Adaptações, série

Série: Rota 66: A Polícia que Mata, 2022

Enquanto investiga o assassinato de três jovens de classe média, cometidos pelas Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar – a ROTA -, Caco Barcellos (Humberto Carrão) se depara com uma verdadeira trilha de sangue deixada pela polícia, que atinge principalmente moradores da periferia e homens negros.

Rota 66: A Polícia que Mata é inspirado no livro Rota 66, de Caco Barcellos, que por sua vez, retrata fatos reais.

Tanto a série quanto o livro partem do mesmo princípio e tem como intenção mostrar e denunciar o comportamento violento da polícia de São Paulo. Toda a trama de Rota 66: A Polícia que Mata começa com o assassinato de três jovens de classe média, que a ROTA supôs que fossem bandidos, o caso, claro, causou um reboliço, e chamou a atenção de Barcellos, que passou a investigar não só essa história, como também a atuação da polícia de uma forma geral.

A investigação então, chega a conclusões ainda mais perturbadoras, o que aconteceu na abordagem dos jovens de classe média não foi um erro, mas era sim, praxe, já que a polícia fazia isso com frequência, mas seu alvo eram os jovens negros e de periferia.

Rota 66: A Polícia que Mata parte de uma história real, mas a série em si não usa os mesmos casos que estão presentes no livro, tirando o caso dos jovens de classe média, que aqui tem os nomes trocados. Não é possível saber se os casos que aparecem na série são reais ou se eles foram criados para caberem dentro do formato do roteiro, mas a ideia é a mesma, eles ressaltam a brutalidade policial, que quase sempre atinge a classe baixa. Como a série precisa seguir uma lógica e precisa ser linear faz sentido que as histórias por ela narradas não sejam exatamente iguais as que aparecem no livro.

Essa mudança de tom também pode passar a ideia de que Rota 66: A Polícia que Mata narra, infelizmente, uma história atemporal, já que podemos apontar uma série de casos reais e atuais que seguem os mesmos padrões dos que estão no livro e na série.

Rota 66: A Polícia que Mata se divide entre duas tramas: a investigação de Barcellos, que também acompanha seu parceiro, Sidney (Juan Queiroz) e os policiais, que estão envolvidos com os casos, e a vida pessoal de Barcellos, que acompanha sua relação com o filho e com Luli (Lara Tremouroux), sua namorada, também jornalista.

Um dos pontos mais interessantes da série é que ela se preocupa em narrar pontos de vistas diferentes, inclusive daqueles que em uma história de ficção seriam os vilões. O protagonista é Caco e é através de sua investigação que somos jogados nessa trama, mas Rota 66: A Polícia que Mata também mostra a trama do ponto de vista de Sidney, que procura seu pai desaparecido, de Gilmar (Gabriel Godoy), um dos policias que fazem parte da ROTA e que mata sem pensar duas vezes, de Lunga (Ariclenes Barroso), um sobrevivente de um atentado da polícia, que vive com medo e de Homero (Ailton Graça), chefe dentro da ROTA, mas que tem o filho morto pela própria ROTA e que começa a se questionar sobre sua profissão e sobre tudo que já fez na vida.

A série não tenta arrumar desculpas para esses personagens e nem parece ser essa a intenção, Rota 66: A Polícia que Mata tem um ponto de vista bem claro e aponta dedos sem problemas, como deve ser, mas é interessante que ela se dê ao trabalho de mostrar o ponto de vista dos policiais, ainda que ele não seja nem um pouco agradável. Homero é o único que passa por uma espécie de redenção, mas é pelo caminho pior.

É importante notar que a série de fato é um pouco romanceada, mas que isso não muda a mensagem que ela quer passar e que é a mesma do livro: a polícia mata. Justamente por isso, a atração é importante, já que embora Rota 66: A Polícia que Mata se passe entre as décadas de 70 e 90, a violência policial não diminuiu e todo dia ainda vemos casos muito parecidos com os que são mostrados aqui.

O ritmo de Rota 66: A Polícia que Mata é muito bom, os episódios são dinâmicos e passam rápido, e é quase impossível parar de assistir, a atração realmente prende o telespectador. Para além disso, ela tem um grande elenco, que é muito competente, Humberto Carrão e Ailton Graça se destacam.

Rota 66: A Polícia que Mata não é uma adaptação extremamente fiel, ainda que tenha o mesmo sentido e o mesmo proposito do livro, mas é uma obra que, como o livro que a inspirou, se faz necessária e soa até atual. A série é pesada e perturbadora em alguns momentos, mas é realista e impressiona, deixando claro todo o racismo e toda a violência e brutalidade presentes na instituição que deveria proteger a população.

Título no Brasil: Rota 66: A Polícia que Mata

Título original: Rota 66: A Polícia que Mata

Elenco: Humberto Carrão, Ailton Graça, Naruna Costa, Lara Tremouroux, Adriana Lessa

Gênero: Drama, Policial, Crime

Duração do episódio: 1h

Número de episódios: 8

Ano: 2022

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