“- Se a tortura é motivo de vergonha, Tenente, a solução é muito simples: basta não torturar”.
Na madrugada de 23 de abril de 1975, as Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, também conhecidas como ROTA, promoveu uma ação policial que culminou na morte de Francisco Nogueira Noronha, de dezessete anos, José Augusto Diniz Junqueira, de dezenove anos, e Carlos Ignácio Rodrigues Medeiros, de vinte e dois anos, três jovens de classe média de São Paulo.
O jornalista Caco Barcellos começou a investigar o caso e se deparou com uma série de mortes, na sua maioria de homens jovens negros de classe baixa, que tinham o envolvimento da polícia militar, chegando inclusive, a descobrir que alguns dos policiais tinham mais de dez mortes na sua ficha.
Rota 66 é o relato dessa violência policial.
Rota 66 é um livro não ficcional, que começou como uma reportagem de Caco Barcellos. O primeiro capítulo do livro retrata exatamente o começo dessa investigação, quando Barcellos começou a cobrir o caso da Rota 66, onde três jovens de classe média de São Paulo foram assassinados pela ROTA, porque foram confundidos com assaltantes, o caso chamou atenção justamente pela classe social dos três, e foi a porta de entrada do jornalista na história da polícia militar.
Barcellos dá bastante detalhes sobre o que aconteceu na noite de 23 de abrir de 1975, ele chega até a reconstruir a cena e narra-la do ponto de vista dos três jovens, o que dá uma dinâmica ainda mais assustadora para o caso. O caso da Rota 66, no entanto, é só a ponta do iceberg.
Enquanto investiga, Barcellos descobre um verdadeiro massacre que envolve a polícia militar, a diferença básica entre o caso da Rota 66 e os outros casos de assassinatos cometidos pela polícia é que normalmente a polícia mata jovens negros e de classe baixa, o que não dá tanta repercussão, ou em alguns casos, nenhuma repercussão. Barcellos fala inclusive sobre o modus operandi da PM, que mata quase que indiscriminadamente, e que leva os jovens já mortos para o hospital, alegando que eles estavam vivos durante o transporte.
Mais do que isso, o autor chega à conclusão de que existem vários policiais – ele até cita nomes – que não estão focados em proteger a população, e que não matam porque “precisam” ou por legitima defesa, mas matam por prazer, alguns dos nomes citados em Rota 66 mataram mais de dez pessoas.
Rota 66 se torna mais assustador a cada página, ele começa narrando um suposto acidente, onde a ROTA assassinou três jovens sem saber quem eles eram, passa por intensa pesquisa que nos mostra que o caso da rota 66 não é uma exceção e chega à conclusão de que a polícia está repleta de integrantes sádicos e que uma parcela grande da população não tem segurança por parte de quem deveria protegê-la.
Em função disso, Rota 66 é um livro muito pesado, ele tem descrições bem fortes de assassinatos, torturas e violências. O autor não poupa o leitor e nem deveria, a ideia é escancarar o que está bem na frente dos nossos olhos, mas que muitas vezes, fingimos não ver.
Ainda que a leitura seja difícil pelas descrições muito violentas, Rota 66 é um livro muito necessário, foi na época de seu lançamento e segue sendo, já que pouca coisa mudou, e na realidade, cada dia mais assistimos casos de violência policial.
Rota 66 não é um livro pequeno e como a leitura é pesada, talvez essa leitura não deva ser tão rápida, a obra também tem muita informação, que é difícil absorver de uma vez só.
Com datas, eventos e até nomes, Rota 66 é um livro de muita coragem, que está disposto a denunciar os absurdos e a violência da polícia militar, infelizmente, ele ainda é atual e necessário, talvez sua leitura provoque alguma mudança, pelo menos em quem teve contato com o material.
Título no Brasil: Rota 66
Título original: Rota 66
Autor: Caco Barcellos
Gênero: Não- ficção
Ano de lançamento: 1987
Editora: Record
Número de Páginas: 352
Foto: Fernanda Cavalcanti
Um comentário em “Rota 66, Caco Barcellos”