Nimona é uma metaforma poderosa que pode se transformar em qualquer pessoa ou qualquer animal, mas que na maioria do tempo, está na forma de uma garota. Seu sonho é ser ajudante do vilão Ballister Coração-Negro, mas quando ela consegue falar com ele e é aceita, ela descobre que embora ele queira se vingar, ele tem uma ética que impede que ele faça muita coisa. Nimona, por outro lado, não vê problemas em passar dos limites para conseguir o que quer.
Enquanto os dois tentam provar que a instituição que declara quem é herói e quem é vilão, da qual Ballister já fez parte, não é tão boa assim, Ballister precisa enfrentar seu ex-melhor amigo e atual arqui-inimigo, Sir Ambrosius Ouropelvis, e evitar que Nimona destrua todo o reino nesse processo.
Nimona é uma graphic novel focada tanto em Nimona, quanto em Ballister e ainda tem alguns relances das vidas de outros personagens, como Ambrosius. A história é narrada de pontos de vistas diferentes, por isso, nunca temos acesso completo ao que aquele personagem está pensando, Nimona é a protagonista, mas assim como Ballister não sabemos nada da vida pregressa dela, já que o graphic novel começa literalmente com ela chegando na casa de Ballister e se oferecendo para ser ajudante dele.
Nimona também se passa em um universo muito particular, o mundo da obra é uma espécie de mundo medieval, mas com tecnologia, que tem heróis e vilões e inicialmente, temos a impressão de acompanhar os vilões da história, já que Ballister é conhecido no reino como um super-vilão e Nimona quer ser a ajudante de um vilão. A graphic novel não se preocupa tanto assim em nos apresentar esse mundo, que é muito diverso de tudo que já vimos, mas vai demonstrando como que esses personagens vivem ao longo da história, a ideia de que uma instituição decide quem é vilão e quem é herói é um tanto quanto absurda a princípio, mas faz sentido dentro da trama e logo no começo do livro essa questão já está esclarecida.
Com o tempo a ideia de que Ballister é um super-vilão também muda, já que ele na realidade, é uma pessoa cheia de princípios, que se recusa a executar sua vingança por vários motivos, Nimona é diferente, ela está disposta a tudo, inclusive a matar, mas também não conseguimos vê-la como uma vilã terrível. Por outro lado, Ambrosius, que é o herói oficial do reino, tem atitudes até mais vilanescas que Ballister e a obra se estabelece nessas duas disparidades, ainda que na verdade, o que Nimona queira dizer é que ninguém é completamente mau e ninguém é completamente bom, inclusive entre supostos heróis e vilões.
Também é bem interessante a maneira com que Noelle Stevenson usa de um subtexto queer e LGBTQIA+, nada é totalmente explicito, mas existe uma forte representação não-binaria em Nimona, já que ela muda de forma constantemente e nunca se define como uma coisa só, sua forma mais comum é de uma garota, mas ela vira um gato, um dragão e várias pessoas de gêneros diferentes ao longo do livro. Além disso, existe praticamente uma confirmação de que Ballister e Ambrosius foram um casal no passado, isso nunca é dito com todas as letras, mas é dado a entender com bastante veemência.
A ideia desses ex-namorados que agora, na teoria, se odeiam e são arqui-inimigos, então, é ainda mais instigante. Isso porque Ballister vive dizendo que tem um plano de vingança contra Ambrosius – que quando eles eram mais jovens cortou seu braço em uma luta -, mas ele nunca executa essa vingança, não sabemos o que Ambrosius pensa sobre a relação dos dois, mas ele também não parece disposta a machucar Ballister mais uma vez.
No mais, Nimona é uma aventura, que mistura magia, fantasia e a ideia bem atual de um mundo habitado por heróis, com poderes ou não, e vilões. Ambrosius e Ballister parecem ser pessoas comuns, que apenas se comportam dentro desses dois papéis, mas Nimona de fato tem poderes e como ela tem poucos escrúpulos, ela é um perigo constante. Claro que para gostar do livro é preciso mergulhar nessa história, sem questionar muito as questões que são propostas e que fazem parte desse universo, que não é real, mas é bem pensado e faz sentido na trama.
Ainda que Nimona seja uma história de fantasia, cheia de aspectos fantásticos, ela trata de temas comuns a humanidade, como amizade, traição e amor, e ainda traz uma questão maior sobre a maldade. A trama é repleta de fantasia e emoção, mas também tem um aspecto humano muito claro, que curiosamente, é maior por parte do suposto vilão do que por parte de outros personagens.
A leitura é bem rápida e muito prazerosa, as ilustrações são lindas, mesmo que a graphic novel seja um pouco escura, o livro também é razoavelmente curto.
Nimona se coloca como uma história onde os personagens são bandidos ou mocinhos, mas ao longo do tempo, fica claro que muito mais do que uma história sobre heróis e vilões, Nimona é uma história sobre pessoas, que são extremamente realistas, ainda que dentro de um mundo fantástico.
Título no Brasil: Nimona
Título original: Nimona
Autora: Noelle Stevenson
Ilustradora: Noelle Stevenson
Gênero: Graphic Novel, Fantasia
Ano de lançamento: 2015
Editora: Intrínseca
Número de Páginas: 272
Foto: Fernanda Cavalcanti