Matilda Wormwood (Alisha Weir) é uma menina brilhante, mas solitária, que se distrai lendo e criando histórias. Seus pais (Stephen Graham e Andrea Riseborough) parecem não a suportar e como ela não vai a escola, ela passa seu tempo com Mrs Phelps (Sindhu Vee), a dona da biblioteca itinerante.
Quando Matilda finalmente começa a ir à escola, já com onze anos, ela conhece Miss Honey (Lashana Lynch), uma professora que consegue ver seu potencial, e a terrível Miss Agatha Trunchbull (Emma Thompson), diretora da escola, famosa por torturar as crianças.
Aos poucos Matilda faz amigos e descobre que tem poderes telecinéticos, e junto com seus colegas ela resolve enfrentar a diretora.
Matilda: O Musical é inspirado no musical do West End, que por sua vez é inspirado no livro Matilda, de Roald Dahl.
A origem de Matilda
Matilda, publicado em 1988, é o último livro escrito por Roald Dahl, que morreu em 1990. Dahl é famoso por suas histórias para crianças, como A Fantástica Fábrica de Chocolate, As Bruxas e James e o Pêssego Gigante, as tramas de Dahl são infantis, mas são cheias de aspectos perturbadores, como por exemplo, o sufoco, um cantinho escuro e cheio de espinhos onde Trunchbull coloca as crianças de castigo. Dahl tem uma longa carreira com contos adultos, que flertam com o terror, mas que não é tão famosa assim.
Quando ele escreveu Matilda ele queria falar sobre literatura e é por isso que Matilda, a protagonista, é obcecada com leitura, mas mais do que isso, ela é uma espécie de superdotada, que não vai a escola, mas sabe ler, escrever e fazer contas sozinha, sem ajuda de qualquer adulto. Matilda enfrenta uma série de figuras adultas autoritárias, que ou não ligam para ela, como seus pais, ou estão dispostos a castigá-la, como Trunchbull, e o livro se sai muito bem em mostrar a superioridade das crianças e especialmente da protagonista, que não só é muito inteligente, como também tem telecinesia e pode mover objetos com a sua mente.
Matilda virou filme em 1996, e em 2010 virou um musical, que estreou no West End – a Broadway de Londres – em 2011, Matilda The Musical também chegou na Broadway em 2013. Matilda: O Musical, como o próprio nome deixa claro, é inspirado no musical de 2010.
Diferenças entre as mídias
Naturalmente que é necessário fazer mudanças de uma mídia para a outra e também para a época em que essas obras foram feitas e se passam. Matilda não determina em que período a história se passa e em função disso, e também por seus elementos um tanto quanto fantásticos, é que a trama soa quase como um conto de fadas e em muitos sentidos, atemporal.
No filme novo, Matilda é filha única, enquanto nas outras versões ela tem um irmão mais velho a quem os pais prestam mais atenção, Matilda é vista na sua casa como alguém que passa o tempo todo com o nariz enfiado nos livros, enquanto a mãe, o pai e o irmão estão interessados em tecnologia. O livro, especialmente, demoniza a televisão e dá a entender que a leitura tem muito mais valor que o audiovisual, uma visão do autor, que estava incomodado com o espaço que a televisão vinha ganhando e que os livros vinham perdendo em 1988.
No musical para os palcos, Matilda não é só uma menina apaixonada especificamente por livros, como acontece no livro e no filme de 1996, ela é apaixonada por histórias e os livros, claro, são portais de histórias. Matilda: O Musical segue essa mesma lógica, Matilda não só gosta de histórias e lê constantemente, como ela também cria suas próprias histórias, que ela conta para Mrs Phelps, a sua única amiga durante bastante tempo. Matilda também mente sobre sua relação com os pais e diz que eles sentem muita falta dela, embora eles não liguem para menina.
As histórias de Matilda
Matilda: O Musical se divide entre duas tramas: a de Matilda, claro, que acompanha a menina indo para a escola e fazendo amigos, ao mesmo tempo que descobre a tirania de Trunchbull, e as histórias que Matilda cria e conta, que refletem a trama do filme de maneira quase direta.
A história que perpassa todo o longa é a de dois artistas circenses (Lauren Alexandra e Carl Spencer) apaixonados, que são constantemente ameaçados pela irmã postiça dela (Katherine Kingsley), logo a moça descobre que está grávida e precisa proteger o bebê.
