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Todo Dia a Mesma Noite, Daniela Arbex

“- Não sinto mais vontade de fazer as cosias que fazia antes. Não perdi ninguém próximo, mas sinto que perdi alguém”

Na madrugada de 27 de janeiro de 2013, a boate Kiss localizada em Santa Maria, pegou fogo depois que um rojão foi disparado dentro do local e atingiu o teto, que não era a prova de chamas. Os clientes da boate, em sua maioria jovens, tentaram sair do local, mas no começo foram impedidos pelos funcionários, que exigiam que eles pagassem suas comandas.

Na confusão, algumas pessoas caíram no chão e foram pisoteadas, outras se perderam de amigos, e a grande maioria ficou presa no local, algumas se alojaram no banheiro, achando que lá estariam mais seguros, a fumaça que advinha do material do teto, no entanto, era altamente tóxica, por isso, nem mesmo quem conseguiu sair do local rapidamente, passaria ileso ao acontecido.

242 pessoas morreram no desastre da boate Kiss e esse livro entra em contato com alguns dos sobreviventes, funcionários e familiares das vítimas, que contam suas histórias e as histórias das vidas interrompidas pelo acontecido.

O incêndio na boate Kiss foi muito comentado na época de seu acontecimento, e por isso, existe uma sensação de que já se sabe tudo sobre o assunto, Todo Dia a Mesma Noite tem a intenção de desmitificar isso. Aqui, a Jornalista Daniela Arbex conversou com pessoas que foram afetadas pela tragédia, de uma forma ou de outra, e mostra as vidas por trás dos números.

A grande maioria dos entrevistados são pais e mães de vítimas, Daniela conta um pouco da história dessas famílias, e depois explica como que os filhos foram parar na boate Kiss, passa pela descoberta dos pais quando a boate pegou fogo e a busca deles pelos seus filhos, que na maioria dos casos, não sobreviveram. O fim já é previsto pelo leitor, mas é interessante acompanhar a jornada, ainda que muito triste, mesmo porque existem alguns casos citados onde os jovens procurados conseguiram sair da boate com vida, mas morreram no hospital.

Daniela descreve poucos casos de sobreviventes, um deles, que ganha bastante destaque, é protagonista de uma história horrível, que envolve escapar da boate com vida, mas perceber os braços completamente queimados e então, acabar em um hospital, onde precisou ser entubado.

Claro que nenhuma história narrada por Daniela no livro é fácil de se ler, a grande maioria delas é triste, pesada e o leitor consegue sentir todo o pesar dos familiares que precisam procurar seus filhos só para constatar que eles já estão mortos, mas Todo Dia a Mesma Noite coloca o leitor dentro dessas famílias e dá rosto as vítimas que antes eram só números.

É preciso, no entanto, muito estômago para a leitura, já que o livro tem detalhes muito específicos e quase sempre difíceis.  

Uma coisa bem interessante em Todo Dia a Mesma Noite é o fato de que Daniela não se aprofunda tanto nos detalhes sobre o que aconteceu naquele dia, ela fala claro, sobre o rojão que foi disparado na boate, sobre tudo que deu errado e sobre as várias ilegalidades que aconteciam dentro da Kiss, mas esses são elementos que estão presentes em boa parte das reportagens sobre o assunto e que por isso, já são de conhecimento do público, parece ser mais importante para a autora falar sobre cada vida e como a tragédia afetou toda a cidade e criou várias pequenas tragédias.

A leitura de Todo Dia a Mesma Noite é rápida e o livro é curto, mas não é fácil, não é que a maneira com que Daniela escreva seja desagradável ou complicada – ela escreve muito bem e de maneira bem clara e direta -, o assunto é desagradável e muito triste, por isso, a leitura pode se tornar pesada.

Por outro lado, Todo Dia a Mesma Noite se faz um livro necessário, não só para quem se lembra do acontecimento, mas também para quem não sabe muito sobre o assunto, afinal, a tragédia da boate Kiss é um evento que precisa ser conhecido para que nunca mais seja repetido.

Título no Brasil: Todo Dia a Mesma Noite

Título original: Todo Dia a Mesma Noite

Autora: Daniela Arbex

Gênero: Não ficção

Ano de lançamento: 2018

Editora: Intrínseca

Número de Páginas: 248

Foto: Fernanda Cavalcanti

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