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Moisés Negro, Alain Mabanckou

“Era mesmo culpa da minha mãe? Só Deus pode julgar nossos atos, Pimentinha. Alguma vez procuramos saber o que há por trás de cada mulher que vende seus atributos, hein? Acham que é uma atividade que escolhemos como alguns escolhem se tornar cabeleireiro ou carpinteiro? Não se nasce puta, torna-se puta. Chega um dia em que nos olhamos no espelho, não há para onde ir, porque estamos em um beco sem saída. E depois damos o próximo passo, oferecemos nosso corpo com um sorriso vendendo a alguém que está passando na rua, porque é preciso atrair como em todo comercio. Precisamos nos convencer que, ainda que depreciemos esse corpo uma noite, vamos lavá-lo no dia seguinte para lhe devolver sua pureza. E o lavamos uma vez com água sanitária, o lavamos duas vezes com álcool, depois não o lavamos mais, assumimos daí por diante esses atos porque as águas da terra não poderão nunca proporcionar pureza a quem quer que seja”.

Tokumisa Nzambe po Mose yamoyindo abotami namboka ya Bakoko, também conhecido como Moisés, carrega nos ombros o peso de ter um nome tão grande e com um significado grandioso – “Demos graças a Deus, o Moisés negro nasceu na terra dos ancestrais” é a tradução do nome -, e vive em um orfanato, onde é constantemente perturbado pelos outros garotos.

Depois que ele foge do orfanato, ele fica pelas ruas e vive de pequenos furtos, enquanto tenta sobreviver no Congo-Brazzaville, nas décadas de 70 e 80.

Em muitos aspectos, Moisés Negros narra uma trajetória de vida relativamente comum, embora tenha alguns elementos específicos. A história se passa nos anos 70 e 80, no Congo, e segue um garoto órfão, que vive em um orfanato. Lá, ele só tem um amigo e tem problemas com os outros garotos, e leva uma vida dura.

O livro então segue Moisés durante praticamente sua vida toda: ele foge do orfanato, passa a morar nas ruas e viver de furtos, se junta a uma gangue e mais tarde, faz amizade com a dona de um bordel, onde ele passa a morar. Claro que a vida de Moisés é uma vida trágica e que a trama fala especificamente do período retratado e mais ainda, do lugar onde ela se passa, mas Moisés Negro lembra muito outros livros, como por exemplo, os trabalhos de Charles Dickens, que também retratam personagens órfãos, sobrevivendo em uma cidade grande.

Moisés Negro soa como uma denúncia ao que vemos nas suas páginas, seja o orfanato, onde Moisés não vive bem, sejam a condição de vida que se impõe sobre o protagonista, seja a vida das prostitutas com quem Moisés passa a conviver quando vai morar no bordel, seja o próprio governo, que abandona pessoas sem qualquer expectativa da vida, seja a sociedade, que sempre vê Moisés como um órfão e mais tarde, como um bandido.

A trama é triste, mas a narração, que em primeira pessoa, é cheia de ironia e piada, o que deixa o livro menos pesado, mas não exatamente leve. É quase como se o próprio Moisés fosse capaz de rir de sua situação, ainda que não tenha nada de engraçado nela.

No entanto, embora a trama de Moisés Negro seja relevante e o livro esteja repleto de personagens bem interessantes e muito bem escritos, ele é um pouco lento e pode se tornar monótono com o tempo.

O livro é curto, por isso a leitura é até rápida, apesar dele se tornar um pouco cansativo com o tempo. Ainda assim, Moisés Negro é um livro que tem sua importância, porque retrata uma situação e uma época.

Moisés Negro é um livro bem escrito, que começa bem, mas que desanda no meio do caminho e vai ficando lento com o tempo.

Título no Brasil: Moisés Negro

Título original: Petit Piment

Autor: Alain Mabanckou

Tradução: Paula Souza Dias Nogueira

Gênero: Ficção Histórica

Ano de lançamento: 2015

Editora: TAG Livros/Malê

Número de Páginas: 223

Foto: Fernanda Cavalcanti

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