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Demônios da Loucura, Aldous Huxley

“Pregar é uma arte, e nela, como em todas as outras artes, os maus excedem em número os bons”.

Em 1634, um grupo de freiras Ursulinas, que viviam em um convento em Loudun, na França, começaram a se comportar de maneira estranha, o que levou o cardeal Richelieu a chegar à conclusão de que todas elas estavam possuídas por demônios. Segundo ele, Urbain Grandier, um padre do convento, teria seduzido todas as freiras do local e participado dos rituais de invocação.

Em Demônios da Loucura – também publicado como Os demônios de Loudun – Aldous Huxley analisa as supostas possessões e o que poderia estar por trás delas.

Demônios da Loucura é um livro que fala sobre um evento que de fato aconteceu, ele não é um romance e, portanto, não narra esses fatos de maneira romanceada, ele é um livro informativo, que mais se encaixaria no gênero do ensaio, onde Huxley conta o que acontece no convento de Loudun e faz uma análise.

Huxley começa explanando os fatos: em 1634, um grupo de freiras que vivem em um convento começaram a manifestar comportamentos estranhos, a primeira a se dizer possuída é a madre superiora Joana dos Anjos, mas logo todas as freiras admitem também estarem possuídas. O cardeal Richilieu, depois de uma investigação, culpa o padre Grandier, que teria supostamente seduzido as freiras e invocado o demônio.

O livro deixa bem claro que não acredita na teoria da possessão e traz muitas teorias do que poderia realmente ter acontecido, Richileu odiava Grandier e pode ter aproveitado a chance para se vingar de seu inimigo – Grandier foi preso, torturado, julgado e depois morto na fogueira -, a suposta possessão das freiras também permitia que elas falassem o que quisessem, sem serem responsabilizadas por isso, o que poderia ser uma resposta delas ao ambiente extremamente repressivo da igreja católica e mais ainda do convênio. Outra explicação, que é a mais comum, diz que as possessões poderiam ser resultado de uma mistura de repressão sexual e histeria.

Huxley lembra que nessa época muitas das freiras que viviam no convento não estavam lá por vocação ou por vontade própria, já que muitas famílias não conseguiam casar suas filhas por falta de dote e como maneira de sustentá-las, as colocavam no convento, então, é possível que boa parte das freiras vivendo em Loudun estivessem lá contra suas vontades, o que aumentaria ainda mais a pressão, causando a histeria coletiva.

A freiras então são submetidas a exorcismos, que na prática, não passam de abuso de poder e torturas, mas a situação parece nunca melhorar e as freiras ficam cada vez mais perturbadas, uma delas diz estar possuída por vários demônios e que cada um habita uma parte do seu corpo. Ao mesmo tempo, enquanto os métodos de exorcismos ficam mais violentos e abusivos, elas passam a desabafar entre si sobre o fato de não estarem realmente possuídas.

O ensaio de Huxley é bem competente e ele não demonstra suas opiniões pessoais, o autor dá muitos fatos e conta a história com maestria, mesmo assim, é possível entender que Demônios da Loucura é uma crítica a igreja católica e a hipocrisia que ronda a instituição, isso porque a possessão das freiras pode ser o ponto inicial do caso, mas não é isso que chama mais a atenção na trama: o livro fala sobre política, poder, abuso, repressão e traz a tona o fato de que as freiras possuídas viraram uma atração e trouxeram uma série de visitas ao convento, por isso, elas nunca estavam curadas.

É óbvio que Huxley fez muita pesquisa e sua analisa é bem completa, Demônios da Loucura foi publicado em 1952 e nessa época o que aconteceu no convento de Loudun já soava absurdo, hoje então, fica mais do que claro que os exorcismos eram nada mais que uma forma de abuso por parte dos padres, que se sentiam no domínio dos corpos femininos do local. Em alguns sentidos, o livro pode soar um pouco datado, como quando Huxley fala de histeria, já que nos dias de hoje, sabe-se que muitas mulheres consideradas histéricas eram só mulheres inconformadas com suas realidades e vidas, mas ele é de uma certa maneira, bem atual.

Embora o livro seja bem escrito e o ensaio interessante, a leitura de Demônios da Loucura é difícil, o livro demora a engatar e sua trama só começa a ficar bem instigante depois da página 100, a escrita de Huxley é complexa e as vezes é até complicado entender tudo completamente. No entanto, Demônios da Loucura é um trabalho importante, que analisa não só a hipocrisia da igreja católica e dos seus métodos e tradições, mas também do machismo.

Demônios da Loucura é um ensaio moderno e realista, que explana com perspicácia um evento absurdo, ao mesmo tempo que faz uma crítica a sociedade e um dos seus pilares.

Título no Brasil: Demônios da Loucura/Os demônios de Loudun

Título original: The Devils of Loudun

Autor: Aldous Huxley

Tradução: Sylvia Taborda

Gênero: História, Não Ficção

Ano de lançamento: 1952

Editora: Biblioteca Azul

Número de Páginas: 400

Foto: Fernanda Cavalcanti

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