Ambientada nos anos 1930, Sra. Klein acompanha a psicanalista Melanie Klein (Ana Beatriz Nogueira), que lida com a perda de seu filho, Hans, quando recebe a visita de sua filha, Melitta (Fernanda Vasconcellos).

A relação das duas, que é complicada, então, se desenvolve, enquanto Paula (Kika Kalache), discípula de Melanie e amiga de Melitta, invariavelmente estimula os problemas entre as duas.

A trama

Sra. Klein é uma peça escrita por Nicholas Wright, mas retrata pessoas que de fato, existiram, Melanie Klein por exemplo, foi uma psicanalista e sua filha, Melitta, tinha a mesma profissão. O que acontece na peça, no entanto, tem elementos de ficção.

Quando Sra. Klein começa não sabemos quase nada sobre esses personagens, o que vemos em cena é Melanie, que está aparentemente deixando sua casa, e pede que sua discipula, Paula, que irá revisar um de seus textos, também cuide da casa. Mais tarde, ficamos sabendo que Melanie está indo para o velório de seu filho, Hans. Ela também recebeu uma carta da filha, Melitta, que ela se recusa a abrir.

Depois a própria Melitta aparece em cena, ela não encontra a mãe e sim, Paula, que está revisando o texto e cuidando da casa. Melitta pergunta se sua mãe leu a sua carta, ela diz a Paula que na carta ela aventa a possibilidade de Hans ter se matado e não ter morrido de maneira acidental. Mas boa parte da peça acontece quando Melanie volta para casa e encontra Melitta e Paula conversando. É a partir daí que as questões envolvendo a relação das duas vem à tona.

Relação de mãe e filha

Sra. Klein, na realidade, mostra a relação de Melanie e Melitta, que é complexa. Primeiro de tudo, porque relações entre mães e filhas sempre são complexas, mas também porque a relação dessas duas mulheres parece ser ainda mais complicada do que qualquer outra relação.

A peça ainda coloca outros elementos em cena, como por exemplo, a presença de Paula, que querendo ou não, aumenta esse distanciamento entre mãe e filha, porque Paula é uma discipula de Melanie, que quer ser aceita como paciente da mulher e que se coloca, em vários, momentos no papel de filha, e como Paula é uma discipula de Melanie, ela, diferente de Melitta, raramente questiona a mulher, portanto a relação das duas é melhor.

Além disso, existe quase um espelho entre essa mãe e filha, porque Melitta também é psicanalista, e não consegue evitar as comparações com a mãe, que é uma psicanalista famosa, que já até publicou livros. Melitta tem também magoas da mãe, da época em que ela e seu irmão, Hans, eram crianças, na concepção dela, Melanie sempre tratou os filhos como estudos, e não exatamente como filhos.

Outro fantasma que paira no ar é Hans, morto recentemente, em uma situação estranha. Melanie não quer falar sobre o assunto, o que parece natural, ela nem parece uma mãe de luto, mas a audiência percebe que ela está evitando pensar no assunto para não sofrer a perda de Hans, Melitta, no entanto, acredita que Hans se matou, e ela apresenta a sua teoria no palco. Essa é uma ideia que, naturalmente, enfurece Melanie, ela não consegue nem pensar nessa possiblidade. No entanto, todas essas questões só se somam ao grande cenário de Sra. Klein, já que o foco aqui são Melanie e Melitta, que vão colocar suas mágoas para fora durante a produção.

A montagem

É curioso notar que a montagem de Sra. Klein é relativamente simples, o que difere do conteúdo do texto, que é muito complexo. O palco consiste em um fundo preto, com várias cadeiras, que representam a sala de Melanie, o elenco é composto por Ana Beatriz Nogueira, Fernanda Vasconcellos e Kika Kalache, e de fato, não é preciso mais nada. O palco é mais que suficiente e a trama toda se desenrola entre essas três mulheres, o forte aqui é o texto.

Claro que o elenco também é muito importante, são as atrizes, afinal de contas, que entregam o texto e que dão corpo as personagens e todas elas se saem bem em cena, o destaque maior é de Ana Beatriz Nogueira, que é a protagonista e que tem as falas mais fortes. Sua personagem também passa por várias mudanças durante Sra. Klein que dizem respeito a relação com Melitta e a morte do filho.

O texto de Sra. Klein é muito complexo, ele é cheio de insinuações e nem sempre é possível entender tudo que as personagens dizem, estamos lidando aqui com três psicanalistas, que passam boa parte da peça analisando uma as outras, muitas coisas, aliais, nem são ditas. Quem conhece um pouco sobre as pessoas reais que inspiraram a peça, possivelmente vai chegar na peça com mais informação e vai compreender tudo de forma mais completa, e em alguns momentos, a peça pode se tornar pouco dinâmica, porque ela consiste basicamente em falas, mas é impossível dizer que Sra. Klein não é um grande trabalho, não só de roteiro, mas também de produção e de atuações.

Sra, Klein é uma peça que vai agradar quem se interessa por psicologia, mas ela trata de temas universais e atemporais, porque fala de relações familiares, um tema com o qual qualquer pessoa pode se reconhecer, e esse é o grande mérito do texto: igualar o telespectador e os personagens,

Sra. Klein está em cartaz no Teatro Bravos, aos sábados e domingos, até o dia 30 de junho.

Título: Sra. Klein

Texto: Nicholas Wright

Tradução e Adaptação: Thereza Falcão

Direção: Victor Garcia Peralta

Elenco: Ana Beatriz Nogueira, Fernanda Vasconcellos, Kika Kalache

Gênero: Drama

Duração: 1h 30min

Link para compra: https://bileto.sympla.com.br/event/91738/d/243894

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