Adaptações, Musicais, Teatro

Teatro: West Side Story, 2022

Na Nova York dos anos 50, a família de Maria (Giulia Nadruz) e Bernardo (Guilherme Logullo), imigrantes porto riquenhos, tenta mudar de vida. Bernanrdo é líder dos Sharks, uma gangue composta por outros adolescentes latinos, que está sempre rivalizando com os Jets, uma gangue composta por adolescentes americanos, em sua maioria, descendentes de poloneses.

Maria, por outro lado, não entende muito bem o motivo da briga e quando conhece Tony (Beto Sargentelli), que já fez parte dos Jets, se apaixona perdidamente. O amor é recíproco e os dois embarcam nesse romance que vai contra todas as leis das gangues de rua e que pode ter um final trágico.

West Side Story é uma modernização da peça Romeu e Julieta, de William Shakespeare.

West Side Story é um musical da Broadway que estreou em 1957, a ideia da trama é relativamente simples: ela traz para a Nova York dos anos 50, a trama de Romeu e Julieta. Para que isso funcione é necessário que se faça uma série de pequenas adaptações.

Em West Side Story o que impede que os protagonistas fiquem juntos não são suas famílias, mas sim, suas nacionalidades e as gangues das quais eles fazem parte, mesmo que não queiram. O musical estabelece que Nova York é dominada por duas gangues de rua: os Jets, compostas por jovens americanos, que muitas vezes são descendentes de poloneses, mas que sentem que os Estados Unidos é mais deles do que dos porto riquenhos e os Sharks, compostas de jovens porto riquenhos, que migraram recentemente para os Estados Unidos. Nenhuma das duas gangues aceita mulheres – embora tenha uma personagem feminina que queira fazer parte dos Jets -, mas é natural que a rivalidade se espalhe também entre as meninas de cada grupo.

Maria e Tony, os protagonistas, no entanto, parecem completamente imunes a essa rivalidade, ela é recém-chegada nos Estados Unidos e quer começar uma vida nova, ele saiu dos Jets recentemente, e só ajuda a gangue por causa de seu melhor amigo, Riff (Andre Torquato), o atual líder. Quando os dois se apaixonam à primeira vista durante um baile, então, a rivalidade começa a parecer cada vez mais estúpida, já que ela não só impede os dois de ficarem juntos, como também causa brigas entre famílias e é motivo de violência nas ruas.

Romeu e Julieta é uma tragédia de Shakespeare, portanto, parece natural que West Side Story siga o mesmo caminho, mas para além disso, o musical traz à tona temas que não estão presentes na peça original, e que falam mais com a época em que ele foi escrito e consecutivamente com os dias de hoje.

Algumas das grandes questões de West Side Story são a imigração, que aqui é focada só nos porto riquenhos, mas que em alguma medida também fala com os jovens americanos, que são, em sua maioria, descendente de poloneses e, portanto, imigrantes também, e a xenofobia, que esses personagens latinos sofrem. A guerra de gangues não tem nenhum outro motivo para além da xenofobia, uma vez que os adolescentes disputam territórios e que os Jets acreditam que os Sharks não pertencem a Nova York e devem voltar para Porto Rico. Não existe mistura entre essas duas gangues: os Jets só andam com americanos e só namoram meninas americanas e os Sharks só andam com porto riquenhos e só namoram meninas porto riquenhas. Tony e Maria parecem ser o primeiro casal que não segue essa linha.

A violência também está presente em todo o musical, e é de todas as vertentes, ela não é só física, é também sexual, os garotos se provocam, marcam brigas, marcam disputas, perseguem uns aos outros e se comportam como se estivessem em uma guerra. Existe também uma espécie de cumplicidade da polícia para com os Jets, embora o delegado finja parcialidade, ele é muito mais duro com os latinos, o que é é claro, um comentário social.

É interessante que West Side Story estivesse falando dos anos 50 quando foi escrito, mas que a peça ainda converse perfeitamente com os dias de hoje.

A montagem é bem fiel ao musical e é justamente por isso que se sai muito bem. O musical pode ser datado em alguns aspectos e pode não se relacionar com a plateia nessas questões, como por exemplo, a briga de gangues, que soa como uma coisa tipicamente dos anos 50 e que é frequentemente usada como artificio em obras que retratam essa época, mas uma vez que se está disposto a embarcar na trama e supõe-se que quem vai ao teatro assistir ao musical está disposto a tal, tudo na trama faz muito sentido.

West Side Story conta com coreografias que se integram ao seu cenário, cheias de assobios, estalar de dedos e claro, lutas, já que as gangues vivem em uma guerra constante. As músicas aumentam essa sensação e incorporam os sons da cidade, como o trânsito e as buzinas.

Por outro lado, a peça tem poucos momentos de alívio cômico, West Side Story não dá muitos respiros e com essa adaptação bem fiel e quase clássica, não existe muito espaço para colocar uma pequena gracinha, como geralmente acontece quando os musicais são adaptados para o Brasil, mas mais uma vez, é difícil imaginar um momento divertido em uma trama onde jovens estão dispostos a matar em função da xenofobia.

O musical conta com um bom elenco, os protagonistas Giulia Nadruz e Beto Sargentelli se saem bem, os intérpretes de Bernardo, Guilherme Logullo, e Riff, Andre Torquato, também estão ótimos no papel. O grande destaque é Ingrid Gaigher, que dá vida a Anita, de longe a melhor personagem da trama. Também é preciso destacar o talento do coro, que não só cantam em cena, como executam passos de dança muito complexos.

West Side Story também tem uma política de figurino bem interessante e que se mantém durante toda a peça: os americanos usam sempre tons de azul e os porto riquenhos usam sempre tons de vermelho, a exceção é Maria, que muitas vezes está de branco, com detalhes de vermelho, mas que é alguém que não só precisa ter um aspecto puro e virginal, como também não compreende toda a rivalidade que existe entre os Jets e os Sharks.

West Side Story não só é uma ótima adaptação, como também ainda conversa com os dias de hoje, o cuidado da montagem e a dedicação do elenco fazem o espetáculo valer o ingresso.

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