“A verdade e a justiça nunca andaram de braços dados. Principalmente no Brasil”

Verônica Torres é uma escrivã da polícia, que divide seu tempo entre o trabalho e a vida em família. Um dia na delegacia, ela testemunha uma mulher se jogar da janela e logo depois, recebe a ligação de Janete, que diz que seu marido mata mulheres e que também quer matá-la.

Sem avisar seu chefe, Verônica decide investigar por contra própria os dois casos e se envolve em duas investigações complicadas e perigosas.

Bom Dia, Verônica é um livro de suspense policial brasileiro e ele não deve em nada para livros do gênero de fora. O fato dele ser brasileiro é a primeira coisa que deve ser ressaltada: o livro fala diretamente com a nossa cultura e por isso, fala diretamente com o leitor do Brasil. Existem uma série de referências, que só fazem sentido para o público brasileiro, e isso é ótimo.

Essa questão pode ser vista até na maneira com que a polícia dentro do livro funciona até a pequenos detalhes, como quando os personagens falam da Sessão da Tarde e do Domingão do Faustão. Isso é muito legal, porque é muito interessante poder se ver dentro de um livro do gênero, e poder ler um livro de suspense nos nossos moldes.

A trama de Bom Dia, Verônica é bem interessante. Acompanhamos Verônica, uma escrivã da polícia, que tem potencial para muito mais, mas que nunca consegue mostrar isso. No entanto, quando Marta, uma mulher que buscou ajuda do delegado, mas não obteve nenhuma, se mata na frente de Verônica, ela fica interessada pelo caso e vai atrás de mais informações.

No mesmo dia, ela recebe a ligação de uma mulher que diz que seu marido é um serial killer e Verônica mantém essa linha em aberto também. Ela vê nos dois casos uma chance de finalmente provar o seu valor, mas também é uma investigadora nata e não consegue esquecer as duas mulheres.

Verônica então se vê de frente a dois casos que envolvem ataques diretos a outras mulheres: O de Marta, que antes de se matar, foi vítima de um sedutor, que roubou tudo que ela tinha e o de Janete, que diz que seu marido é um assassino de mulheres e que ela mesma corre perigo.

O livro é dividido entre capítulos, escritos em primeira pessoa, que acompanham Verônica e capítulos, escritos em terceira pessoa, que acompanham Janete. Portanto, boa parte da questão que circunda o caso de Janete já fica claro para o leitor conforme ele vai lendo o livro, nós sabemos vários dos segredos de Brandão, o marido de Janete, embora não tenhamos acesso ao que sua esposa não sabe, por exemplo, mas não dependemos da investigação de Verônica para isso.

O caso de Martha, por sua vez, depende totalmente da investigação de Verônica e por isso, acompanhamos cada passo que ela dá em relação a isso.

O narrador de Janete é um pouco mais interessante, primeiro porque ela está na linha de fogo, convivendo diariamente com Brandão, mas também porque a voz de Verônica é um pouco mais chata mesmo. As partes de Janete também são um pouco mais naturais e mais realistas, as de Verônica, algumas vezes, soam exageradas e muito próximas a filmes de ação americanos.

Outro ponto interessante do livro é que Verônica, além de ser escrivã e de estar envolvida em duas investigações, também é uma mulher casada e mãe de dois filhos e esses são assuntos que entram na trama, o que raramente acontece quando acompanhamos um detetive que é homem. Então, algumas vezes, Verônica se vê envolvida com questões da casa ou dos filhos, durante a investigação e o leitor acompanha enquanto ela faz malabarismos para lidar com todos os aspectos da sua vida. É verdade que Verônica não é a mãe mais dedicada de todas, mas Bom Dia, Verônica, pelo menos joga essa pista sobre a dificuldade de se ter uma carreira e uma família, especialmente quando se é mulher.  

A personalidade de Verônica também é intrigante. Ela não é perfeita e nem exatamente, modelo, o que torna ela, realista. Ela comete erros, com frequência, tanto na vida profissional, quanto pessoal, ela mantém casos extraconjugais e eventualmente esquece que precisa buscar os filhos, em muitos momentos, ela também está disposta a passar por cima de leis para conseguir o que quer.

Tudo isso faz com que ela lembre muito os personagens masculinos de livros e filmes noir, que são os mocinhos, mas que tem os seus defeitos e que passam longe do comportamento ideal. Verônica é exatamente assim: ela não é uma mãe extremamente dedicada e nem a melhor esposa do mundo, mas ela é determinada e feroz, e por isso, quer resolver os casos de Marta e Janete. É ótimo que a gente tenha essa protagonista, que se comporta dessa maneira, que geralmente está ligada a personagens masculinos.

A parte do suspense é sem dúvida nenhuma bem interessante. Tanto o caso de Marta, quanto o de Janete prendem o leitor e tem um certo embasamento no real, embora os casos sejam um pouco exagerados. O exagero é uma questão que acompanha o livro, mas que não é exatamente um problema. Para quem tem conhecimento de casos reais parecidos com os retratados, vai ficar claro que tudo na trama é bem mais forte e mais violento, mas uma vez que estamos lendo ficção e que a ideia de um livro de suspense é justamente trazer uma trama bem chocante, com bastante sangue, e com uma investigação intricada, o livro se sai bem.

Um problema de Bom Dia, Verônica, no entanto, é que as situações se resolvem de maneira muito fácil. A investigação da protagonista é bem escrita e soa real, mas alguns momentos, especialmente os que envolvem crime e violência, parecem se resolver de maneira muito rápida e muito simples, quando esses momentos deveriam ser mais dramáticos.

De uma maneira geral, Bom Dia, Verônica é um bom livro de investigação, que traz uma trama interessante e que situa tudo isso no Brasil, o que com certeza, é uma novidade.

A edição é da DarkSide Books que como sempre fez um bom trabalho. Eu li a segunda edição que já vem com o nome dos dois autores na capa – o livro foi publicado anteriormente com o pseudônimo de Andrea Killmore – que é linda. A capa é dura e dentro do livro temos algumas ilustrações e fica claro que tudo foi feito com muito cuidado.

Bom Dia, Verônica tem alguns defeitos, como é natural, mas o saldo é positivo, uma vez que apresenta uma trama que prende o leitor e que o livro todo se passa no Brasil e usa e abusa da nossa cultura, o que é ótimo.

Título no Brasil: Bom Dia, Verônica

Título original: Bom Dia, Verônica

Autora: Ilana Casoy e Raphael Montes

Gênero: Suspense, policial

Ano de lançamento: 2016

Editora: DarkSide Books

Número de Páginas: 256

Fotos: Fernanda Cavalcanti

4 respostas para “Bom dia, Verônica, Ilana Casoy e Raphael Montes”.

  1. […] Bom Dia, Verônica (2016) Ilana Casoy e Raphael Montes: Verônica é uma escrivã de polícia que deseja provar seu talento. […]

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  2. […] Dia, Verônica é inspirada no livro de mesmo nome de Ilana Casoy e Raphael […]

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  3. […] segunda temporada de Bom dia, Verônica usa de vários personagens do livro de mesmo nome, de Raphael Montes e Ilana […]

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