Essa história não só fala com a própria história de vida de Matilda, que espera que seus pais a tratem como os dois artistas circenses pretendem tratar seu bebê ainda não nascido, mas também fala com a história de vida de Miss Honey. Isso está presente no livro e no filme de 1996 de maneira diferente e em Matilda: O Musical funciona como uma forma de unir Matilda e Miss Honey, que são uma espécie de apoio uma para a outra.
As crianças revoltadas
Matilda: O Musical é um filme voltado para as crianças, embora ele funcione também com o público adulto e especialmente com quem assistiu ao filme da década de 90, mas o sentido é dar voz as crianças do longa.
A protagonista é, é claro, Matilda, que funciona como uma espécie de motor para a revolução que está prestes a acontecer na escola, antes dela entrar no colégio, as outras crianças parecem conformadas com a maldade de Trunchbull e com o fato de que eles não aprendem muito na escola. Matilda chega na escola repleta de expectativas, ela adora aprender, mas logo percebe que não é bem assim que funciona, ela mesma fica um pouco conformada.
No entanto, Matilda: O Musical nos dá uma série de cenas de bullying explicito não praticado pelos outros alunos, mas pela diretora, como a cena em que ela roda Amanda Thripp (Winter Jarrett-Glasspool) pelas tranças, ou a clássica cena em que ela obriga Bruce Bogtrotter (Charlie Hodson-Prior) a comer um bolo de chocolate inteiro, só porque ele roubou um pedaço do bolo de chocolate dela, e esses momentos assustam as outras crianças, mas revoltam Matilda.
Matilda parece ser a chance que eles têm de se libertar porque ela é extremamente inteligente e tem telecinesia, mas também porque ela é muito gentil e porque ela se preocupa com justiça e sente empatia pelos outros, para Matilda não é suficiente que ela esteja bem, ela quer que todos estejam bem e que a escola seja um lugar de ensino e de amor. Claro é tudo muito utópico, mas Matilda é uma história para crianças, que tem a intenção de passar mensagens para seu público-alvo.
Aspectos técnicos
A trama de Matilda: O Musical é muito bem pensada, o que devemos creditar não só a Dahl, que criou a história, mas também a quem transformou tudo em musical, já que essa adaptação é inspirada no musical, mas a parte técnica não fica atrás. Matilda: O Musical é uma produção relativamente grande, com cenários bem-feitos e figurinos que funcionam, um grande destaque é a maquiagem de Emma Thompson que interpreta Trunchbull, e que está irreconhecível. Trunchbull é uma ex-arremessadora de pesos e seu corpo é forte e quase masculino, no teatro, normalmente ela é interpretada por um homem, por isso é um desafio dar o papel a uma mulher, ainda mais em um filme, que mostra tudo de perto.
O filme é bem fiel ao musical, e usa as músicas que fazem parte da trilha sonora, que aliais, é ótima. Os números que se destacam são When I Grow Up, que é lindo, Revolting Children e Naughty. Matilda: O Musical é muito legal porque consegue se manter fiel a obra de Dahl e ainda assim, trazer sua própria contribuição para a história.
O elenco é outro ponto alto do filme, as crianças, de uma maneira geral, são ótimas, é preciso destacar que elas atuam, dançam e cantam e são ótimas em tudo. Emma Thompson está muito bem, mas o grande destaque é de Alisha Weir, que interpreta Matilda e que está perfeita no papel, a menina também é muito carismática e é impossível não gostar da protagonista – ainda que seja impossível não gostar de Matilda em nenhuma das versões -.
Matilda: O Musical não parece ter qualquer intenção de substituir o filme de 1996, ele parte de outra mídia e acrescenta camadas a uma trama que já é muito interessante, o filme entende que é impossível vencer da nostalgia, mas ele se propõe a cativar não só uma nova audiência, mas também a antiga de uma maneira nova.
Título no Brasil: Matilda: O Musical
Título original: Roald Dahl’s Matilda the Musical
Direção: Matthew Warchus
Gênero: Fantasia, Comédia, Musical, Família
Ano: 2022
Duração: 1h 57min
Elenco: Alisha Weir, Emma Thompson, Lashana Lynch, Andrea Riseborough, Stephen Graham
Distribuidora: Netflix
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