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Pessoas Normais, Sally Rooney

“Seria o mundo um lugar tão perverso a ponto de o amor ser indistinguível das formas mais baixas e mais abusivas de violência?”.

Connell e Marianne vivem na mesma cidadezinha na Irlanda e estudam na mesma escola, mas eles nunca se falam lá, Connell é popular e cheio de amigos e Marianne é quieta, não se enturma e é considerada esquisita pelos outros alunos. Mas a mãe de Connell trabalha na casa de Marianne e os dois passam a conversar e mais tarde, começam uma relação intensa, mas que Connell quer que fique escondida.

No ano seguinte, os dois vão para a mesma faculdade e os papeis se trocam, Marianne é popular e tem muitos amigos, enquanto Connell se torna tímido e calado, mas os dois continuam se encontrando e não conseguem evitar a atração. Conforme os anos passam, Connell e Marianne seguem com suas vidas, mesmo sem esquecer um do outro e sempre se unindo quando se encontram.

Quando Marianne começa a tomar caminhos autodestrutivos e Connell se vê em uma forte depressão, os dois precisam decidir que caminho tomar.  

A princípio, Pessoas Normais parece ser um romance comum, até uma comédia romântica, isso porque o livro acompanha dois adolescentes, que se conhecem desde crianças, mas que começam um relacionamento secreto aos dezessete anos. No entanto, logo percebemos que não é bem assim, Pessoa Normais tem um tom melancólico desde o começo, ainda que possa parecer que ele narre um amor ideal e até clichê. Connell é um jovem atleta, muito popular, cheio de amigos, mas que gosta de ler e tem vergonha de contar para os colegas, ele quer estudar literatura, mas acha que não tem chance de arrumar um emprego na área, enquanto Marianne é uma jovem de família rica, quieta, que parece não fazer questão de se enturmar e que parece ter certeza do que quer da vida.

Connell e Marianne não se falam na escola – na verdade, ela não fala com ninguém na escola -, mas a mãe dele é faxineira na casa de Marianne e os dois começam um relacionamento muito intenso, que parece ser ainda mais intenso da parte de Marianne, mas que com o tempo toma conta de Connell também. Ele, no entanto, não quer que ninguém na escola saiba, e ela aceita.

Os dois acabam na mesma faculdade, onde os papeis se invertem: Marianne agora é popular e cheia de amigos, Connell se sente deslocado, acha que as outras pessoas são mais inteligentes e mais ricas que ele, mas ele sempre acaba encontrando Marianne e o relacionamento complicado dos dois é retomado. Pessoas Normais então, acompanha essa relação que vai e volta, mas que nunca vai completamente.

Nesse sentido, Pessoas Normais está bem distante de qualquer relacionamento idealizado, já que a relação de Connell e Marianne é bagunçada e complexa, os dois querem ficar juntos, mas parecem não conseguir. Eles tentam namorar outras pessoas, mas não conseguem esquecer um do outro, tentam ser namorados e não dá certo, tentam ser amigos, mas também não funciona. A relação jamais é abusiva, embora essa questão venha à tona em outras relações do casal, mas nunca consegue ser concretizada.

Outra questão que faz de Pessoas Normais um livro realista são os outros aspectos da trama que aparecem: Marianne vem de uma família rica, mas extremamente violenta, onde ela é ignorada, conforme ela cresce, seu irmão se torna cada vez mais raivoso, mais tarde, ela mesma se coloca em relações nada saudáveis que imitam o que ela vê em casa. Connell vem de uma família da classe trabalhadora, vive só com a mãe, e na fase adulta acaba tomado por uma depressão depois que percebe que a vida é bem diferente da que era no colégio e depois que vê suas crenças serem demolidas uma a uma. Todos esses aspectos da trama deixam a história bem pesada e até triste, mas aproxima esses personagens da vida real.

Mas assim como Connell e Marianne não conseguem ficar longe um do outro, o leitor também não consegue ficar longe do livro e desse casal, queremos saber o que acontece e como, se eles vão ficar juntos, se eles vão superar seus problemas e desafios, e também queremos acompanhar a vida que eles levam longe um do outro e o que a vida reservou para Connell e Marianne.

Pessoas Normais é, por fim, um livro muito bonito, ele não é uma história de amor comum, mas é notável que existe muito amor entre seus dois protagonistas e essa tensão e atração está presente nas páginas do livro. Também existe companheirismo e amizade entre eles, um está sempre presente na vida do outro, nos piores e nos melhores momentos.

Os personagens, que inicialmente até parecem meio clichês, são muito bem escritos e se mostram cada vez mais profundos com o tempo, Connell, Marianne e os personagens coadjuvantes parecem pessoas reais, é como se os ouvíssemos contando suas histórias. E a leitura também é muito prazerosa, Sally Rooney escreve muito bem e tem uma habilidade especial de transformar histórias de pessoas comuns, em tramas grandiosas e bem construídas. É impossível largar Pessoas Normais antes de descobrir o que acontece com Connell e Marianne.

Pessoas Normais narra uma história de amor, mas o faz de maneira realista, sem esconder o ruim e sem idealizar o bom, fugindo de clichês e colocando seus leitores de frente para a realidade e esse é seu grande mérito.

Título no Brasil: Pessoas Normais

Título original: Normal People

Autora: Sally Rooney

Tradução: Débora Landsberg

Gênero: Romance, Contemporâneo

Ano de lançamento: 2018

Editora: Companhia das Letras

Número de Páginas: 264

Foto: Fernanda Cavalcanti

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