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Rastro de Sangue: Jack, o Estripador, Kerri Maniscalco

“Os limites entre o certo e o errado eram menos nítidos quando um ente querido estava envolvido”.

Audrey Rose é uma jovem da era vitoriana, que, escondida do seu pai, realiza autópsias com seu tio, Jonathan Wadsworth. Ela vê em primeira mão, portanto, a chegada da primeira vítima de Jack, o Estripador.

Revoltada com os crimes, Audrey resolve fazer justiça pelas mulheres que o assassino vem matando e enquanto tenta escapar do conservadorismo do seu pai e dos homens que a rodeiam, ela e Thomas Cresswell, o ajudante de Jonathan, vão investigar até descobrirem e impedirem Jack, o Estripador.

A primeira coisa que é preciso dizer sobre Rastro de Sangue: Jack, o Estripador é que embora ele use de personagens reais, como o próprio Estripador, e de vários eventos reais, ele é um livro ficcional.

Aqui acompanhamos Audrey Rose, uma jovem de dezoito anos, que quer estudar medicina, mas não pode porque na era vitoriana, as mulheres não estudavam e seu pai não aceita muito bem as vontades de Audrey. Ela, no entanto, participa de autópsias com seu tio, Jonathan.

É assim que ela entra em contato com os crimes do Estripador – que ainda não é conhecido por esse nome na época -. Os corpos machucados, brutalizados e em alguns casos sem alguns dos órgãos internos, deixam Audrey, que é um jovem forte e que não costuma se incomodar com cadáveres, chocada e assustada. Ela e o ajudante de seu tio, Thomas, resolvem investigar esse mistério que ronda Londres.

O caso de Jack, o Estripador permite que se crie em cima dele, uma vez que ele nunca foi oficialmente desvendado, aqui a ideia é bem parecida com a do romance Dália Negra, de James Ellroy, que também usa um caso real, sem solução, e alguns eventos reais para apresentar uma trama ficcional, com vários personagens ficcionais. Rastro de Sangue: Jack, o Estripador tem uma finalização, que não é real – pelo menos até onde se sabe, já que o caso nunca foi desvendado -, por isso não pode ser considerado um livro sobre crime real.

Mas a ideia é justamente chamar a atenção para o caso do Estripador, que é seguramente o serial killer mais famoso da história e naturalmente, atrair quem se interessa pelo assunto. No entanto, é bom entrar na leitura sabendo que Rastro de Sangue: Jack, o Estripador não tem muita informação real, a autora usa sim de vários acontecimentos reais e segue uma linha do tempo relativamente verdadeira, mas ela mesma assume nos agradecimentos que fez algumas mudanças para que a história coubesse melhor na trama do seu livro.

E isso não é de maneira alguma um problema, Rastro de Sangue: Jack, o Estripador é um livro de ficção, que em momento algum diz que vai narrar o caso real e a partir disso subtende-se que Maniscalco está usando da figura do Estripador que hoje já é quase ficcional e não a pessoa real, da qual não conhecemos nem o rosto.

O Estripador aqui é apenas um estimulo para a trama de Audrey. Audrey é uma personagem interessante, ele é uma jovem que viva na era vitoriana e que deseja se tornar médica, ela estuda, lê e eventualmente vai as aulas de seu tio, vestida como homem, mas também é legal notar que ela não é descrita como uma mulher masculinizada. O que acontece aqui é exatamente o contrário, Audrey é feminina, usa vestidos cheio de babados e embora admita que não é muito boa com penteados, se preocupa com essas questões que geralmente são relacionadas a personagens femininas e especialmente, a personagens femininas frágeis, donzelas típicas. O interessante da criação da personagem Audrey é que ela é feminina e poderia se enquadrar tranquilamente dentro do clichê da donzela indefesa, mas ela não é uma donzela indefesa, em determinado momento, ela é, inclusive, comparada com uma rosa – como o seu segundo nome Rose -, que é delicada, mas também tem espinhos.

O livro também não estimula a rivalidade feminina. Em determinado momento, conhecemos a prima de Audrey, que diferente dela, quer se casar e formar uma família, a tendência natural do leitor é achar que essa personagem vai julgar Audrey, como boa parte dos personagens masculinos fazem, mas ela não o faz. Audrey compreende que sua prima tem sonhos diferentes do dela e a prima compreende que Audrey também não quer a mesma coisa que ela, as duas entendem que as aspirações delas são validas e não merecem nenhum julgamento.

É óbvio, portanto, que Rastro de Sangue: Jack, o Estripador tem um pano de fundo feminista, não só por sua personagem principal e pelas outras mulheres que estão presentes na trama, mas também porque ele acompanha o caso de Jack, o Estripador, que matava, de forma cruel, mulheres. Como ele nunca foi descoberto, é impossível entender qual era a “lógica” por trás de seus crimes, mas especula-se que ele matava prostituas por sexismo, embora é claro, posa-se supor que ele matava prostitutas porque essas mulheres estavam na rua altas horas da noite, sairiam de maneira tranquila com qualquer estranho e levaria mais tempo para que dessem pela falta dessas mulheres, o preconceito também poderia dificultar a investigação, o que implica na possibilidade do serial killer não ter ódio de prostitutas, mas sim, do gênero feminino de maneira geral e ter escolhido prostitutas simplesmente porque elas eram – e ainda são – os alvos mais fáceis.

É o fato de Jack, o Estripador matar mulheres que deixa Audrey especialmente revoltada. Outro ponto interessante de sua personalidade é que, diferente de boa parte dos personagens, ela não julga as prostitutas e pensa que elas têm o mesmo direito de viver do que qualquer pessoa, e enquanto nem todo mundo parece disposto a buscar justiça por essas mulheres, Audrey está.

Rastro de Sangue: Jack, o Estripador no entanto, é um livro bobinho, que não empolga muito. É óbvio que a autora tem boas ideias e boas intenções, mas isso não aparece tanto assim no livro. Rastro de Sangue: Jack, o Estripador é lento e um pouco arrastado, e a trama, mesmo pensando no fato de que ela é uma ficção, não é nada realista.

A relação de Audrey e Thomas, por exemplo, começa como uma implicância mutua e qualquer pessoa que já leu bastante ou assistiu bastante filmes, percebe que mais tarde, eles vão se apaixonar e não tem nenhum problema em usar esse clichê, já que muitas vezes, clichês funcionam, mas aqui tudo acontece de repente. Em uma página eles se odeiam e na outra, já estão apaixonados, por isso é difícil comprar e torcer pelo casal.

A leitura então, se torna lenta e parada, o que é um problema. É sempre bom manter em mente que o público alvo de Rastro de Sangue: Jack, o Estripador é o público jovem e por isso, parece natural que o livro vá agradar muito mais essa faixa etária, mas ele dificilmente vai agradar quem se interessa por crimes reais ou pelo gênero do suspense e do policial.

Título no Brasil: Rastro de Sangue: Jack, o Estripador

Título original: Stalking Jack the Ripper

Autora: Kerri Maniscalco

Tradução: Ana Death Duarte

Gênero: Mistério, Young Adult, Terror

Ano de lançamento: 2016

Editora: DarkSide Books

Número de Páginas: 354

Foto: Fernanda Cavalcanti

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