O médico Henry Pride (Bernie Casey) está testando um remédio para curar a cirrose, mas não consegue encontrar alguém para servir de cobaia, e acaba o tomando.
Pride então, se transforma em Hyde, uma criatura terrível que ataca e assassina prostitutas e cafetões.
O Monstro sem Alma é inspirado no livro O Médico e O Monstro, de Robert Louis Stevenson.

O médico e o monstro
O Médico e o Monstro é um livro que já ganhou uma série de adaptações, desde as versões mais clássicas, até as versões que só usam a história como ponto de partida, O Monstro sem Alma é um filme de blaxploitation – um subgênero do cinema, que tem protagonistas negros, que explora a cultura negra e que muitas vezes, fala sobre racismo e discriminação racial -, que usa do potencial do terror para falar sobre questões sociais.
A trama começa de maneira bem parecida com a do livro: o protagonista é um médico, genial e gentil, que quer curar a cirrose, mas que não encontra ninguém para testar seu remédio, ele então, aplica a solução em si mesmo e se transforma em uma criatura realmente monstruosa, que ataca e mata pessoas.
O grande diferencial aqui é que Pride é um homem negro, mas quando ele se transforma em Hyde ele vira uma criatura branca – representado pelo mesmo ator com uma maquiagem exageradamente branca -. A criatura aqui é representada como um monstro, literalmente, e não como um homem mal, que mata pessoas, Hyde em O Monstro sem Alma é uma espécie de Frankenstein.

Para aumentar ainda mais o potencial social do filme, Hyde só mata pessoas negras, em uma espécie de racismo reverso, pelo menos quando ele está transformado. O interessante aqui é que Pride é um homem inteligente, bem-sucedido e conceituado, subvertendo a imagem dos negros que existia no cinema da época, enquanto Hyde, que é branco, é um assassino terrível e voraz.
Blaxploitation
Por isso é fácil constatar que o grande mérito de O Monstro sem Alma é justamente o fato dele ser um filme de blaxploitation, é isso que também torna o filme diferente. O Monstro sem Alma não é totalmente fiel a obra de Stevenson, ele só usa do ponto central da história para desenvolver sua própria trama, por outro lado, histórias universais como O Médico e o Monstro funcionam justamente porque elas se adaptam a qualquer época ou qualquer contexto.
O Monstro sem Alma é um blaxploitation e mais especificamente, é um blaxploitation de terror, um subgênero que ganhou popularidade depois de Blacula, O Vampiro Negro, uma adaptação de Drácula, de Bram Stoker, e que ganhou uma série de outras adaptações, como Blackenstein, e o terror é um gênero que permite falar de questões sociais e preconceitos através de tramas que parecem fantasiosas e absurdas, mas que na realidade não o são.

O longa ganha justamente porque ele faz essa mudança e porque consegue adaptar O Médico e o Monstro para uma trama mais interessante e até mais reflexiva, O Monstro sem Alma é inclusive, um filme diferente até para o subgênero de blaxploitation, que não costuma fazer comentários tão explícitos e que é considerado muito mais um gênero de exploração – ou seja feito para vender -, do que um gênero que quer denunciar preconceitos, embora faça isso, muitas vezes, involuntariamente.
Aspectos técnicos
O Monstro sem Alma é um filme dos anos 70, que em alguns sentidos envelheceu mal, o filme não tem nenhum efeito especial e tudo que acontece se dá através de maquiagem e efeitos manuais. A maquiagem de Hyde, por exemplo, pode soar esquisita, mas tudo faz sentido dentro do contexto do filme.

O longa também tem boas atuações, como a do protagonista Bernie Casey, que interpreta dois papeis bem diferentes e de Rosalind Cash, que faz o papel da assistente dele.
O Monstro sem Alma se sai muito bem no seu roteiro, justamente porque consegue extrair o melhor do livro de Stevenson e trazer para a época em que o filme foi gravado, enquanto analisa o preconceito e o racismo.
Título no Brasil: O Monstro sem Alma
Título original: Dr. Black, Mr. Hyde
Direção: William Crain
Gênero: Comédia, Terror
Ano: 1976
Duração: 1h 27 min
Elenco: Bernie Casey, Rosalind Cash, Marie O’Henry, Ji-Tu Cumbuka, Milt Kogan