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Meu Policia, Bethan Roberts

“Mas o que eu quero…bom, é bem simples. Quero mais”.

Marion se apaixona por Tom, o irmão deu sua melhor amiga, desde a primeira vez que o vê e resolve que vai fazer de tudo para se casar com ele. Tom se alista no exército e depois se torna policial, enquanto Marion se torna professora, quando os dois se reencontram, eles começam um relacionamento de amizade e logo Tom a pede em casamento.

Patrick, o curador de um museu, também se apaixona por Tom quando o vê pela primeira vez, depois que Tom ajuda uma senhora que foi atropelada na frente de Patrick, e é retribuído, mas eles vivem no final dos anos 60 e não só existe um preconceito enorme, como é contra lei ser homossexual na Inglaterra. Os dois resolvem que o relacionamento dos dois deve ficar em segredo, e que o ideal é que Tom se case com Marion e mantenha Patrick escondido.

Essa relação a três segue até que as vontades dos envolvidos se choquem.

Meu Policial é narrado através do ponto de vista tanto de Marion, quanto de Patrick: ela através de cartas escritas já na velhice, ele através de um diário, escrito durante o período que ele conheceu Tom. Esse é um dos pontos mais interessantes do livro, já que como o próprio título deixa claro, a ideia é falar sobre Tom, então, nada mais lógico do que as duas pessoas que o consideravam o amor da vida delas, o fazerem com suas próprias palavras.

A narração de Marion começa quando ela conhece Tom, depois de passar o dia na casa da melhora amiga, Sylvie, e se apaixona por ele à primeira vista. Marion mal conhece Tom, mas nutre um sentimento por ele durante toda a adolescência, ainda que a própria Sylvie insinue algumas vezes que talvez Tom seja diferente dos outros rapazes e que talvez ele não se interesse por Marion, Marion parece não fazer a mínima ideia do que a amiga está falando e prossegue com a sua tentativa de conquistar Tom. Ela leva anos nesse processo, mas finalmente é pedida em casamento quando os dois já são jovens adultos, mas percebe que o casamento não vai ser bom já na lua-de-mel, quando Tom não parece nem vagamente interessado nela.

A narração de Patrick começa quando Tom e Marion já são adultos, embora Patrick seja um pouco mais velho que os dois, e ele conhece Tom, por acaso, na rua, quando Tom, a essa altura já um policial, ajuda uma senhora que foi atropelada bem na frente de Patrick. Patrick diz a Tom que deseja fazer uma pintura dele como desculpa para vê-lo mais uma vez, mas logo nota que Tom também está interessado em Patrick.

É importante ressaltar que Meu Policial se passa no final dos anos 50, e que nessa época era crime manter relações homossexuais na Inglaterra e quem fosse condenado podia, inclusive ser preso – a lei só mudou em 1967 -, por isso, existe uma certa lógica por trás de algumas das atitudes de Patrick. Ainda assim, no seu diário, Patrick narra com clareza como funcionava o meio gay na época, que vivia completamente na ilegalidade e que se escondia por trás de casamentos de fachadas. Claro que esse tipo de observação só pode ser feita em um livro escrito muito depois – Meu Policial foi publicado em 2012 -, e que tem o distanciamento histórico necessário para tal.

Outro ponto importante do livro é que nunca temos acesso ao que Tom está pensando, embora ele seja não só o centro do livro, mas também o centro da vida de Marion e de Patrick, os dois narradores, então não é possível determinar o que exatamente ele pensa sobre as duas relações que mantém, tudo que sabemos de Tom, sabemos em segunda mão, através de seus dois amantes. O que é interessante é que através dos olhos de Marion e de Patrick, Tom é um poço de perfeição, tanto fisicamente, quanto em suas características e valores, ele é descrito por ambos quase como uma espécie de deus, a verdadeira personalidade de Tom, no entanto, sobressai nas entrelinhas e nos subtextos do que os narradores nos contam. Com o tempo o leitor percebe que Tom é egoísta, não muito fiel, nem a Marion e nem a Patrick, e que ele não tem nem metade das qualidades que seus amantes lhe atribuem.

De uma maneira geral, Meu Policial narra uma história comum, os personagens são pessoas ordinárias, do dia a dia, que não fazem nenhum feito fora do normal, o que chama atenção aqui é o triangulo amoroso, que sempre passa despercebido por Marion, e a maneira com que o livro é narrado. Fica claro que Tom não é bom nem para Marion, nem para Patrick, mas os dois o amam demais para notar isso.

A leitura de Meu Policial é bem rápida e a escrita de Bethan Roberts também é competente, ainda que algumas vezes soe um pouco artificial, já que o livro é narrado em primeira pessoa por Marion e por Patrick, algumas das coisas que eles falam e algumas palavras que eles usam parecem muito mais saídas dos dias de hoje, do que dos anos 50. A história, que parece de amor, mas que é trágica e que consome esses personagens, tem aspectos muito reais, como por exemplo, o fato de ser crime manter relações homossexuais na Inglaterra na época e a parte ficcional também prende muito a atenção.

Meu Policial parece ser um livro de romance, mas é na realidade, um drama, que fala não só sobre seus três personagens principais, como também sobre a época em que eles viviam e a intolerância que reinava.

Título no Brasil: Meu Policial

Título original: My Policeman

Autora: Bethan Roberts

Tradução: Sofia Soter

Gênero: Romance, LGBTQIA+

Ano de lançamento: 2012

Editora: Melhoramentos

Número de Páginas: 280

Foto: Fernanda Cavalcanti

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