Crime real, livros

BTK: Meu Pai, Kerri Rawson

“Era mais fácil ser dura do que amar, porque o amor doía muito, custava muito”.

Kerri Rawson sempre acreditou que tinha a família perfeita, e admirava especialmente seu pai, Dennis Rader, com quem ela costumava acampar e fazer trilhas. Até que em 2005, um policial bateu a sua porta e lhe contou que seu pai era o BTK (iniciais de Bind, Torture e Kill – Amarrar, torturar e matar) e que ele tinha assassinado dez pessoas.

BTK: Meu Pai retoma toda a vida de Rawson, enquanto ela tenta entender quem realmente era seu pai e como que nem ela, nem o resto da família, perceberam o que estava acontecendo.

Livros de crime reais são relativamente comuns, especialmente nos Estados Unidos, mas BTK: Meu Pai é um livro diferente, embora também fale sobre crimes que realmente aconteceram. BTK: Meu Pai é uma espécie de autobiografia de Kerri Rawson, filha do serial killer BTK.

O livro começa com Kerri contando sua vida desde antes dela nascer, já que ela explica a história de sua família, e a origem de seu pai e de sua mãe. A princípio, a família de Kerri soa como qualquer família, com pais bem ajustados, filhos bem-criados e uma casa bonita e confortável, até boa parte do livro, ela nem cita o grande tabu de sua história, o que faz sentido, claro, porque Kerri, sua mãe e seu irmão não sabiam nada sobre o que o pai dele fazia.

A autora dá bastante destaque a sua relação com seu pai, que é amorosa e muito próxima. Kerri e o pai tem o costume de acampar e fazer trilhas, os dois também tem vários interesses em comum. Como lemos o livro do ponto de vista de Kerri, Dennis Rader, o pai dela, parece um cidadão modelo, bom pai, bom marido, trabalhador, divertido e simpático, e isso acontece porque Kerri via seu pai como um herói. O leitor também consegue ver Rader por esse prisma, mesmo sabendo quem ele de fato é e do que ele foi capaz de fazer.

Apesar de tudo isso, Kerri também consegue relembrar as falhas e os problemas de Rader, como o fato de que as vezes, ele era violento com a família, a ponto de tentar sufocar seu próprio filho. Mesmo assim, Kerri vê sua vida como um conto de fadas e seu pai como um homem bom.

Seu mundo desmorona quando ela descobre que ele é o BTK, um serial killer que vinha agindo na área a um tempo, e que tinha, inclusive, matado pessoas que Kerri conhecia de vista. Para Kerri é impensável que o seu pai seja o mesmo homem que foi capaz de torturar e matar uma série de mulheres e até algumas crianças, porque Rader passou anos vivendo uma vida dupla. Kerri então, começa a relembrar tudo, as coisas boas e as coisas ruins e se questionar quem é o homem que a criou, ela é incapaz de deixar de falar com ele, apesar de tudo.

BTK: Meu Pai é um livro interessante porque é escrito de um ponto de vista muito exclusivo e bem diferente, não existem muitos livros que focam no que os familiares de criminosos pensam e sentem, mas é um fato que Kerri e sua família não sabiam praticamente nada sobre os crimes do BTK e mesmo agora, ela parece não saber muita coisa, talvez de maneira voluntaria. Por isso, o livro não tem muita informação sobre os crimes ou sobre a investigação, esses assuntos vêm à tona quando cruzam a vida de Kerri.

O que é importante em BTK: Meu Pai é o retrato próximo que Kerri faz desse homem, que para o resto do mundo é um monstro, é até difícil se desassociar do que sabemos de Rader enquanto lemos o que sua filha, que tem memorias boas e carinhosas do seu pai, tem para dizer, porque parece que falamos de pessoas distintas. Isso prova que, diferente do que muitos pensam, serial killers não são monstros de histórias, mas sim pessoas que levam vidas normais, ao mesmo tempo, que matam de maneira cruel.

Uma das informações instigantes que Kerri nos dá é a maneira com que Rader reage a morte de seu pai, segundo sua filha, Rader ficou inconsolável, o que prova que ele não é um homem frio, que não liga para morte, mas só que ele é um homem que não liga para a morte de pessoas especificas, muito possivelmente porque vê essas pessoas como objetos, que existem apenas para satisfazer seus desejos e fantasias.

Também é interessante acompanhar a maneira com que Kerri lida com uma notícia dessa, embora o livro fique um pouco mais lento depois que ela descobre quem seu pai é e começa a tentar entender o que aconteceu.

A leitura de BTK: Meu Pai é rápida e prazerosa, Kerri escreve bem e mesmo que estejamos acompanhando uma vida comum, o que ela conta prende a atenção, BTK: Meu Pai não é um livro muito explicito, com descrições muito claras dos assassinatos, Kerri nem fala sobre o modus operandi do pai, o que parece razoável, mas o que pode desagradar quem tem interesse em saber mais sobre os crimes de BTK. No entanto, a obra cumpre seu papel, a ideia da autora parece ser querer nos contar sobre como é carregar a carga de saber que seu pai matou dez pessoas, e é isso que vemos no livro.

Embora não seja exatamente um livro focado nos crimes de BTK, BTK: Meu Pai é a visão bem próxima de um homem terrível, a partir de um olhar carinhoso e durante muito tempo, cheio de admiração.

Título no Brasil: BTK: Meu Pai

Título original: A Serial Killer’s Daughter

Autora: Kerri Rawson

Tradução: Monique D’Orazio

Gênero: Crime real, Não Ficção, Autobiografia

Ano de lançamento: 2019

Editora: Darkside Books

Número de Páginas: 384

Foto: Fernanda Cavalcanti

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