Adaptações, filmes

Filme: A Filha de Drácula, 1936

O professor Von Helsing (Edward Van Sloan) – escrito com essa grafia mesmo – acabou de matar Drácula e acredita que Londres está livre de todos os vampiros, mas enquanto Von Helsing enfrenta um processo pelo assassinato de Drácula, a condessa Marya Zaleska (Gloria Holden) rouba o corpo de Drácula e o queima.

Pessoas começam a morrer em Londres e os corpos aparecem sem sangue, dando a entender que tem mais um vampiro rondando a cidade, e Mayra procura a ajuda do doutor Jeffrey Garth (Otto Kruger), um psiquiatra, porque ela quer se livrar de uma maldição que a assombra desde o seu nascimento.

A Filha de Drácula é uma continuação de Drácula, filme de 1931, e foi vendido como uma continuação direta da história de Bram Stoker, mas na verdade, ele é inspirado em O hóspede de Drácula, outro conto do autor.

A inspiração real

Depois do sucesso de Drácula, a Universal queria continuar a trama do vampiro no cinema, a questão é que o protagonista, que também é um vilão, tinha morrido no final do filme original. Fugindo da ideia um tanto quanto óbvia de recussitá-lo, a produção resolveu ir atrás de outro conto de Stoker e encontrou O hóspede de Drácula, originalmente um capítulo de Drácula, mas que só foi publicado em 1914, depois da morte do autor. No entanto, a MGM já tinha comprado os direitos do conto e a Universal resolveu que embora o filme fosse se basear na trama do conto, eles iriam usar o título de A Filha de Drácula.

O filme foi vendido como uma continuação de Drácula e começa logo depois que o filme anterior termina, Von Helsing matou Drácula e acredita que Londres está livre de todos os vampiros, mas vários corpos sem sangue começam a aparecer na cidade e logo conhecemos a condessa Marya Zaleska, que se debate com quem ela é e vive em uma espécie de crise de consciência.

A trama é de fato um pouco parecida com o hóspede de Drácula, que também tem uma filha de Drácula que sobreviveu a Van Helsing, mas o longa também toma caminhos muito parecidos com os de Carmilla: A Vampira de Karnstein, de Sheridan Le Fanu, publicado em 1872, ou seja, antes de Drácula, e que narra a história de uma condessa vampira que se apaixona por uma adolescente.

Vampira no divã

A Filha de Drácula é um filme dos anos 30, mas ele tem alguns aspectos bem modernos para a época de seu lançamento. A protagonista e também vilã do longa é Mayra Zaleska, uma condessa vampira, que diferente de Drácula, não aceita bem a sua condição. Ela acredita que queimando o corpo morto de seu pai, Drácula, talvez ela consiga se livrar da maldição de ser uma vampira, mas claro que isso não acontece. Então, ela sai em busca de outra ajuda e chega ao psiquiatra Jeffrey Garth.

A ideia de que Mayra seja uma vampira, mas que diferente de outros personagens que também são vampiros, se sente extremamente culpada por essa condição a ponto de ir a um psiquiatra é muito interessante e muito atual, a sinopse de A Filha de Drácula parece muito mais próxima dos anos 2020, onde tratamentos com psiquiatras e psicólogos não são mais vistos como doença, do que uma trama dos anos 30. É legal que a vampira seja vista por lentes humanas que a deixam mais próxima de nós, Mayra luta com quem ela é, ela precisa se alimentar, mas se sente culpada por isso, ela é muito mais humana do que é vampira, diferente do próprio Drácula.

Por outro lado, existe um lado ruim nesse enredo, se assumimos que Mayra é homossexual, como o filme aponta em todos os minutos, a sua busca por ajuda psiquiátrica para “mudar quem ela é” soa como uma espécie de busca por uma cura gay, e o longa ganha tons homofóbicos.

Subtons LGBTQIA+

A Filha de Drácula tem também um conteúdo LGBTQIA+ que hoje em dia é bem claro, mas que na época do lançamento foi motivo de especulação. Em determinado ponto do longa, Mayra se torna obcecada pela jovem Lili (Nan Grey) e é aí que a trama se torna bem parecida com a de Carmilla: A Vampira de Karnstein.

Para a audiência moderno é óbvio que Mayra está apaixonada por Lili, mas isso nunca é dito explicitamente, o que A Filha de Drácula faz é dar várias pistas sobre a orientação sexual de sua protagonista e sobre o relacionamento dela e de Lili. Uma dessas pistas é o tratamento que ela procura, que claro, sai pela culatra, já que dá a entender que a homossexualidade pode ser curada, ainda que seja interessante interpretar a dificuldade de Mayra aceitar seu vampirismo como uma metáfora para a dificuldade de ela aceitar sua orientação sexual.

Mayra também sai à noite para caçar suas presas, o que é ligado, no filme, a comunidade LGBTQIA+ da época, que também saia à noite em busca de parceiros sexuais, embora isso seja mais relacionado a homossexuais masculinos. Para além disso, a figura do vampiro está sempre ligada a sexualidade ambígua, uma vez que a criatura morde tanto homens quanto mulheres.

Claro que A Filha de Drácula não pode ser considerado um filme de grande representação LGBTQIA+, mesmo porque todo o tratamento que Mayra procura soa homofóbico e porque Mayra, ainda que tentando mudar quem ela é, é retratada como uma predadora e predadora de Lili, como se as mulheres lésbicas fossem obrigatoriamente assediadoras, mas é interessante que o filme percorra esse caminho e de maneira bem consciente.

Aspectos técnicos

A Filha de Drácula é um filme antigo, mas que não envelheceu mal, possivelmente porque eles não usa efeitos de nenhum estilo, tudo é apenas sugerido, e o longa, que é preto e branco, tem um ar de filme noir, que combina demais com a trama. A Filha de Drácula é um filme de terror porque trata de vampiros e porque usa uma das figuras mais famosas da literatura gótica, mas ele também trabalha muito com o suspense.

Seu roteiro é interessante, ainda que tenha alguns erros e problemas da época, e soa muito atual, tanto na questão da sexualidade de Mayra, quanto na ideia de tratar seu vampirismo. O longa não tem muita relação com a história original de Bram Stoker, mas ele se sai bem e não só é um bom entretenimento, como também consegue misturar uma série de histórias de vampiros que aqui, se conectam muito bem.

O elenco também é bom e claro, a protagonista Gloria Holden é ótima, perfeita no papel e lindíssima e sedutora como a condessa Mayra.

A Filha de Drácula é vendido como uma continuação da história de Drácula, mas a trama toma caminhos próprios que são tão interessantes quanto a trama de Stoker, e o filme é capaz de criar uma trama para além do que já existia antes.

Título no Brasil: A Filha de Drácula

Título original: Dracula’s Daughter

Direção: Lambert Hillyer

Gênero: Terror, Drama

Ano: 1936

Duração: 1h 11min

Elenco: Otto Kruger, Gloria Holden, Edward Van Sloan, Irving Pichel, Hedda Hopper

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