“I am writing this because people i loved have died. I am writing this because when I was young I was full of the power of loving, and now that power of loving is dying. I do not want do die”.
“Eu estou escrevendo isso porque pessoas que eu amei morreram. Eu estou escrevendo isso porque quando eu era jovem, eu estava cheia da capacidade de amar, e agora essa capacidade está morrendo. Eu não quero que morra”. – Traduzido livremente por Fernanda Cavalcanti
Hannah Greenbaum e Michael Gonen se conhecem na universidade onde ela estuda literatura e ele faz doutorado em geologia e logo se casam. A vida dos dois parece perfeita para quem vê de fora e um filho, Yair, vem para completar a aparente felicidade do casal.
Mas Hannah e Michael são muito diferentes um do outro e ela esta infeliz e insatisfeita em todos os aspectos do casamento, Hannah também tem dificuldades em conviver com o filho, que é muito parecido com o pai. Com o tempo, ela passa a se entregar a delírios e fantasias, que se tornam cada vez mais frequentes e cada vez mais fortes, fazendo com que Hannah não saiba mais o que é real e o que não é.
Meu Michel começa nos contando como Hannah e seu futuro marido, Michael se conheceram, ainda jovens, em uma universidade. Tudo é narrado em primeira pessoa pela própria Hannah, que conta a sua história de algum futuro que não sabemos qual é. A trama se desenvolve a partir daí e segue bastante tempo acompanhando o relacionamento do casal, que é um dos pontos mais importantes de Meu Michel.
A protagonista da história é Hannah, essa jovem mulher, casada com um homem com quem ela não se dá bem, vivendo uma vida infeliz. Michael não é um homem cruel ou violento, ele é até bem gentil, mas Hannah está insatisfeita com seu casamento, com sua vida sexual, com sua falta de oportunidade, e até com o filho, que lhe lembra o pai.
Mas o casamento de Hannah e automaticamente, Michael, é quase tão importante quanto Hannah, já que é a convivência dos dois, que parece equivocada desde o princípio, que estimula as fantasias de Hannah.
Parte da frustração de Hannah se dá pelo fato dela ser uma mulher vivendo na Jerusalém dos anos 50 e já não ter muita liberdade, embora ela esteja cursando literatura quando conhece Michael, mas ela é infeliz em muitos aspectos da sua vida para além disso.
A infelicidade a insatisfação levam Hannah a criar suas próprias fantasias, que vão desde fantasias do dia-a-dia, onde ela se imagina vivendo uma vida mais feliz, até fantasias sexuais, que envolvem sadomasoquismo. As fantasias de Hannah e como elas se relacionam com a frustração que ela sente na sua vida real, são os pontos mais interessantes do Meu Michel. É importante ressaltar que o livro foi publicado em 1968 e que por isso, trata de temas muito modernos, até para os dias de hoje, que dirá para a época.
No entanto, o livro também é um pouco confuso, o que faz sentido, já que estamos acompanhando delírios da protagonista e que o leitor também sente que está embarcando nessa loucura que aos poucos toma conta de Hannah.
Meu Michel começa bem, descrevendo o relacionamento de Hannah e Michael, mas como ele é narrado por Hannah e como ela se entrega cada vez mais as suas fantasias, a narração também passa a se tornar confusa e quase onírica.
A obra é muito bem escrita, mas a leitura é um pouco difícil, ainda mais para quem deseja que os acontecimentos sejam descritos de maneira clara e não gosta tanto assim de interpretar o que lê, o livro é curto, mas ler ele em mais tempo pode ser mais interessante, já que é necessário mergulhar nos delírios da protagonista para entender Meu Michel totalmente.
Ainda assim, Meu Michel fala de assuntos importantes, como a independência feminina, que Hannah não tem, a infelicidade no casamento, a maternidade compulsória, entre outras coisas.
É inegável que Meu Michel é um grande livro, que se sobressai pelo seu tema moderno para a época de seu lançamento, ele pode, por outro lado, desagradar o público que gosta de leituras mais sóbrias, mas vai deliciar quem estiver disposto a mergulhar como Hannah, em suas fantasias e delírios.
Título no Brasil: Meu Michel
Título original: מיכאל שלי Mikha’el sheli
Autor: Amos Oz
Tradução: Milton Lando
Gênero: Ficção Histórica, Clássico
Ano de lançamento: 1968
Editora: Companhia das Letras
Número de Páginas: 304
Foto: Fernanda Cavalcanti