Riley McKendry (Odessa A’zion) é uma dependente química em reabilitação, que está vivendo com seu irmão, Matt (Brandon Flynn), o namorado dele, Colin (Adam Faison) e com uma amiga, Nora (Aoife Hinds). Ela é irresponsável, o que irrita Matt, que tenta protegê-la.
Quando uma estranha caixa quebra-cabeça chega as mãos de Riley, ela se dedica a resolução do enigma, sem saber o que é aquilo, mas a caixa, quando se abre, fere Matt e ele é transportado para uma outra dimensão de dor e sofrimento eternos, sem que ninguém saiba.
Riley sai em busca do irmão só para descobrir o terrível mundo dos cenobitas, liderados por Pinhead (Jamie Clayton).

Hellraiser é uma reimaginação do livro Hellraiser- Renascido do Inferno, de Clive Barker.
Nesse novo Hellraiser a trama não é igual ao livro de Barker, ela só tem princípios parecidos e segue a mesma mitologia que o autor criou. O hedonismo e o prazer sem limites ainda são questões, já que a história começa com Roland Voight (Goran Višnjić), um homem que sabe sobre a caixa quebra-cabeça, tentando obter mais prazer com o artefato.
Mas a protagonista de Hellraiser é Riley, uma depende química em recuperação, que agora vive com seu irmão, ele, por sua vez, está sempre preocupado com ela. A caixa quebra-cabeça vai parar na mão de Riley, que se esforça em desvendá-la, mas acaba mandando Matt para o inferno, onde ele vai viver sempre em dor e sofrimento, e enquanto ela sai em busca de Matt, seus amigos também se envolvem na busca.

É interessante que o filme escolha falar de uma jovem que está tentando se livrar da dependência química, porque ainda existe muito preconceito em relação a dependentes químicos, e Riley é perseguida por esses preconceitos: seu irmão, embora seja muito preocupado com ela, não confia totalmente em Riley e está sempre a vigiando, Colin, o namorado dele, não gosta da maneira com que Riley trata Matt e quando Matt desaparece, todos demoram a acreditar no que Riley está dizendo. Os dois também não aprovam a relação casual de Riley com Trevor (Drew Starkey), colega de reabilitação dela.
Mas Riley e Colin são obrigados a se unirem para encontrar Matt, que sumiu sem deixar vestígios, e os dois acabam se tornando amigos.
Diferente do que acontece no livro, Riley cai na história e se vê perseguida pelos cenobitas, sem querer. Na história original de Barker, a protagonista se envolve em uma relação com seu cunhado, que lhe pede que ela leve homens para casa para que ele, o cunhado, possa recuperar seu corpo, atualmente preso no inferno. Riley não topa nada, ela simplesmente precisa participar na expectativa do retorno de Matt.

Hellraiser não é nada fiel ao livro, ainda que trabalhe a mitologia de Barker de maneira correta, mas essa não parece ser a ideia do filme, ele não quer fazer um remake exato de Hellraiser – Renascido do Inferno, o filme de 1987 – que também não é totalmente fiel ao livro -, ele quer apresentar uma história mais moderna e mais atual.
O livro de Barker faz muitas referências ao universo sadomasoquista, que o próprio autor conheceu quando era garoto de programa em Liverpool, e isso fica claro na ideia da busca pelo prazer a qualquer custo, ainda que seja através da dor. Hellraiser tem personagens que são jogados nessa dor eterna sem saber por que, e personagens que topam participar disso por livre e espontânea vontade, como Roland Voight, todos os personagens, no entanto, estão sujeitos a dor. Barker, que é homossexual assumido, conheceu o submundo do sadomasoquismo gay, mas nem o romance e nem o filme original fazem nenhuma referência a isso, embora possamos fazer uma série de interpretações em relação aos temas que o autor escolhe e a possível batalha com sua própria sexualidade – Hellraiser retrata pessoas que vão para o inferno depois de explorarem suas sexualidades e fantasias até o limite -, mas nesse remake temos um casal gay, que não está envolvido voluntariamente na trama, mas que são extremamente relevantes.
O filme também se preocupa bastante com a aparência dos cenobites, que são pontos importantes da história. O mais famoso deles, o Pinhead tem uma aparência bem parecida com a do original e embora não seja uma grande surpresa, se mantém interessante. Os outros cenobites, no entanto, são particularmente assustadores, cada um dele é responsável por um tipo diferente de prática ou tortura e isso se reflete nas suas aparências.

Hellraiser não é especialmente assustador, mas ele é muito aflitivo, ele tem muitas cenas de violência e ainda que saibamos que isso se passa em uma espécie de universo paralelo, que ainda tem consequências no mundo real, as cenas são pesadas e agoniantes. O terror se dá justamente nesse aspecto, e no fato de que esses personagens entram nessa jornada sem saber absolutamente nada.
O filme não é tão bom quanto o texto de Barker, que é perturbador, bizarro e muito a frente de seu tempo, mas Hellraiser é uma boa diversão e prende a atenção.

Também é importante ressaltar a qualidade técnica do filme, que tem ares de grande produção, os cenários são muito bem-feitos, e a casa de Voight é tão bem pensada e tão bizarra que se torna uma das melhores coisas do filme. Os efeitos também são cuidadosos e ajudam demais a história, Odessa A’zion está bem como Riley, outra atuação que chama a atenção é a de Drew Starkey.
Hellraiser moderniza a história já moderna de Barker, mas não consegue se igualar ao material original, ainda assim, o filme é interessante, segura a audiência durante bastante tempo e funciona como um bom entretenimento, dando prioridade a causar aflição – o que Barker faz muito bem – do que assustar o público.
Título no Brasil: Hellraiser
Título original: Hellraiser
Direção: David Bruckner
Gênero: Fantasia, Terror
Ano: 2022
Duração: 2h 01min
Elenco: Odessa A’zion, Jamie Clayton, Brandon Flynn, Goran Višnjić, Drew Starkey
Distribuidora: Hulu