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Filme: Boa Sorte, Leo Grande, 2022

Nancy Stokes (Emma Thompson) é uma mulher sexualmente reprimida que nunca se sentiu satisfeita no seu casamento. Agora, aos cinquenta e cinco anos, e em busca de mais experiência, ela resolve contratar o jovem Leo Grande (Daryl McCormack) para um programa.

O que começa como um encontro sexual vira um meio de Nancy conhecer a si mesma e refletir sobre a própria vida e as próprias decisões.

Parece natural, em função da sinopse, supor que Boa Sorte, Leo Grande é um filme sobre sexo, mas isso não podia estar mais longe da verdade. Ele começa assim, mas tudo é uma grande desculpa para retratar outras questões e outros sentimentos. A protagonista do longa é Nancy Stokes, uma mulher de cinquenta e cinco anos, que nunca se sentiu sexualmente satisfeita no seu casamento, nunca teve um orgasmo e sente que não tem nenhuma experiência sexual. Nancy contrata Leo Grande, um garoto de programa, com quem ela pretende fazer tudo que sempre sonhou, mas claro que as coisas não são tão simples quanto Nancy idealizou.

Boa Sorte, Leo Grande na realidade, é um filme sobre repressão sexual e em muitos sentidos, sobre a criação feminina, Nancy é uma mulher mais velha, criada dentro de uma cultura que não acredita no prazer feminino e que cresceu acreditando que devia “se guardar” para o casamento, mas que não encontrou nenhuma satisfação sexual com o marido. Agora com mais de cinquenta anos, ela sente que não aproveitou a vida e que precisa correr atras do prejuízo.

O encontro então, cujo objetivo inicial é o sexo, se torna uma grande reflexão, onde Nancy conta todos os seus segredos e sua história de vida, tentando explicar e justificar o porquê de ela estar ali. Ela luta com o próprio preconceito não só em relação a sua sexualidade e seus desejos, mas também em relação a profissão de Leo, que aqui é desmistificada.

Para além dessa exploração – no bom sentido da palavra – da sexualidade feminina e mais ainda, da sexualidade feminina de uma mulher mais velha, que raramente recebe atenção na ficção, Boa Sorte, Leo Grande trata de outros temas bem interessantes e que merecem ser debatidos, como a maternidade, as escolhas que Nancy fez ou deixou de fazer, feminismo, a cultura do estupro e masturbação feminina. A vida de Leo também ganha um pouco de aprofundamento, mas o grande foco de Boa Sorte, Leo Grande é Nancy e isso por si só já é muito diferente, já que mulheres com mais de quarenta anos quase nunca são protagonistas.

Provavelmente um dos motivos que fazem de Boa Sorte, Leo Grande um filme tão diferente é o fato de que tanto a roteirista, Katy Brand, quanto a diretora, Sophie Hyde, são mulheres e isso fica claro, uma vez que o filme aborda questões femininas e as aborda de maneira muito realista e muito sincera. Boa Sorte, Leo Grande é um filme muito honesto sobre questões sobre as quais normalmente não falamos, como tabus sexuais e questionamentos sobre maternidade, desejos e satisfação sexual que são reprimidas e quase nunca ditas em voz alta.

Mas claro que o sexo também é uma questão presente no longa, embora ele seja muito mais falado do que feito, o filme tem sim, cenas de sexo bem explícitas, mas que fazem muito sentido dentro da trama. Boa Sorte, Leo Grande também tem cenas de nudez, as dele, um tanto quanto sexualizadas, as dela, bem mais honestas e realistas, sem qualquer intenção de explorar ou especular o corpo feminino.

Também é interessante notar que o filme todo se passa praticamente dentro do quarto de hotel onde os dois se encontram em datas diferentes e que o elenco consiste quase que unicamente em Thompson e McCormack. Um elenco maior ou um cenário abrangente não fazem falta, o telespectador fica realmente focado em Nancy e Leo durante o filme todo, nada mais interessa.

Parte disso se deve aos atores, que estão ótimos em seu papel. McCormack é charmoso e se sai bem na transição do garoto de programa bonito e seguro, que sabe tudo que está fazendo, para o jovem que tem problemas com a mãe e que apesar da aparência impecável, tem inseguranças, enquanto Thompson passa de uma mulher que não sabe muita coisa, que tem medo de tudo e que tenta usar do humor para sair de situações constrangedoras, para primeiro uma mulher que abre todas as suas feridas para um estranho, e depois, para uma mulher mais segura de si e de sua sexualidade.

Boa Sorte, Leo Grande é um filme raro, onde não só temos uma protagonista feminina, que é incomum, inclusive para os filmes que já tem essa proposta, como também trata de questões muito ligadas ao universo da mulher, e que também tem na sua produção duas mulheres. É esse olhar feminino em todas as vertentes que fazem do longa um retrato bem honesto não só de Nancy, mas também das pressões, medos e repressões que circundam todas as mulheres, de qualquer geração e de qualquer lugar.

Boa Sorte, Leo Grande tem pré-estreias a partir do dia 21 de julho e chega aos cinemas no dia 28 de julho.

Título no Brasil: Boa Sorte, Leo Grande

Título original: Good Luck To You, Leo Grande

Direção: Sophie Hyde

Gênero: Comédia, Romance

Ano: 2022

Duração: 1h 37min

Elenco: Emma Thompson, Daryl McCormack, Isabella Laughland, Les Mabaleka, Charlotte Ware

Distribuidora: Paris Filmes

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