personagens e o desespero que assola a vida de cada um deles, o que pode deixar o livro um pouco parado.

A Guerra Suja é um livro curto, mas a leitura é um pouco lenta e embora ele comece bem interessante, o meio é um pouco chato, A Guerra Suja retoma seu ritmo mais para o final, mas as partes arrastadas prejudicam a obra toda.

A Guerra Suja é um livro razoável, que prende o leitor durante um tempo, embora não chegue aos pés dos livros mais famosos de Puzo.

Título no Brasil: A Guerra Suja

Título original: The Dark Arena

Autor: Mario Puzo

Tradução: Áurea Weissenberg

Gênero: Ficção Histórica, Thriller

Ano de lançamento: 1955

Editora: Círculo do Livro

Número de Páginas: 278

Foto: Fernanda Cavalcanti

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